Um Passo Atrás, de Henning Mankell

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UM LIVRO INSTIGANTE, DE TIRAR O FÔLEGO – Se era pra deixar-nos sem respiração, acompanhar a dificuldade de Kurt Wallander de lidar com a sua nova condição médica – o diabetes – e sofrermos junto numa caçada de 500 páginas atrás de um assassino em série, Mankell conseguiu direitinho!

Pra começar, eu não estava muito empolgada com a capa do livro e só um pouquinho com o título. Mas Mankell sempre merece ser lido e – no meu caso – se tiver o inspetor Wallander então, ponto extra! Valeu a história e o nervoso que a gente passa, página por página, nas tentativas sem sucesso de ele entender o que é dito, em parte pelo cansaço causado pela doença e parte pelo cansaço de todos em procurar um lunático diuturnamente.

Mas o autor – falecido há cerca de um ano – nos pega pela mão e deixa pedrinhas brilhantes como dicas – não migalhas de pão que os passarinhos comem – e nos mostra todas as cartas que ele quer que vejamos e que Wallander e a polícia de Ystad não conseguem enxergar, mesmo que esteja diante de seu nariz! É claro que esse é o efeito que ele quer causar e a gente permite que seja desse jeito. E é por isso que o livro se chama Um Passo Atrás.

A crítica à sociedade sueca do final dos anos 1990 (o livro se passa em 1996 e foi escrito em 1997) nos faz pensar que, às vezes, Mankell fala do Brasil, como no trecho:

 

“Nos últimos anos, a Suécia assistia ao aparecimento de novos grupos de vigilantes, como a Guarda Civil. Wallander temia essa tendência. Quando o sistema judicial para de funcionar, a mentalidade de linchamento das massas toma conta. Fazer justiça com as próprias mãos acaba virando um ato normal”.

 

Wallander também se impõe em relação a uma declaração de um colega sobre homossexualidade, que deixa claro como o autor também pensa sobre este mesmo assunto, mesmo ainda chamando de preferências.

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“É um absurdo, nos dias de hoje, considerar a homossexualidade um ‘desvio’. Talvez nos anos 1950, mas não agora. O fato de as pessoas ainda esconderem suas preferências sexuais é outra questão”.

 
Alguns tópicos ficaram sem explicação, mas nada que comprometa a história… são coisas a se pensar, somente – só não vou comentar aqui, vou deixar para a leitura de cada um. Achei o final meio lento e sem graça (além de um tanto sem pé nem cabeça), dada a narrativa rápida durante as primeiras quatrocentas e tantas páginas. Parece que o autor já estava tão cansado quanto seu personagem. Mas ainda assim, merece meu respeito. Os autores suecos que li até hoje são críticos contumazes e nos dão um perfil mais humano e realista daquela sociedade que, em geral, tendemos a exaltar como modelo. Esquecemos que ela tem problemas como todas as outras, mesmo que o ponto de vista seja outro.

No geral o livro é muito bom, com momentos muito tensos (se eu estivesse no lugar dele, já teria caído fora há muito tempo!) e nenhuma cena leve, de comédia ou amor. Ao contrário, o clima é de dureza o tempo todo e isso me deixou em alguns momentos com a respiração presa. Mas agora que se acabou… Ufa! Posso respirar de novo!
Descanse em paz, Henning Mankell. O mundo da literatura sentirá sua falta, sempre!
 

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mankell1Título: Um passo atrás (2016)
Autor: Henning Mankell
Tradutora: Cristina Baum
Páginas: 512
Editora: Companhia das Letras
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SINOPSE – Três amigos se encontram numa reserva natural fantasiados com trajes do século XVIII para celebrar a noite mais longa do ano. O que não sabem é que estão sendo observados. Cada um deles acaba assassinado com um único tiro. Quando um dos mais confiáveis colegas de Kurt Wallander – alguém com quem ele contava para resolver o caso – também aparece morto, o inspetor logo desconfia de uma relação entre os dois crimes.

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