Por Mateus Baldi – São 02:15 do segundo dia de dezembro de 2014. Fechei há uma hora Fogo-Fátuo, livro novo de Patricia Melo, primeira-dama do policial nacional. Se no início a trama me deixava perdido, no final proporcionou um gosto de quero-mais na ponta da língua. Antecipo desde já o veredito desse texto: o scandi-crime chegou ao Brasil.
É importante notar que Patricia já tem outros livros policiais, mas sempre rejeitou o rótulo de “autora policial”. E eu concordo. Mas agora, nesse novo romance, a coisa muda de figura. Numa estratégia ousada, a Rocco, lar onde PM impera, publica um autêntico scandi-crime tupiniquim com detetive, assassinato, autor descoberto no final e uma dose quase letal de violência e crítica social, além dos infinitos plot-twists característicos do gênero nórdico.
Mas Patricia Melo é Patricia Melo. Patricia Melo foi tutorada por ninguém menos que José Rubem Fonseca. Patricia Melo não é um Jo Nesbo da vida que mescla uma penca de plot twists e fica por isso mesmo. Os personagens do livro são rasos? Sim. São confusos. Só a protagonista, Azucena, se salva. Bonita, ma non troppo, recém-divorciada (uma subtrama tão deliciosa de se acompanhar quanto o assassinato central), mãe de duas garotas e filha de um viciado em ópera, a perita da Central de homicídios paulista, ela precisa descobrir quem matou o ator Fábbio Cássio, cuja fama nunca esteve equiparada às críticas desfavoráveis que recebia.
A história parece simples, mas não é. As reviravoltas surgem no momento oportuno, em diálogos afiados e constatações sempre bem-vindas. Patricia Melo sabe escrever bem. Mas é mais do mesmo, eu diria. Está tudo lá: os nomes esquisitos, os fodidos, os ricos fodidos, os pobres nobres. PM virou o nosso Dennis Lehane. Sua nova obra é uma repetição das anteriores, mas isso não a torna ruim, é só… normal. Um bom divertimento para um sábado entediante – ou segunda-feira, no meu caso, o que foi ainda mais saboroso.
Fogo-Fátuo é bom por mostrar que há sim literatura policial de qualidade no Brasil. Sendo bem feita. E no fim das contas, é isso que importa, não? Deixo aqui minha sugestão: unamos Máiquel e Azucena no mesmo romance e PUF, temos o livro policial brasileiro por excelência.
* Mateus Baldi nasceu no Rio de Janeiro em 1994. Escritor e roteirista, acredita em James Joyce, Rubem Fonseca, Philip Roth e Roberto Bolaño como salvadores da Terra.
Autora: Patrícia Melo
Editora: Rocco
Páginas: 304
Ano: 2014
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SINOPSE – O superficial mundo da fama e a pesada rotina do submundo policial são os fios narrativos do novo romance de Patrícia Melo, um dos nomes mais importantes da literatura brasileira contemporânea. Com uma trama ágil, de imagens fortes e estilo mordaz, ambientada numa São Paulo degradada, Fogo-Fátuo apresenta a primeira detetive da carreira da autora, a perita Azucena. É ela quem conduz a investigação da morte do ator Fábbio Cássio, em pleno palco, e revela a cortina de intrigas e mentiras que envolve o caso. Fugaz e misterioso como a chama que o nomeia, Fogo-Fátuo prende a atenção do leitor, ao mesmo tempo que o leva a reflexões sobre a decrepitude dos relacionamentos contemporâneos e as várias faces da violência.
Nasceu em 1994. É escritor e roteirista. Fundou a plataforma literária Resenha de Bolso, foi editor de cultura da revista Poleiro e colaborador de literatura no site da Piauí.
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