POR LUCIANA DA CUNHA – Não é de hoje que a DarkSide Books acerta a mão em trazer para o Brasil obras literárias que são ou foram sucesso nas telonas ou no universo das séries. E não seria diferente com American Crime Story: O povo contra O. J. Simpson, livro que narra detalhadamente o “julgamento do século” que absolveu o astro do futebol americano acusado de assassinar sua ex-esposa e um amigo dela (não é spoiler se aconteceu há mais de 20 anos).
Apesar de ter sido lançado originalmente enquanto o caso ainda estava fresco na memória das pessoas, lá em 1996, a obra de Jeffrey Toobin ganha força novamente com a produção televisiva de mesmo nome, produzida por ninguém menos que Ryan Murphy. Se o nome lhe parece familiar é porque você provavelmente se admirou e assustou com a maestria do diretor e produtor em sua maior obra para a TV: American Horror Story, que acumula indicações em premiações da crítica e sustos no público.
Mas voltando à década de 1990 e aos acontecimentos que deram origem ao livro e à série: O. J. Simpson, uma das maiores estrelas da época nos Estados Unidos, é acusado de ter assassinado sua ex-esposa Nicole Brown e o amigo Ron Goldman na noite de 12 de junho de 1994 (ironicamente, Dia dos Namorados no Brasil). Não houve flagrante, mas logo nos primeiros dias de investigação ficava claro o envolvimento do ex-jogador de futebol americano no crime.
O circo midiático já foi armado com a ajuda do próprio O.J., que protagonizou uma fuga de carro televisionada e lembrada até hoje por pessoas de todo o mundo. O showzinho não deu muito certo e, cercado e aconselhado por amigos, ele decidiu se entregar para aguardar julgamento e “colaborar” com as investigações.
Do lado da promotoria, o caso parecia simplesmente impossível de ser perdido. Tudo realmente colocava sangue nas mãos de Simpson. No entanto, eles não contavam com o “time dos sonhos” que era a equipe de advogados contratados por Simpson.
Todo o processo criminal e principalmente o julgamento são o foco tanto do livro como da série e isso é a principal vantagem dos dois. Não há narração da cena do crime, tudo o que sabemos é baseado em provas. E as provas apontam para O.J., mais fortemente no livro, que traz muito mais detalhes do que a série, como é de se esperar.
Outro fator que fica ainda mais explícito no livro do que na série é a ingenuidade e, por que não, negligência da própria promotoria, que tinha um caso ganho nas mãos e contou apenas com isso para garantir um veredicto favorável. Enquanto eles se apoiavam apenas nos fatos, o time de Simpson se apoiou nos casos de racismos registrados pela Polícia de Los Angeles para alegar que seu cliente estava sendo acusado apenas pelo fato de ser negro. O triste dessa parte é que sabemos que esse tipo de abuso policial realmente acontece até hoje, mais de 20 anos após o julgamento, e não apenas nos Estados Unidos. E foi com base nisso que eles conduziram toda a defesa, desde os argumentos até a seleção de testemunhas e do próprio júri: o objetivo não era provar que O.J. era inocente, mas que a polícia era racista e que poderia ter plantado evidências de que seu cliente era culpado.
Nem o livro e nem a série afirmam com todas as letras se O.J. era culpado ou não, eles apenas mostram as evidências e o julgamento fica a cargo do leitor/espectador. O livro traz muito mais evidências que sustentam a tese de culpa, já a série tenta deixar uma pulga atrás da orelha do público. Como eu li o livro ao mesmo tempo em que assistia à série, essa diferença ficou gritante, mas talvez alguém que assista apenas à produção de Ryan Murphy chegue à mesma conclusão: de que O. J. Simpson foi responsável pelo duplo homicídio.
A série mostra ainda a versatilidade de Murphy, já que a série nem de longe lembra American Horror Story. Outro ponto forte é a caracterização meticulosa e a atuação certeira de um elenco estrelado, com nomes como John Travolta, Cuba Goodin Jr., Sarah Paulson (a verdadeira rainha da coisa toda), David Schwimmer, Nathan Lane e até uma ponta de Selma Blair como Kris Jenner.
Não vou falar muito mais da história porque o texto tá gigante e vocês têm o livro e a série para encarar (sim, recomendo os dois). Para mim, valeu para conhecer melhor uma história que eu tinha ouvido falar muito superficialmente. Para quem se lembra do julgamento, provavelmente vai encontrar muitos detalhes que a imprensa na época nem chegou a mencionar. Para a sociedade, fica a revolta de lembrar de mais um exemplo de que a justiça não é para todos e que ela se faz cega para quem pode pagar por isso.
* Livro cedido em parceria com a Darkside Books
Título: American Crime Story: O povo contra O.J. Simpson
Autor: Jeffrey Toobin
Tradutor: Lucas Magdiel
Páginas: 460
Editora: Darkside Books
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SINOPSE – Craque recordista da NFL, a liga de futebol americano, o ídolo O.J. Simpson estava acima do bem e do mal. Simpson era o equivalente a Pelé, Messi ou Neymar em seu país. Tente agora imaginar a comoção que um país inteiro sentiu ao ver um herói do porte de O.J. ser acusado de um crime tão brutal: o assassinato de sua esposa, Nicole Brown, e do amigo dela, Ronald Goldman, a facadas. Em 13 de junho de 1994, tinha início um dos mais infames casos da história criminal dos Estados Unidos. American Crime Story: O Povo Contra O.J. Simpson é o mais completo livro sobre o caso, e foi escrito por Jeffrey Toobin, repórter que cobriu o julgamento para a revista New Yorker.
Jornalista em Blumenau, desde os 15 anos se aventura pela blogosfera. Cinéfila desde a sua primeira VHS da Disney, escreve sobre o tema há nove anos. Descobriu a paixão pela literatura com romances policiais, mas hoje lê um pouco de tudo – principalmente tudo aquilo que vai parar nas telonas.
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Vi outro dia mesmo o anúncio da série na tv fechada e fiquei muito interessado. É um daqueles casos icônicos da justiça dos quais todo mundo quer saber um pouco mais. Bela resenha. Abraços!
Não conhecia nem o livro nem a série, mas achei interessante! Ótimo texto.
Gislaine | Paraíso da Leitura