Por Luciana da Cunha – Há muito tempo lançamentos de versões de quadrinhos para o cinema ou TV não mexem comigo. Em parte pelo excesso de adaptações e em parte pela má qualidade em relação aos originais. No entanto, quando o Netflix anunciou a transposição de Alias para a série Jessica Jones, um misto de empolgação e desconfiança tomaram conta de mim. Empolgação porque finalmente deram atenção pra uma das melhores séries de HQ que eu já vi na Marvel e desconfiança justamente pelo medo de desvirtuarem completamente uma série que eu acompanhei com tanto carinho e não queria ver transformada em uma Liga Extraordinária da vida.
Passada a fase da apreensão e, finalmente, com a estreia da série, posso afirmar que a minha desconfiança pode ter sido um pouco desmedida, mas isso ainda não quer dizer que Jessica Jones esteja aos pés de Alias. Primeiro vamos falar de coisa boa: o que eu mais gostava HQ criada pelo Michael Brian Bendis e publicada mensalmente no Brasil pela Marvel Max era uma abordagem mais pé no chão do universo dos super-heróis. Aliás, só falo de Alias e Jessica Jones por aqui justamente pela pegada de investigação, em contraste a grupos de heróis com trajes coloridos que querem salvar o mundo. Jessica Jones é uma investigadora particular com casos um pouco menos fantasiosos do que costumamos ver em histórias em quadrinhos e com problemas absolutamente reais, como alcoolismo, abuso e estresse pós-traumático.
O legal de Jessica Jones foi justamente respeitar essa pegada mais noir dos quadrinhos e tentar transpor para a tela. A maioria das cenas se passa à noite e já no primeiro episódio rola uma referência bem legal de Janela Indiscreta do Hitchcock (que eu quero acreditar ter sido proposital). As cenas de ação são decentes – algo que os quadrinhos realmente não têm como competir – mas ainda mais fracas do que Demolidor. O sarcasmo típico da protagonista não ficou de fora, mas às vezes fica um pouco repetitivo e caricato. Ainda assim, o simples fato de termos uma personagem feminina forte em uma indústria polemizada pela discrepância de salários entre homens e mulheres já ajuda, e muito, a série do Netflix.
Mas é claro que nem tudo são flores lilás em Jessica Jones e qualquer comentário de que esta é a melhor série já feita pelo Netflix não passa de histeria coletiva pelo lançamento recente. Eu super entendo que os fãs de Demolidor (a série de TV, não os quadrinhos e muito menos o filme com o Ben Affleck) considerem Jessica Jones sensacional. O universo é o mesmo, o clima é bem parecido e a torcida é de que as séries se complementem. Aliás, motivo pra esse encontro não falta: Bendis escrevia Alias na mesma época em que roteirizava as histórias do advogado cego da Cozinha do Inferno. Sem contar que a Jessica chegou a ser guarda-costas dele por um tempo.
A primeira coisa que me incomodou na série em questão foi a caracterização da Jessica Jones. Nada contra Krysten Ritter, que eu até acho que tem um portfólio legal, mas desde o início ela me pareceu jovem demais para o papel. Além disso, achei a personagem meio chorona demais na série. Acreditem: ela é muito mais fodona nos quadrinhos.
Outra coisa que eu não digeri direito foi a rapidez como já entregaram o ouro nessa série. Quem era leitor de Alias levou um bom tempo pra entender direito o que tanto atormentava a Jessica. Na série do Netflix, já no primeiro episódio a gente sabe da existência do vilão Kilgrave (também conhecido por Homem Púrpura), o que faz com que a personagem seja meio que definida por ele. É como saber logo de cara – ABRE SPOILER – que o Bruce Willis tá morto em O sexto sentido – FECHA SPOILER (embora depois de 16 anos não seja mais spoiler, ok?)- .O jeito como o Luke Cage foi introduzido na história também foi muito precoce e banal se comparado à HQ.
Como já falei, trata-se de um bom entretenimento pra quem não conhece o original e também para os fãs do original, com algumas ressalvas. O simples fato do universo de Alias ser disseminado a mais pessoas ainda é motivo de alegria pra mim. Aliada a uma protagonista feminina forte, um enredo decente e um clima obscuro de investigação, Jessica Jones quebra aquele vício de super-heróis picados por aranhas geneticamente modificadas e lembra que quadrinhos podem sim contar com temáticas mais adultas e suspenses bem elaborados.
Jornalista em Blumenau, desde os 15 anos se aventura pela blogosfera. Cinéfila desde a sua primeira VHS da Disney, escreve sobre o tema há nove anos. Descobriu a paixão pela literatura com romances policiais, mas hoje lê um pouco de tudo – principalmente tudo aquilo que vai parar nas telonas.
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Oi Lu! Bom ver vc por aqui, sua linda <33333 Saudades de vc, viu? :DDDD
Eu to gostando bastante da série, não li os quadrinhos, mas como a proposta parecia ser meio pós-eventos-do-quadrinho, não liguei muito para fidelidade em adaptação (mas como falei, não li, então quem sou eu?). Gostei da temática e da forma como o relacionamento da Jessica com o Killgrave é retratado, me parece ser uma história além de super herois. Debate outras coisas e não só "com grandes poderes blablabla".
Ótimo texto, como sempre, e gostei da parte em que vc fala que qualquer comentário de que esta é a melhor série de todos os tempos é só resultado da histeria coletiva. Disso, a internet tá cheia.
Bjão <3
Oi Miss Pipoca! :D
Que bom que gostasse do texto. Pelo Zinema já sabes que eu sou beeeem chata com adaptações de obras que eu gosto, por isso peguei um pouco mais pesado com Jessica Jones. Mas é aquela coisa, pra quem não leu ou não se importa tanto com diferenças autorais é um bom entretenimento e foge da vibe Vingadores que a Marvel tá derramando por aí ;)
E quanto à saudade, daqui a pouco eu tô de volta ;)
Beijos!
Oi Luciana. Eu comecei a ver a série recentemente, mas nunca li os originais. Gostei da dinâmica e essa pegada de investigação é bem legal. Até pesquisei para conhecer a cara da personagem original, e fiquei me perguntando se o que estamos vendo na primeira temporada é o início de tudo, o meio ou após algo marcante nos quadrinhos. Em qual parte da história estamos, entendeu, rs. Abs!