Por Rodrigo Padrini – O passado é obstinado. Ele não quer ser mudado. A vida muda de repente e, quando muda, muda depressa. Muitas histórias já foram contadas e escritas sobre viagens no tempo, nos deslumbrando de forma incansável com a ilusão de que poderíamos voltar atrás, ter uma segunda chance, fazer diferente e modificar o passado.
Ainda não inventaram tecnologia suficiente, mas quem sabe um dia. Afinal, quem poderia imaginar no início do século XX que teríamos, hoje em dia, arquivos salvos na nuvem ou saberíamos de tudo o que acontece no outro lado do mundo, instantaneamente. Por ora, nos resta imaginar, criar ideias malucas de um mundo alternativo e contar os “e se… e se… e se…”.
Mestre do terror, do suspense, da ficção científica e de outros mundos mais, Stephen King brinca com o tempo e com a história em “Novembro de 63” (Suma de Letras, 2013), um calhamaço que merece muitos aplausos. No bom estilo King, o autor não vai direto ao ponto, afinal, o melhor da festa é esperar por ela. O livro é narrado por Jake Epping, um professor de inglês nos seus trinta e poucos anos que se depara com uma missão nada simples: impedir o assassinato do presidente John Kennedy.
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“Tentei dizer a mim mesmo que aquilo não estava acontecendo, não podia estar acontecendo, mas não adiantou. Filósofos e psicólogos podem discutir o que é real ou não, mas a maioria de nós, que levamos vida comuns, conhecemos e aceitamos a textura do mundo à nossa volta”
Dizer que o livro é uma viagem no tempo é redundante e clichê, mas isso não faz com que ele não seja exatamente isso. Confuso? Viagens no tempo são assim mesmo. Estamos falando de pequenos eventos que provocam grandes mudanças, de realidades paralelas, vidas que correm juntas em diferentes planos, de passados modificados e futuros imprevisíveis. King utiliza a dose certa de romance, aventura e realismo fantástico. Os cenários e os personagens são muito bem construídos e, mesmo não vivendo nos Estados Unidos ou conhecendo bem a história americana, o leitor consegue se apropriar e mergulhar na trama.
A música, as roupas, os costumes, os beijos, os carros e todos os elementos trabalhados por King trazem nostalgia de algo que nem vivemos. Torcemos por Jake, torcemos para que tudo dê certo, afinal, estamos cheios de boas intenções. Mas, será que elas bastam? Nem tudo se resume ao que queremos.
Em alguns momentos da leitura, me senti apressado, querendo chegar logo ao dia vinte e dois de novembro de 1963 e saber no que daria aquele plano maluco. Quis pular algumas páginas e xinguei King por escrever tão bem e querer usufruir do seu talento construindo diversas histórias menores em torno do tema central. Me acalmei, pedi que desconsiderasse meus pensamentos ignorantes e lembrei que livros de ficção são feitos para distrair a nossa mente, massagear nossos neurônios enrugados, dar um passeio no mundo imaginário e voltar em breve. Nesse caso, tudo graças à belíssima tradução de Beatriz Medina.
Estamos ficando mal acostumados a ler apenas comentários da internet, o título da matéria, o resumo, a síntese da síntese, o mais curto por favor. Uma infelicidade. Porém, muitos (e não poucos, como gostamos de pensar em nosso orgulho narcisista) apreciam a boa literatura, adoram mergulhar em livros imensos e se deliciam com histórias que se grudam como experiências realmente vividas em nossa lembrança. Não me intimido, não se intimide. Esse nem é tão grande assim.
“Novembro de 63” é uma dessas histórias. Você vai se interessar por esse período da história americana, vai procurar o filme do assassinato de Kennedy, a foto de Lee Oswald e as matérias da época. Lerá as teorias da conspiração e construirá a sua própria. King conseguiu de novo e, cada vez mais, reconheço o seu talento para expandir nossas conexões cerebrais e nos estimular a viver várias vidas em uma só.
O best-seller foi adaptado em uma minissérie de oito episódios (originalmente exibida pelo serviço de vídeo on demand Hulu) e estreou no canal AMC em 1º de novembro de 2016, contando com a produção de J.J. Abrams e do próprio Stephen King. Com o título original do livro 11.22.63, a série traz James Franco no papel de Jake Epping e, após a leitura, já fiquei arrepiado só de assistir ao trailer. Leia o livro, veja a série. Nessa ordem, se resistir à tentação.
* Livro cedido em parceria com a Editora Suma
(Imagens: Rodrigo Padrini)
Autor: Stephen King
Tradução: Beatriz Medina
Páginas: 736
Editora: Objetiva / Suma de Letras
SINOPSE – A vida pode mudar num instante, e dar uma guinada extraordinária. É o que acontece com Jake Epping, um professor de inglês de uma cidade do Maine. Enquanto corrigia as redações dos seus alunos do supletivo, Jake se depara com um texto brutal e fascinante, escrito pelo faxineiro Harry Dunning. Cinquenta anos atrás, Harry sobreviveu à noite em que seu pai massacrou toda a família com uma marreta. Jake fica em choque… mas um segredo ainda mais bizarro surge quando Al, dono da lanchonete da cidade, recruta Jake para assumir a missão que se tornou sua obsessão: deter o assassinato de John Kennedy. Al mostra a Jake como isso pode ser possível: entrando por um portal na despensa da lanchonete, assim chegando ao ano de 1958, o tempo de Eisenhower e Elvis, carrões vermelhos, meias soquete e fumaça de cigarro. Após interferir no massacre da família Dunning, Jake inicia uma nova vida na calorosa cidadezinha de Jodie, no Texas. Mas todas as curvas dessa estrada levam ao solitário e problemático Lee Harvey Oswald. O curso da história está prestes a ser desviado… com consequências imprevisíveis. Em Novembro de 63, livro inédito de Stephen King, a viagem no tempo nunca foi tão plausível… e aterrorizante.
Psicólogo, mestre e doutorando em Psicologia. Atua no sistema prisional. É músico e leitor assíduo de romances policiais, com aquele lugar especial no coração para Georges Simenon e Raymond Chandler.
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Republicou isso em Mais uma Opinião.
O super-homem conseguiu dar uma volta anti-horária pela superfície da terra com tanta velocidade que voltou ao passado e salvou sua amada. Pros computadores isso é coisa fácil. Valeu!