A literatura policial na Alemanha

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Qual a primeira associação que você faz quando pensa na Alemanha? Um prato de chucrute, as peças de Bach e Beethoven, a Oktoberfest, o ‘kaiser’ Beckenbauer, apfelstrudel (hmmm!!), o anjo azul Dietrich, Schuma pé de vento, a filosofia de Nietzsche, o muro de Berlim?

Escolha qualquer símbolo e um deles certamente será reverenciado no planeta. O país de 1300 cervejarias não tem a metade dos habitantes que temos em solo brasileiro (são cerca de 80 milhões lá, segundo dados de 2010), mas acumula história de sobra: há registros documentados da região da Germânia feitos pelo povo romano que datam de 100D.C. A Alemanha é terra de poetas e pensadores, berço de incontáveis gênios da humanidade. Mas o que se pode dizer de sua literatura policial?

 

DETEKTIVROMAN

A literatura do crime nasceu na Alemanha, assim como na França, dos relatos de crimes verdadeiros que aconteciam naquelas belas e truculentas vielas floridas. Uma das primeiras séries foi publicada em 1747, por Der Pitaval, tradução coloquial do francês F. Guyot de Pitaval e de suas Causes célèbres et interessantes. As histórias atraíram a atenção do filósofo Schiller, que deixou sua contribuição para o gênero no século 18 – com um conto inacabado sobre o desenrolar de um crime – chamado Der Geisterseher (1787).
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E. T. A. Hoffmann, com Das Fräulein von Scuderi, em 1819 (autor do conto “O Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongo”, inspiração para o balé ”O Quebra-Nozes”, de Tchaikovsky), e Theodor Fontane, importante nome do realismo alemão, com Unterm Birnbaum (1885) também contribuíram para o gênero no país.

Alguns pesquisadores até argumentam que Hoffman foi uma importante influência para ninguém menos que Edgar Allan Poe, pai da literatura policial moderna desde 1841. Efetivamente e para ser objetiva, estudiosos apontam que a primeiríssima história de detetive na Alemanha foi “Der Kaliber”, publicada pelo poeta e dramaturgo Adolf Müllner justamente no ano de sua morte, 1829.

DETETIVES ALEMÃES

O primeiro destaque é para o detetive, que aparece em Detektiv Dagobert Taten und Abenteuer (1910) e outros pequenos contos de um Anton Philipp Reclam. Então surge Friedrich Glauser, suíço que publicou romances policiais bem sucedidos em alemão na década de 1930 (ok, ele era suíço mas fez tanto sucesso na Alemanha que propriamente entrou para a história da literatura policial deles).

Seu detetive era um tal de Sargento Studer, protagonista de cinco livros traduzidos para uma pá de idiomas. Foi tão importante que o maior prêmio literário da Alemanha para autores policiais é uma homenagem a ele, o “The Friedrich Glauser Prize”.

Mais recentemente, há Bernie Gunther, o sarcástico ex-policial e ex-sargento de guerra que ganha o pão de cada dia como detetive particular numa Berlim ‘noir’ da década de 1930. Ele aparece em sete suspenses históricos do britânico Philip Kerr, o primeiro deles em 1989, e costuma resolver casos sombrios de espionagem, assassinato, resgatar pessoas desaparecidas e perseguir bandidos pela Europa. Kerr ambientou as tramas na atmosfera tensa da Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria, apostando em descrições minuciosas e detalhes históricos.

 

SÉCULO 21, ERA DOS POLICIAIS E DA JUSTIÇA

Existe uma tendência em reunir procedimentos policiais e a busca pela justiça na arquitetura das tramas policiais alemãs. Entre autores que se destacam (ram) mais recentemente, estão Jakob Arjouni, criador do turco naturalizado alemão Kemal Kayankaya, detetive atuante em Frankfurt. Seus quatro livros com Kemal abordam temas como racismo, guerra, imigração e crime organizado. Infelizmente Arjouni morreu precocemente em 2013, aos 48 anos, de câncer no pâncreas, mas seus livros foram traduzidos para dez idiomas e ele foi bem reconhecido com vários prêmios ainda em vida. O outro destaque vai para Pieke Biermann, autora popularmente chamada de “Rainha do Crime na Alemanha” (oi Agatha?), criadora da policial Karin Lietze e que, dizem, deixa as tramas de Patricia Cornwell no chinelo. E aí, gostou?

Outros nomes: Ingrid Noll, Doris Gercke, Zoran Drvenkar, Thea Dorn, Irene Rodrian, Sabine Deitmer, Hansjörg Schneider, Malachy Hyde.

 

LEITURA INDICADA

Título: A senhorita de Scuderi
Autor: E.T.A. Hoffman
Tradução: Marcelo Backes
Páginas: 144
Editora: Civilização Brasileira
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SINOPSE – A senhorita de Scuderi, considerada a primeira novela policial da história da literatura alemã, é o título que abre a coleção Fanfarrões, libertinas e outros heróis, organizada por Marcelo Backes, que também assina a tradução desta obra de E. T. A. Hoffmann. O escritor brasileiro também é responsável pelo glossário que consta na publicação, pelo posfácio e pela cronologia resumida da vida do autor germânico.Este texto surgiu como obra autônoma, em 1820, e mais tarde foi publicado no terceiro volume – são quatro, ao todo – de Os irmãos Serapião, o Decamerão. A história gira em torno de um punhado de amigos que se encontram no dia de São Serapião e, interessados todos por questões artísticas, contam histórias uns aos outros e as comentam em seguida. A senhorita de Scuderi é contada por Sylvester, que diz ter se aproveitado da Crônica da cidade de Nurembergue (Chronik der Stadt Nürnberg), de Johann Christoph Wagenseil, para caracterizar sua personagem-título. A cidade de Paris nos anos de 1680 é o cenário da trama. Uma sonora visita noturna, devida a circunstâncias desvendadas aos poucos, leva a senhorita de Scuderi, famosa escritora com adiantados 73 anos e incontáveis obras, a investigar uma série de crimes. As vítimas são sempre homens da nobreza que levam joias de presente a suas amantes. Antes de realizar seu intento, eles são mortos com uma punhalada – e as joias desaparecem. Em uma sufocante Paris que se revolve nas trevas do crime, cheia de castelos, aposentos e carruagens, perucas, pós e paetês, a narrativa vai se desenrolando aos poucos em meio a flashbacks e histórias paralelas. As revelações são surpreendentes em uma trama de estilo vertiginoso.


(Fontes: Oficial Philip Kerr
Bernie GuntherMystery Auf DeutschKriminalgeschichteCrime Fiction Awards)

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