Por Alexandre Amaral – O quanto se pode confiar na memória? Todas as informações guardadas nela são reais? Quando Freud abre a terceira ferida narcísica na humanidade, ele afirma que estamos subjugados pelo nosso inconsciente. Até que ponto nossa memória é um espelho exato do que vivemos, vimos ou sentimos? Todos esses questionamentos são trazidos à tona por E.O. Chirovici em O Livro dos Espelhos (Record, 2017).
O Livro dos Espelhos pode ser considerado um livro dentro de um livro. Seu título faz menção à mente humana e suas capacidades e incapacidades, mas refere-se também à casa dos espelhos, atração circense que nos faz duvidar de nossos sentidos. E assim pode ser a nossa memória que, em diversas situações, nos trai ao nos ofertar lembranças construídas por discursos e narrativas que não são propriamente nossos. E é dessa forma que o romance se desenvolve.
A obra é dividida em três partes, e cada parte apresenta um narrador diferente, mas com ligações entre eles, tendo um mistério passado como fio condutor. A primeira parte é narrada por Peter Katz, um agente literário que recebe parte de um romance que conta fatos do passado pelo ponto de vista de Richard Flynn. Flynn, que atualmente se encontra em coma, narra, em seu livro, acontecimentos de quando era aluno em Princeton e se envolveu com Laura Baines e o renomado professor Joseph Wieder, assassinado 28 anos atrás e seu assassino nunca descoberto.
A segunda parte é a busca pela confirmação dos fatos narrados por Flynn. Contatado por Peter Katz, o repórter John Keller tem como missão descobrir a veracidade dos fatos e escrever a continuação do fragmento. Ao se envolver na busca, Keller encontra-se com diversos personagens e seus discursos e justificativas contradizem o que ele sabe até o momento. Mergulhado de cabeça nesse labirinto, Keller acaba deixando sua vida particular de lado, e os prejuízos podem ser pesados demais para ele.
Consultado por Keller por ter sido um dos investigadores do crime na época, Roy Freeman, policial aposentado, recebe do repórter todo o material pesquisado quando esse decide parar a busca. Roy assume as investigações por achar que poderiam ter dado mais frutos na época. E com bastante empenho, segue em busca de dados, fatos e respostas soterrados em 28 anos de esquecimento, mentiras e invenções das mais variadas mentes envolvidas.
Apesar de aguçar nossas curiosidades, nem todas as respostas são satisfatórias ou conclusivas para o leitor, o que dá um charme especial ao livro por não ficar preso em estruturas clássicas. Esse estilo mais moderno de suspeição, descrito pelo autor como whydunnit invés de whodunnit, mostra uma preocupação com o processo de narração, enfatizando que sua proposta está mais ligada em explicar como os fatos se sucederam e não apenas entregar todos os detalhes sobre quem o fez ao final.
Ao que tudo indica, O Livro dos Espelhos segue à todas as regras do romance policial. Sem fanatismos e de maneira simples e criativa, pode ser considerado um exemplar do que o bom suspense contemporâneo pode ser. Ao prezar pela temática subjetiva, ele nos alcança e prende nossa atenção ao ponto de não sabermos mais em quem acreditar. Ao desabrochar do século XXI, as multiplicidades de discursos colocam nossas interpretações em xeque a todo momento, fazendo que que duvidemos de cada palavra proferida ou escrita. Uma certa dose de desconfiança pode dar outros ares ao leitor que se aventurar nesse romance. Acredite em mim… ou não!
Autor: E. O. Chirovici
Tradução: Roberto Muggiati
Editora: Record
Páginas: 322
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SINOPSE – Quando o agente literário Peter Katz recebe por e-mail um manuscrito parcial intitulado O livro dos espelhos, ele fica intrigado. O autor, Richard Flynn, descreve seus dias em Princeton, e documenta sua relação com Joseph Wieder, um renomado psicólogo, pesquisador e professor. Convencido de que o manuscrito completo vai revelar quem assassinou Wieder em sua casa, em 1987 — um crime noticiado em todos os jornais mas que jamais foi solucionado —, Peter Katz vê aí sua chance de fechar um negócio de um milhão de dólares com uma grande editora. O único inconveniente: quando Peter vai atrás de Richard, ele o encontra à beira da morte num leito de hospital, inconsciente, e ninguém mais sabe onde está o restante do original. Determinado a ir até o fim neste projeto, Peter contrata um repórter investigativo para desenterrar o caso e reconstituir o crime. Mas o que ele desenterra é um jogo de espelhos, uma teia de verdades e mentiras, e uma trama mais complexa e elaborada que a do primeiro lugar na lista de mais vendidos dos livros de ficção.
Formado em Letras pela UERJ/FFP, é professor e pesquisador da literatura policial brasileira. Aprendeu a gostar de ler com Veríssimo, mas tem o hábito de dosar a leitura de Sherlock Holmes, com pena de que a obra acabe. Gosta de filosofia, história e futebol. De Niterói, RJ.
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