Silenciadas, de Kristina Ohlsson

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Por André Leonel – Uma das novas promessas da literatura policial nórdica, Kristina Ohlsson é cientista política, ex-analista estratégica de segurança da Polícia Nacional da Suécia e trabalha como agente contra o terrorismo na OSCE, Organização para a Segurança e Cooperação na Europa. Com uma bagagem dessas não é de se estranhar que ela seja uma das autoras suecas de maior sucesso no campo da ficção criminal e uma das mais prolíficas também: desde o lançamento em 2009 do seu primeiro livro, “Indesejadas”, ela já escreveu outras doze obras, incluindo alguns suspenses para o público infantojuvenil.

Minhas aventuras com Kristina começaram pelo seu segundo romance, “Silenciadas”, publicado pela Editora Vestígio – que também lançou “Indesejadas” em terras brasileiras, ambos protagonizados pela investigadora sem formação policial Frederika Bergman.

A equipe de Frederica, liderada pelo experiente Alex Recht e também composta pelos detetives Peder Rydh e por Joar Sahlin, encerram seu mês de fevereiro de 2008 encarando dois casos aparentemente independentes: um vigário assassina sua mulher e se mata logo após saber da morte por overdose de uma de suas duas filhas, e um homem sem identificação é morto em um atropelamento seguido de fuga. Os detetives ainda não sabem, mas um terceiro crime ocorrido em um passado remoto já nos é revelado desde o princípio, quando um estupro brutal de uma adolescente muda sua vida para sempre.

Posteriormente, somos apresentados a outros dois personagens distintos. Um é imigrante ilegal Iraquiano, que sonha em levar sua família para uma nova vida na Europa, mas acaba descobrindo um preço salgado a pagar por sua investida. A outra é uma mulher sueca que parte para a Tailândia com uma missão secreta, mas que se depara com sua passagem de volta cancelada, seus telefones e contas de e-mails deletados e a sensação de que sua identidade está sendo varrida do mapa.

Mesmo com diversas situações paralelas, o desenrolar da história justifica o sucesso que a autora anda fazendo. A trama segue coesa todo o tempo e Kristina sabe como ir soltando informações cruciais aos poucos, mantendo o suspense sem perder o ritmo em momento algum. Usando como pano de fundo a imigração ilegal, ela nos faz sentir como se estivéssemos investigando junto com a equipe de polícia uma quadrilha de contrabando internacional de pessoas, jogando com o leitor ao variar a narrativa sob a perspectiva de cada personagem, nos confundindo até o final sobre culpados e inocentes e o destino de cada um deles.

Um ponto forte da obra são os agentes do departamento de investigação criminal de Estocolmo. Todos usam o trabalho à sua maneira como válvula de escape, bem clássico de um bom drama policial. Frederica, que não é muito bem vista por seus colegas por ser a única civil e por não ter treinamento especial, está grávida de um homem muito mais velho, com quem se relaciona há anos sem conseguir engatar um compromisso sério. Alex sempre adia um inevitável confronto com sua esposa, que já não é mais a mesma e provavelmente esconde algum segredo. Já Peder, além de ter falhado em seu casamento, tem que lidar com as ameaças à sua carreira por não controlar seu comportamento estúpido e machista e por suas rusgas com o novo colega, Joar.

 

 

Em contrapartida, as pessoas de fora do núcleo de polícia são mostrados como verdadeiras incógnitas: mesmo participando de seus problemas e se envolvendo com seus medos e anseios, fica impossível para o leitor distinguir sobre suas boas ou más intenções até os momentos finais do romance.

Sem ofuscar a trama principal, essa caracterização dos personagens é essencial para que os leitores se envolvam com a história e consigam a acompanhar de maneira ativa, se importando de fato com o destino dos investigados e investigadores. “Silenciadas” me convenceu fácil a querer ler o primeiro volume da série, e com certeza a torcer pra que a Vestígio publique logo no Brasil os outros três livros de Frederica e sua equipe.

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silenciadas3Título: Silenciadas
Autora: Kristina Ohlsson
Tradutor: Rogério Bettoni
Páginas: 320
Editora: Vestígio
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SINOPSE – Quinze anos atrás: uma adolescente é surpreendida enquanto colhia flores para a celebração do solstício de verão e brutalmente violentada. No presente, um homem é morto em um atropelamento. Ele não tem nenhuma identificação e não é reportado como desaparecido. Ao mesmo tempo, um sacerdote e sua esposa são encontrados mortos em um aparente duplo suicídio. Fredrika Bergman, juntamente com a equipe de investigação de Alex Recht, é encarregada de casos aparentemente desconexos. A investigação leva a uma rede de contrabando de pessoas: um novo agente a operar rotas de imigração ilegal a partir de Bangkok, Tailândia. À medida que a polícia desmantela o esquema, começa a se revelar uma trilha que remonta à década de 1980, a um crime não denunciado, mas cujas consequências irão muito além do que qualquer um poderia esperar.

(Imagem: André Leonel)

 

* André Leonel é publicitário em Belo Horizonte, chegado em romances policiais. Atualmente seu foco é visitar terras nórdicas para ver se esbarra com o Nesbo ou com o Arnaldur.

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3 comentários em “Silenciadas, de Kristina Ohlsson”

  1. Nossa! Já tinha visto esse livro por aí, mas nunca imaginei que tivesse uma premissa tão interessante. Não posso ser considerada uma grande fã de literatura policial – tenho poucas obras no currículo – mas essa em especial chamou muito a minha atenção.
    Gislaine | Paraíso da Leitura

    1. Oi, Gislaine! A premissa é de fato muito boa. Apesar das diversas tramas emaranhadas, a investigação é bem limpa e nada confusa, o que torna o livro muito bom pra começar no universo policial : )

  2. Olá, Andre,
    Acabei de deixar um comentário em outra resenha, feita por um colega — falava sobre o nome dos tradutores dos livros, que vocês nunca publicam nas resenhas. A gente adora o site, mas é muito importante incluir o nome dos tradutores e das tradutoras nos textos — afinal, a gente só lê os textos na nossa língua por causa das traduções. Um beijo, obrigada.

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