A literatura policial brasileira nasceu pelas mãos de autores clássicos. Em “Crime feito em casa — contos policiais brasileiros” (2005), Flávio Moreira da Costa afirma que foram contos com uma “levada” policial de Olavo Bilac, Lima Barreto, João do Rio e Machado de Assis que abriram as portas para o gênero por aqui. Era o início do século 20, quando até mesmo o maior de nossos escritores era admirador confesso de Edgar Allan Poe.
Historicamente, a ficção policial nasceu no Brasil na forma de folhetim, assim como aconteceu com os contos de Sherlock Holmes na Inglaterra. Intitulada “O Mistério”, a primeira aventura brasileira condensou 47 capítulos e foi escrita a oito mãos por quatro acadêmicos da ABL: Afranio Peixoto, Viriato Correia, Medeiros e Albuquerque, e Coelho Neto. Era 1920, ano da estreia do detetive Hercule Poirot na literatura.
De lá para cá, surgiram diversos personagens: tradicionais, mesclados à ficção científica, voltados ao mais jovens e até detetives para os populares programas radiofônicos da metade do século passado. De Dick Peter a Espinosa, confira uma seleção com dez personagens marcantes da literatura policial brasileira.
1. MELLO BANDEIRA
Protagonista de “O Mistério”, romance pioneiro do gênero no país. A história começou a ser publicada em 20 de março de 1920 e tratava de um crime perfeito que acontecia em uma casa, na praia de Botafogo.
2. DICK PETER
Criado por Ronnie Wells, pseudônimo do jornalista Jerônimo Monteiro. Apresentado em uma série da Rádio Difusora, suas aventuras migraram para a literatura explorando narrativas de mistério e ficção científica, gênero que destacou o autor. “As Aventuras de Dick Peter” passou a ser publicado em 1938.
3. ROBERTO RICARDO
Detetive de Anibal Costa criado em 1940, e que apareceu com o (não tão original) “As Aventuras de Roberto Ricardo”. Outro que também foi apresentado em programas de rádio, interpretado pelo jornalista e radialista Alziro Zarur.
4. DOUTOR LEITE
O detetive do paulistano Luiz Lopes Coelho (foto) era, na verdade um delegado, que estreou na literatura em 1957. “A Morte no Envelope” trazia contos com nomes tão sugestivos quanto Correu sangue na estreia de Volpone e Um candelabro apaga uma vida. Doutor. Leite é considerado um ícone do gênero no Brasil, por ser um dos primeiros autores genuinamente nacionais que escreveu histórias no estilo “quem fez” (whodunnit).
5. TONICO ARZÃO
Foi o primeiro detetive rural do Brasil, criado pela carioca Maria Alice Barroso. Apareceu em apenas uma aventura, “Quem matou Pacífico?”, de 1969, que virou filme com Jece Valadão, Jofre Soares e Ruth de Souza.
6. MANDRAKE
Advogado-criminalista criado por Rubem Fonseca, em 1967. Apareceu pela primeira vez no livro “Lúcia McCartney”. Mulherengo, fã de charutos e de mulheres, é tão carismático que já virou até série de TV.
7. ED MORT
Mais desastrado, impossível! Mistura de Philip Marlowe e do Inspetor Clouseau, é uma paródia de uma porção de detetives clássicos. Ed apareceu em 1979 pelas mãos de Luis Fernando Veríssimo, exibindo costeletas alongadas e démodé, dividindo seu escritório com 17 baratas e um rato albino. Inicialmente apareceu em tirinhas de jornal, mas fez tanto sucesso que também foi parar no cinema, televisão, teatro e quadrinhos.
8. DELEGADO ESPINOSA
Personagem marcante da literatura policial no país, o delegado Espinosa surgiu em 1996 no premiado “O Silêncio da Chuva”. O autor é Luiz Alfredo Garcia-Roza, professor universitário que se tornou romancista policial e já escreveu uma série com o personagem. Espinosa é um investigador em Copacabana, apaixonado pelo Rio de Janeiro e por livros. Suas histórias já foram adaptadas para a TV em forma de série.
9. REMO BELLINI
Que tal um detetive que transita por inferninhos, becos, boates e arranha-céus paulistanos? Ex-advogado atormentado por um passado sombrio, Remo Bellini virou investigador particular enfrentando perigos das grandes cidades, casos intrincados e mulheres tentadoras. Seu criador é o roqueiro Tony Bellotto, da banda Titãs.
10. UGO FIORAVANTI
O detetive Fioravanti é um bem humorado ex-policial federal que mora em Florianópolis, em uma casa de frente para o mar. Investiga os casos mais bizarros na capital catarinense, sempre lançando tiradas espirituosas pelo caminho. Obra de Mario Prata, que escreveu dois romances policiais com o detetive até 2014.
Jornalista. Trabalha com curadoria de informação, gestão de mídias sociais e criação de conteúdo digital. Em 2014, lançou o e-book “Os Maiores Detetives do Mundo” (Chris Lauxx). Contato: [email protected]
Cadê o Raphael Montes?…
O artigo se concentrou nos autores policiais que criaram detetives e personagens correspondentes, por isso o Raphael não entrou nessa lista Leila.
Senti falta do Diomedes, do Lourenço Mutarelli.. Mas ta super 10 a lista!!
Valeu Gabriel! =)
Temos uma resenha do Diomedes feita pelo Rodrigo Padrini:
https://literaturapolicial.com/2015/03/13/resenha-diomedes-a-trilogia-do-acidente-de-lourenco-mutarelli/
Abraços!
Ana
Sou fã de carteirinha de Joaquim Nogueira e quero acrescentar o investigador Venício, um cara da pesada.