Quando José Rubem Fonseca – mineiro, ex-funcionário da Light e comissário de polícia – estreou na literatura em 1963, a última revolução literária nas terras de Vera Cruz tinha sido as páginas que retratavam as mazelas do sertão (e da pobreza de indivíduos bastante singulares). Ninguém, repito, absolutamente ninguém estava preparado para as páginas que se estenderiam nas prateleiras.
Rubem Fonseca arrebatou a crítica e o público por praticar uma literatura honesta. E é com a mesma dose de honestidade que essa trilogia de artigos se propõe a apresentar a obra e o autor José Rubem Fonseca, nascido a 11 de maio de 1925 em Juiz de Fora.
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Chegamos ao fim dessa trilogia. Em primeiro lugar, foi um prazer esquadrinhar novamente a obra de RF. É muito bom ver como alguém evoluiu em cinco décadas de literatura ininterrupta.
Essa última seção tem por objetivo analisar cada fase, cada conjunto de obras lançadas em anos diferentes porém escritas com um tom parecido, ou até mesmo a temática.
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É composta pelos livros “Os Prisioneiros”, “A Coleira do Cão” e “Lúcia McCartney”. Essa pequena trilogia de contos sessentistas serviu para colocar Rubem Fonseca no patamar da mais elevada – e prestigiada – literatura nacional da época. Com contos afiados, inovadores em termos de estética e construção narrativa, abriu caminho para a segunda fase, onde RF se esbaldou.
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O termo foi cunhado por Alfredo Bosi em 1975 e se encaixa perfeitamente nos livros “O Caso Morel”, “Feliz Ano Novo” e “O Cobrador”. Passamos a conhecer aqui um Rubem mais ousado, que não tem medo da Censura e de devassar a sociedade brasileira à sombra da ditadura, uma gente que matava, fodia, lambia cus e visitava artistas presos na cadeia. Talvez houvesse tempo de cobrar algumas coisas e subir a serra para um almoço. Talvez.
Nessa fase não há concessões. A porrada dói – e muito.
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Entre 1983, com a publicação de “A Grande Arte”, e 1994, quando “O Selvagem da Ópera” foi lançado, Rubem Fonseca aliou ao brutalismo uma perícia e um refino ímpares na hora de construir seus romances. Os personagens ficam exponencialmente complexos, as histórias, portanto, idem. Cada livro lançado é sucesso absoluto. Rubem já é O autor nacional. Não há para ninguém. São histórias grandiloquentes que versam sobre a liberdade de corpos amarrados a dogmas tão perversos que chega a ser impossível não se sentir claustrofóbico lendo-as. E é isso que torna essa terceira fase a melhor de todas. Aqui Rubem Fonseca está no auge do auge. E não pretende parar para descansar, pois…
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… os anos 1990 chegam e com eles vem os contos e as novelas publicadas entre “O Buraco na Parede” e “A Confraria dos Espadas”. São histórias curtas em termos de tamanho e construção de personagens. RF parece se preocupar muito mais em chocar o leitor por reviravoltas surpreendentes do que efetivamente chocar por chocar – isso já foi tão feito que não há mais sentido. A literatura torna-se, portanto, mínima e bela, excessivamente bela.
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Rubem envelheceu. Já na casa dos setenta anos, lança histórias cada vez mais curtas, em livros cada vez mais mínimos. O olhar, entretanto, permanece aguçado. Em pauta, o funk, o aborto, as comunidades carentes, as chocolaterias. De “O Doente Moliére” até “Ela e outras mulheres”, lançado em 2006, nota-se um consumo cada vez mais baixo de violência. São quase-crônicas banhadas em ácido, pequenas doses de: estou voltando, me aguardem, esperem mais um pouco. Talvez seja o único ponto mais baixo da carreira de RF, o que, em termos de Rubem Fonseca, não é demérito algum. O ponto baixo é sempre um centímetro abaixo do cume.
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“O Seminarista”, primeira publicação de Rubem após a conturbada saída da Companhia das Letras, é o retorno que todos queriam. Violência, sexo, diálogos, literatura, porrada, sangue, enfim… o velho Rubem de sempre, já com oitenta e poucos anos, faz a alegria dos fãs. Em 2013 sai “Amálgama”, seu último livro de contos, uma porrada fenomenal na sociedade de consumo do século 21. Não há quem escape. Rubem voltou a brilhar intensamente e foi indicado ao Jabuti, já como favorito.
O neobrutalismo é vigiado por iPods, redes sociais e mais acidez. Os jovens que se cuidem enquanto o carequinha do Leblon continuar escrevendo. A literatura brasileira ainda tem um mestre. Reverenciem-no, pois.
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Nasceu em 1994. É escritor e roteirista. Fundou a plataforma literária Resenha de Bolso, foi editor de cultura da revista Poleiro e colaborador de literatura no site da Piauí.
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