Por Rodrigo Padrini – Como alguns provavelmente sabem, Georges Simenon (1903-1989) é um dos meus autores favoritos e devo a minha entrada no mundo da literatura policial a ele. Na minha última contagem, havia lido 32 dos 75 romances protagonizados pelo comissário Maigret, o mais famoso personagem criado pelo escritor belga, e vários contos também.
Nos últimos meses, li alguns autores mais atuais, como Tess Gerritsen e Stieg Larsson, e dei um intervalo nas aventuras de Maigret, tomando um chá de viagem no tempo quando retornei a um título publicado originalmente em 1932. O Caso Saint-Fiacre (Companhia das Letras, 2015) ganhou uma nova edição recentemente e nos traz, o que considero, uma narrativa de altos e baixos, demorando um pouco para engrenar, porém ainda digna de seu criador.
A história gira em torno da morte da condessa de Saint-Fiacre, uma velha senhora que vivia entre o devotamento religioso, o pecado e a perda de sua fortuna. Entre os suspeitos estão o seu filho, o padre, o jovem amante e os administradores do castelo da família. Maigret entra na história antes de tudo acontecer, após receber um bilhete anônimo anunciando que um crime será cometido durante a primeira missa na igreja de Saint-Fiacre.
Sem resumir a história nem entregar os acontecimentos, trarei alguns pontos positivos e negativos.
Confesso que, durante boa parte do romance, senti dificuldade de acompanhar a trama, me confundindo com nomes e diálogos. Ainda não havia sentido algo parecido na leitura de Simenon, o que me incomodou. Principalmente nos primeiros capítulos, algumas cenas acabam contando muito com a nossa própria capacidade de identificar “quem está falando o quê” e qual a sequência dos acontecimentos, elemento que prejudica a fluidez da leitura.
Como disse anteriormente, ler um título de 1932 nos exige interesse e um pouco de paciência, afinal, vários termos utilizados podem soar estranhos, mas acabarão incrementando o seu vocabulário.
O romance não assume o ar introspectivo e psicológico que normalmente encontramos nos mistérios de Maigret. Encontramos muitas narrações dos eventos e diálogos, e pouca reflexão sobre o crime.
A investigação se passa em Saint-Fiacre, onde Maigret nasceu e onde seu pai foi administrador (uma espécie de auxiliar/gestor dos empregados e demais atividades) do castelo por trinta anos. As lembranças do comissário e os elementos de sua infância são um aspecto interessante deste título.
Os capítulos 8, 9 e 10 nos brindam com uma das sequências mais cativantes que encontrei nos romances de Simenon protagonizados pelo comissário Maigret. Principalmente no capítulo 9, no jantar “Sob o signo de Walter Scott”, Simenon mostra sua capacidade de escrever de forma elegante, crua e instigante, e foi o trecho do livro que li sem intervalos para um cafezinho. Uma cena densa, daquelas em que mergulhamos.
A edição da Companhia das Letras é bela e ficará bem na sua estante.
Por fim, recomendo a leitura de “O Caso Saint-Fiacre”, mas não acho que seja a melhor dica para quem busca se iniciar na obra de Simenon com o comissário Maigret. Em outro texto que escrevi aqui no site, apresentei outros títulos que talvez se encaixem melhor nessa categoria.
No entanto, este romance traz elementos essenciais para os amantes do comissário Maigret e nos dá uma aula de como construir cenas carregadas de mistério e tensão. Vale a pena acrescentar à sua coleção.
* Exemplar cedido pela Companhia das Letras
Autor: Georges Simenon
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 144
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SINOPSE – O caso Saint-Fiacre é o décimo terceiro livro protagonizado por Jules Maigret, em que, finalmente, conhecemos seu passado. Ele é filho do administrador de um castelo ao sul de Paris, para onde volta pela primeira vez desde o enterro do pai. O motivo? Um bilhete anônimo: um crime seria cometido no local durante a missa de finados. Antes do fim do sermão, a condessa de Saint-Fiacre morre subitamente. Sua família está falindo. O filho é um aproveitador. O secretário, seu amante e possível herdeiro. Os atuais administradores do castelo, oportunistas em potencial. O padre, um omisso. Mais que investigar os suspeitos, o maior desafio de Maigret é enfrentar as lembranças que Saint-Fiacre lhe desperta.
Psicólogo, mestre e doutorando em Psicologia. Atua no sistema prisional. É músico e leitor assíduo de romances policiais, com aquele lugar especial no coração para Georges Simenon e Raymond Chandler.
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