Por Gabriela Erbetta – Pensei em várias maneiras de começar esse texto. Escrevi, apaguei, voltei, escrevi de novo, não gostei. Acontece que eu estava enrolando muito pra dizer o seguinte: eu me apaixono por policiais. Pronto. Não pelos livros, veja bem, mas pelos personagens.
Essa mania – seria fraqueza? – vem desde que, aos 12 ou 13 anos, li O Homem do Terno Marrom, da Agatha Christie, e caí de amores por Harry Rayburn, o sujeito do título. E olha que eu nem conseguia me decidir se ele era mocinho ou bandido. Mas que garota, na principal fase das paixonites platônicas, não se encantaria com aquele tipo alto, moreno, caladão, misterioso? Foi paixão à primeira página.
Então, e isso já depois de adulta, surgiu em minha vida Jean-Baptiste Adamsberg, da Brigada Criminal de Paris. Segundo sua própria criadora, a francesa Fred Vargas, um homem feio e baixote. E daí? Adamsberg é fascinante: contraditório e intuitivo, gosta de caminhar para colocar os pensamentos em ordem e tem um jeito vagaroso que, embora irrite muita gente à sua volta, mais ajuda do que atrapalha. Seus casos, não raro, parecem ter um pezinho no sobrenatural, mas é só isso: parecem. No fim das contas, o delegado prende, mesmo, gente de carne e osso. (Um adendo: eu amo o francês, mas não amo tanto assim a sua autora. Na maioria das vezes, acho o desfecho das histórias fantasioso ou repetitivo demais).
Quando fui apresentada a Adam Dalgliesh, em Paciente Particular, percebi que seria inevitável trair Adamsberg. Ou melhor: encontraria um lugarzinho em meu coração também para o inspetor da New Scotland Yard criado por PD James. Em comum com o francês, Dalgliesh é adepto das caminhadas e tem a vida afetiva, digamos, enrolada (será que eu teria chance?). Mas é bem mais ortodoxo e certinho – até escreve e lançou alguns livros de poesia.
Dessa onda recente de policiais nórdicos, eu nunca tinha lido nada que me entusiasmasse muito – acho que sou a única pessoa no mundo que não gostou de Os homens que não amavam as mulheres. Até que, no ano passado, uma amiga recomendou O boneco de neve. E, claro, caí de amores também por Harry Hole, o detetive alcoólatra do norueguês Jo Nesbo. Obsessão é pouco: de uma só tacada, li os DEZ volumes em que Harry erra, acerta, se apaixona, enfrenta serial killers, cria confusões, faz inimigos, perde pessoas queridas, esquadrinha Oslo e viaja para Sidney, Bangkok, Hong Kong.
Verdade seja dita: essa mania de me apaixonar por personagens – eu diria, até, que hoje já virou um hobby – não é exclusiva dos policiais. Amei profundamente o Doutor Rodrigo Cambará, da segunda parte de O tempo e o vento. Aquiles, de uma versão em prosa da Ilíada. O Carlos da Maia, de Os Maias, um livro que releio sempre e que, toda vez, torço para terminar de outra maneira. Diante deles, porém, a vantagem da paixão por detetives é a abundância: Adamsberg aparece em oito livros (seis publicados aqui pela Companhia das Letras; o nono, pelo que vejo, está previsto para este ano, em francês); Dalgliesh, em catorze; Harry Hole, em dez. De vez em quando volto a algum deles, para matar a saudade. Mas meu coração ainda tem lugar para mais gente. Alguém tem sugestões?
(Imagens: Popcorn, Imsoup.com, Jo Nesbo Oficial)
* GABRIELA ERBETTA – É sócia da Editora Alpendre, que publica livros digitais de não-ficção, é só percebeu agora que esqueceu de citar Archie Goodwin no texto acima.
Ana Paula Laux é jornalista e trabalha com curadoria de informação, gestão de mídias sociais e criação de conteúdo digital. Em 2014, lançou o e-book “Os Maiores Detetives do Mundo” (Chris Lauxx). Contato: analaux@gmail.com
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Eu também tenho minhas manifestações homo. Pep Carvalho (Manuel Vazquéz Montalbán); Cliff Janeway (John Dunning); Kurt Wallander (Henning Mankell); Salvo Montalbano (Andrea Camilleri); Guido Brunetti (Donna Leon); Mario Conde (Leonardo Padura Fuentes); Delegado Espinosa (Luis Alfredo Garcia-Roza), são alguns deles. Quanto às mulheres, ainda prefiro a minha que vai fazer 79 anos.
Excelente comentário rs...
Com certeza, o primeiro que me ocorreu foi o Montalbano. Divido a paixão entre o escritor e o personagem. Incrível é que no livro ( muito bom) Agua na Boca , de Camilleri e Carlo Lucarelli, tem uma foto do Montalbano! O delegado Joaquim Dornelas, do escritor Paulo Levy( Réquiem para um assassino e Morte na Flip) é também um cara bem interessante...O delegado Espinosa merece citação.
Adorei seu texto!
Eu também tive minha paixão pelo Dalgliesh, que cara hein? E amo Poirot e Holmes - este último é o sublime amor. Também cito Espinosa, exemplo de policial honesto que suscita muitos suspiros.