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10 razões para amar a literatura policial

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Por Rogério Christofoletti – Caetano Veloso já cantou que “os livros são objetos transcendentes mas podemos amá-los do amor táctil que votamos aos maços de cigarro”. Quem ama um livro, um autor, um tipo de literatura sabe que a espessura desse sentimento é muito maior que as obras completas de Balzac, e que nenhuma nota de rodapé poderia comportá-lo, mesmo que demasiadamente abreviado.

Numa saborosa brincadeira com as palavras, Blaise Pascal teria dito que “o coração tem razões que a própria razão desconhece”, o que em bom português significa que o amor não é racional. Um sarcástico responderia: “vou pensar melhor nisso…”. Mas o fato é que me pego agora reunindo um conjunto de motivos para sustentar uma paixão, um amor que simplesmente prescinde de cartilha. Tão desnecessário quanto fazer listas de títulos favoritos. Tão prazeroso e irresistível quanto compartilhar as mesmas listas com outros leitores…

Ficam, então, os motivos para amar a literatura policial aqui sistematizados, como quem organiza as prateleiras e acaricia as lombadas dos volumes. Talvez sirva ao leitor como um punhado de argumentos em calorosas discussões bizantinas, como munição em saraus e festins, como aparato de sedução em corredores de livrarias. Elencar esses motivos é uma maneira de declarar esse amor táctil, na medida que os livros mais conhecem: a medida das palavras.

 

1. A literatura policial é popular
Os romances de crime estão nas bancas de jornal, nas bibliotecas mais conceituadas, nas promoções das livrarias, nas prateleiras de usados. Todos passam pelas páginas policiais, sejam homens ou mulheres, jovens ou velhos, catedráticos ou iniciantes. Diferente de outros gêneros, não afasta os leitores, pelo contrário: convida à leitura. É popular, mas não é menor. É popular sem ser barata. Uma amostra do sucesso: Agatha Christie já vendeu mais de 3 bilhões de exemplares de seus títulos! Aliás, é dela o quinto livro mais vendido de todos os tempos: “O caso dos dez negrinhos”.

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2. A literatura policial permite experimentação
A engenharia complexa dos enredos, as possibilidades narrativas, as brumas da ambientação e da caracterização psicológica, e o engendramento de enigmas, tudo isso é interessante nas histórias policiais. Se atrai leitores, também instiga os autores, e muitos deles se aventuram no terreno da literatura policial para testar seus limites técnicos e criativos. É o caso de Charles Dickens (e seu inspetor Bucket), Fernando Pessoa (com o personagem Abílio Quaresma), Umberto Eco (em O Nome da Rosa), Orhan Pamuk (Meu nome é vermelho) e até mesmo J.K. Rowlling, que já assinou dois livros sob o pseudônimo Robert Galbraith e é considerada a autora mais influente de Hollywood no momento…

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3. A literatura policial é prazerosa e agrada aos leitores
Pode consultar qualquer lista de mais-vendidos e você vai encontrar pelo menos dois romances policiais entre os dez primeiros. No The New York Times é assim, no Le Monde também, e os principais rankings brasileiros não fogem à regra. Se tanta gente recorre a esses livros, sinal de que o gênero é abrangente e empolgante. Afinal, ninguém sabe mais de literatura do que o leitor…

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4. A literatura policial é instigante e agrada aos escritores
Some-se à lista do motivo nº 2 os diversos autores que já manifestaram seu interesse e predileção pelo gênero policial. Entre eles os argentinos Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares, que sob o pseudônimo Honorio Bustos Domecq, escreveram “Seis problemas para Don Isidro Parodi” e “Duas fantasias memoráveis”. Borges foi taxativo. Para ele, a narrativa policial é “uma das poucas invenções literárias da nossa época, de um encanto tão poderoso que dificilmente há obra narrativa que não participe dela em alguma medida”…

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5. A literatura policial tem especificidade
Se há um gênero com linhas bem demarcadas de estrutura e funcionamento narrativo este é o policial. Pode-se dizer que existe um cânone com regras para as histórias de crimes, e essas balizas são reconhecidas por autores, críticos e público. Esta especificidade ajuda a definir uma estética própria, e uma ética da escrita bem particular. A regra ajuda a definir, mas não aprisiona.

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6. A literatura policial é evolutiva
Embora já tenha mais de 150 anos de história, o gênero não estagnou, gerando subgêneros (como o noir e hard-boiled) e alargando as fronteiras da narrativa. Há personagens de todos os tipos, crimes dos mais diversos naipes, soluções as mais criativas. A ficção de crime se reinventa a cada tiro e punhalada…

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7. A literatura policial é influente
Tudo começou nas páginas de livros, revistas e folhetins e se espalhou pelas ondas do rádio e da TV, chegou às salas de cinema, invadiu os quadrinhos e os videogames. Que outro gênero literário é tão multimidiático e dinâmico? Terror e ficção científica? Não, eles nem se aproximam do sucesso e da onipresença das histórias de crime, suspense e mistério. Entre os seriados televisivos mais admirados estão as franquias C.S.I., Law & Order, Dexter e tantos outros. Um fenômeno que não é de hoje. Afinal, você se lembra quem matou Laura Palmer, de Twin Peaks? E quem atirou em Odete Roitman?

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8. A literatura policial é organizada
Não bastassem as regras bem definidas do gênero e sua força nas livrarias pelo mundo, a ficção policial também conta com prêmios que reconhecem o trabalho dos autores, associações de escritores (como a CWA, do Reino Unido) e eventos específicos para leitura, discussão e criação coletiva, como o Quais du Polar, em Lyon (França) e o BAN!, em Buenos Aires.

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9. A literatura policial é generosa com o leitor
Tradicional ou vanguardista, para rápido consumo ou para extremos jogos cerebrais, este gênero já ofereceu alguns dos maiores personagens da literatura universal. O que dizer de Sam Spade, o arquétipo do policial durão? E Nero Wolfe, o glutão perspicaz? Paris seria a mesma sem Maigret? Cabem adjetivos para Poirot? Só mais um: Sherlock Holmes, o homem que nunca viveu e nunca morrerá! Quer maior atestado de imaginação criadora?

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10. A literatura policial está em expansão
Ela ignora fronteiras geográficas e linguísticas, e não dá sinais de que vá parar tão cedo. Há referências do gênero em todas as partes do planeta: em Cuba (Leonardo Padura-Fuentes) e na Islândia (Arnaldur Indridason), em Israel (Batya Gur) e no Chile (Roberto Ampuero), na Bélgica (Georges Simenon) e no Japão (Fuminori Nakamura). Homens e mulheres, jovens e experientes, os autores de histórias policiais demonstram em todas as línguas (inclusive o português!) que o gênero tem se disseminado em todas as direções. A dinâmica demonstra força e ímpeto, mas também permite que a narrativa policial sirva para nos apresentar as mais variadas e ricas culturas locais do planeta. É pra amar a literatura policial ou não, hein?

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