RESENHA | Abominação, de Gary Whitta

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Pouco se sabe sobre a era medieval na Inglaterra. O período que sucede toda a mitologia em torno do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda e antecede a conquista da Grã-Bretanha pela Normandia é envolto em mistério. Um prato cheio para obras de ficção e fantasia “preencherem as lacunas”, como é o caso de Abominação, de Gary Whitta.

A história é ambientada no período da invasão dos vikings, ali pelo século IX. Com o objetivo de proteger o seu reino contra os ataques dos nórdicos, o rei Alfredo autoriza Aetherled, arcebispo da Cantuária, a utilizar magia para fortalecer o seu exército. O que ele não sabia é que isso resultaria na criação de abominações que não poderiam ser treinadas ou controladas por ele. Por isso, o rei proíbe o arcebispo de criar novas criaturas.

 

Inconformado com a interrupção do “projeto”, Aetherled foge e continua suas experiências para criar abominações cada vez mais fortes. Para barrar o arcebispo e suas criaturas, o rei Alfredo chama o ex-soldado e amigo pessoal Wulfric para liderar uma expedição de extermínio de abominações.

 

Esta é a premissa da primeira parte do livro, que é dividido em duas etapas. O desfecho desta parte eu não vou contar porque, apesar de se passar na primeira metade da história, tem um dos spoilers mais importantes para o restante da trama e uma das cenas mais eletrizantes. Aliás, até aqui a leitura é super dinâmica e fluida. Dá muita vontade de saber o que vai acontecer a seguir.

A segunda parte se passa 15 anos depois, com foco em um Wulfric atormentado pelo desfecho da primeira parte (justamente esse que eu não posso contar) e em Indra, uma jovem guerreira determinada a caçar abominações pela Grã-Bretanha. A queda do ritmo é gritante aqui, com menos acontecimentos significantes e uma sequência de empecilhos que serve apenas para conduzir ao confronto final que, sem entregar spoilers, pareceu previsível e com uma resolução muito fácil para a complexidade que a situação exigia.

Abominação é o primeiro romance do aclamado roteirista Gary Whitta, que trabalhou como roteirista em Rogue One, O Livro de Eli, além de algumas séries de TV. Saber disso faz muito sentido para quem lê a obra, já que é muito fácil imaginá-la nas telonas. O dinamismo da história e a falta de respiros descritivos e de construção de personagens funcionaria muito bem em um longa-metragem. Como romance, parece que falta algo.

A comparação aos livros do George R. R. Martin realmente não cabe, afinal, a gente sabe que As crônicas de gelo e fogo não são só dragões e zumbis do gelo. A trama e os personagens possuem muitas camadas, que o leitor tem o prazer de ir desvendando. Faltou um pouco disso em Abominação: personagens complexos, intenções misteriosas e reviravoltas realmente surpreendentes.

Mas vamos fazer uma pausa pra falar da edição que a Darkside preparou? Como sempre, a editora caprichou na experiência do leitor, que já começa muito antes de a gente começar a ler. Encadernado em capa dura e com respingos de sangue na borda das páginas, o livro já dá ideia do que vem pela frente. A edição que recebemos ainda chegou dentro de uma lata maravilhosa, com direito a pôster e um escaravelho de brinquedo (que as minhas gatas não deixam em paz).

Resumindo, é uma história interessante que tinha potencial para ir além. Com uma narrativa bem construída renderia até uma série de pelo menos dois livros. Recomendo para os leitores que não têm muita paciência para ambientações e gostam das coisas mais direto ao ponto. Definitivamente é um bom entretenimento, só está muito longe de ser um novo clássico do gênero.

(Imagens: Ricardo Kühl)

Título: Abominação
Autor: Gary Whitta
Tradução: Petê Rissatti
Editora: Darkside Books
Páginas: 320
Este livro no Skoob

SINOPSE Abominação reconta um dos capítulos mais sangrentos da história da Inglaterra: as invasões vikings do século IX. Apresentando personagens e batalhas reais, sua narrativa vai muito além do que poderíamos encontrar nos livros de história. Com influências de Lovecraft a Game of Thrones, vem sendo recebido mundo afora como um novo clássico para fãs do gênero. O reino de Wessex foi o único da Inglaterra que escapou dos invasores nórdicos. Seu rei, Alfredo, negocia um acordo com os bárbaros do Mar do Norte, mesmo sabendo que eles não são adeptos da paz. É preciso estar preparado, a guerra pode recomeçar a qualquer momento. O arcebispo da Cantuária oferece proteção ao reino, através de feitiços descobertos por ele em velhos pergaminhos. O rei só não poderia imaginar que a magia seria ainda mais perigosa que os próprios vikings.

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1 comentário em “RESENHA | Abominação, de Gary Whitta”

  1. Curioso: existe outro romance com o mesmo título (A Abominação – Editora Record, 2014)) em uma série intitulada Carnívia. Autor: Jonathan Holt. A abominação refere-se a um cadáver de mulher vestido com roupas de padre e desovado na escadaria de uma igreja. A história é ambientada em Veneza. Gto

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