Por Rodrigo Padrini – “Acho que seria algo parecido com isso estar na mente de um canalha”, pensei ao ler as primeiras páginas deste romance. Assim que comecei a leitura do livro “Arrivederci Amore, Ciao”, de Massimo Carlotto, lançado em 2015 pela Editora Vestígio, senti que lia algo diferente e deveria me adaptar. Não estava acompanhando mais uma rotina de um detetive em busca de respostas, nem a luta pela justiça, mas sim entrando em contato com a realidade de um crápula, alguém interessado em vencer, não importando os meios ardilosos e criminosos utilizados para este fim.
Com uma escrita simples e que, inicialmente, remete às aventuras de Philip Marlowe, detetive particular de Raymond Chandler, o livro nos apresenta um trecho da vida de Giorgio Pellegrini, um ex-militante de extrema-esquerda que busca um recomeço mas possui noções bastante particulares de justiça e amizade. Com roteiro adaptado para o cinema em 2006, o romance nos traz um protagonista mulherengo e machista, que nos assusta e não faz nenhum esforço para nos conquistar. Mas conquista. Em suas 130 páginas de narrativa, o autor nos envolve em uma sequência de acontecimentos, superando os limites da violência e da maldade, colocando à prova o mínimo rastro de nosso juízo moral.
“Havia alguma coisa nele que sempre me sugerira a ideia de que fosse podre. Não apenas corrupto. Podre. O cara certo com quem fazer uma sociedade”
Para mim, acostumado com leituras policiais focadas no “mocinho” e no herói, foi surpreendente me deparar com um enredo carente de lados bem definidos e que nos leva, por alguns momentos, a torcer pelo sucesso de nosso vilão por acredita-lo perdido em tantas tragédias, justificadas por um começo ruim. Tonto por um final inesperado, me vi impelido a embalar esta resenha na voz de Caterina Caselli cantando “Insieme A Te Non Ci Sto Più” (Com você, nunca mais), melhor forma de captar a essência absurda do nosso protagonista.
Aliás, ao conhecer o sentido do título deste romance (traduzido “Até à vista amor, tchau”), não sei se gostamos mais ou menos do nosso Giorgio, um canalha sem escrúpulos porém inquestionavelmente espirituoso.
Como recomeçar? Será necessário, para termos uma nova vida, sempre cortar todos os laços com o passado? Até que ponto estamos apenas repetindo um padrão e enganando aos outros e a nós mesmos quanto a um suposto novo “eu”?
Recomendo a leitura deste romance breve e pouco usual. Afinal, é uma oportunidade única acompanharmos o “diário de um crápula”, captar seu raciocínio e sua lógica surpreendentes, buscando não nos desvirtuar e rechaçar seu machismo exagerado, abandonando a preciosidade de uma experiência tão distante mas próxima de nossa realidade. Giorgio Pellegrini está em mim e em você, gritando por satisfazermos nosso egoísmo e nos tornar vencedores. Buscando corromper o justo ou aproveitar de sua inocência.
Autor: Massimo Carlotto
Editora: Vestígio
Páginas: 144
Ano: 2015
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SINOPSE – Giorgio Pellegrini, ex-militante de extrema-esquerda, traiu todos os seus antigos camaradas para fugir da prisão e lança mão de seu charme para seduzir as mulheres e roubá-las. Ele acaba pegando gosto pelo crime ao tentar forjar um recomeço político que lhe permitiria entrar na alta sociedade.
Psicólogo, mestre e doutorando em Psicologia. Atua no sistema prisional. É músico e leitor assíduo de romances policiais, com aquele lugar especial no coração para Georges Simenon e Raymond Chandler.
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Muito interessante. Vou buscar a obra.
Obrigado Vítor! O livro é muito interessante!
Acabei de terminar o livro e sua resenha representa bem o que eu achei do livro. Uma das coisas que mais me incomodou é o machismo do Pellegrini. Foi surpreendente, então, quando no final estava torcendo pelo "vilão". É uma narrativa policial bem diferente mesmo, mas que vale a leitura. Abraços!
Fico feliz em saber que transmiti bem a experiência. Principalmente por ser diferente, o livro é surpreendente mesmo.
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