Agatha Christie teve um papel pouco conhecido na antiga Nimrud

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Publicado pela Associated Press, Lori Hinnant
(Tradução: Ana Paula Laux)

 

CIDADE HISTÓRICA – Sua diligência e creme facial limparam o marfim mais famoso de Nimrud. Ela registrou a escavação arqueológica em filmes de celulóide e Kodak, revelando as impressões na água cuidadosamente filtrada do rio Tigre, nas proximidades. E todos os dias, depois de organizar os livros e as refeições do dia seguinte, Agatha Christie sentava-se para escrever.

O segundo marido da escritora de mistérios britânica, Max Mallowan, era um arqueólogo respeitado em seu campo, mas nada comparado ao renome de sua esposa mais velha. Christie deixou de lado sua carreira por meses a cada ano para acompanhar Mallowan nas expedições. O arqueólogo ganhou destaque pelas escavações na década de 1950 em Nimrud, a antiga cidade assíria que sobreviveu 3.000 anos apenas para ser reduzida a escombros pelo Estado Islâmico em 2015. E Christie, então com 60 anos, estava lá para documentar seu trabalho, em foto e filme.

Todo inverno, de acordo com seu neto Mathew Prichard, “eles desapareciam no Iraque ou na Síria e voltavam em maio ou junho. Para ela, era tão importante quanto escrever. Seu papel, e ela era bastante antiquada sobre isso… Seu papel na década de 1950 era acompanhar o marido nas escavações e ajudá-lo com a fotografia e assuntos relacionados à força de trabalho local “, disse ele.

Famosa por seus personagens detetivescos, como Miss Marple e Hercule Poirot, Christie tinha um fascínio por arqueologia que foi refletido em histórias ambientadas no Oriente Médio, incluindo Morte no Nilo e Morte na Mesopotâmia. O livro de não-ficção de Christie, “Come Tell Me How You Live”,  uma autobiografia e literatura de viagem, é sobre uma série de escavações na Síria na década de 1940, seu testemunho do amor por aventura, viagens e pelos antigos sítios da civilização.

“Inshallah, irei lá novamente, e as coisas que eu amo não terão perecido desta terra”, ela escreveu em conclusão em 1944.

Mas sete décadas mais tarde, um de seus lugares favoritos – Nimrud – está em perigo como nunca esteve antes. Em 2014, membros do grupo Estado Islâmico invadiram o local próximo de Mossul e, em 2015, quebraram os touros alados que guardavam a entrada e explodiram o Palácio do Noroeste, onde Mallowan fez suas descobertas mais significativas. Embora o sítio arqueológico tenha sido libertado no mês passado dos extremistas, está reduzido a escombros, em grande parte desprotegido e vulnerável a saqueadores.

Entre os achados de Mallowan estava uma série de marfins, incluindo um rosto de uma mulher apelidada de Mona Lisa de Nimrud, que foi extraído com grande dificuldade de um poço enlameado.

“Ela (Agatha Christie) passou horas secando-a e limpando-a, usando seu creme facial”, disse Georgina Herrmann, uma arqueóloga britânica que trabalhou no local com Mallowan. Outros marfins foram descobertos quebrados, e Christie adorava ajudar a montá-los, disse Herrmann.

 

“Agatha foi uma apaixonada solucionadora de quebra-cabeças e palavras cruzadas. Ela reunia todas essas peças – deve ter havido centenas delas – e as juntava novamente”.

 

Christie e Mallowan ficariam decepcionados se soubessem o que acabou acontecendo com o sítio, de acordo com Prichard, que lembrou que seu avô lhe ensinou os conceitos básicos da escrita cuneiforme quando criança. “Dizer que eles pensariam que é uma tragédia é um eufemismo”, disse ele. “Se meus avós pudessem de alguma forma viver novamente e vissem os jornais durante uma semana, eles não reconheceriam os lugares onde viveram e trabalharam.”

 

* Livros e e-books de Agatha Christie

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