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RESENHA | Primeira página – Conflito na Baiana, JM Costa

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As grandes cidades brasileiras oferecem matéria-prima de sobra para a ficção policial. O contexto da violência urbana como dado onipresente nas vidas de milhões de pessoas é terreno fértil para a criação de histórias sobre crimes. Primeira página – Conflito na Bahiana (Edição do autor, 168 páginas) extrai dessa realidade tão corriqueira quanto terrível o mote de sua trama.

Tudo começa quando uma menina de nove anos liga para a redação do jornal Diário Carioca e cai na linha da jovem repórter Clara Gabo. Apavorada, relata um crime que está testemunhando naquele momento pela janela de casa: a tortura de sua mãe por policiais militares. A repórter segue para a Bahiana, favela onde se desenrolou a cena, decidida a cobrir os fatos. Daí para frente, Clara precisará passar por cima de traficantes, policiais corruptos e seus próprios superiores para relatar a inconveniente verdade do que ocorreu no morro.

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Primeira página é um romance policial urbano onde não há um mistério a ser desvendado; o crime é cometido a céu aberto. A narrativa se concentra no que essa agressão desencadeia: uma frenética sucessão de acontecimentos que mantêm o leitor num constante estado de expectativa.

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O ritmo é veloz, com poucas pausas para respirar, e certas cenas parecem ter sido pensadas como parte de um filme de ação, com direito a sequestro, tiroteios e escutas ocultas. Ao mesmo tempo, a violência não é banalizada, e o autor J. M. Costa explora a turbulenta relação entre a polícia e a população das favelas cariocas para contar uma história sobre corrupção e a competição pela notícia.

Outro ponto de destaque é que o autor usa de sua experiência como jornalista em vários veículos cariocas. Costa retrata de maneira verossímil o ambiente das redações e as regras da produção de notícias, apresentando todas as etapas da transformação de um fato em reportagem, bem como os bastidores das manchetes exibidas nas bancas – e consegue fazê-lo de modo útil à trama, sem que essas informações apareçam gratuitamente. O pano de fundo do jornalismo também é uma ferramenta valiosa para o desenvolvimento da protagonista, Clara Gabo.

Jovem e competente, Clara precisa lidar com diversos dilemas, sendo o principal deles a complexa relação entre o ideal de relatar a verdade, lançando luz sobre acontecimentos escusos e denunciando criminosos, e seguir o jogo da notícia: a constante alimentação da narrativa para manter o interesse dos leitores, a disputa para se manter à frente de outros repórteres em busca de seus próprios furos. Estes elementos enriquecem a personagem, inserindo mais variáveis em sua jornada, tornando-a mais instigante.

As ressalvas acerca de Primeira página são mais de forma do que de conteúdo e, de maneira geral, se caracterizam por certa falta de sutileza ao longo de todo o livro. Há diálogos um tanto forçados, e o autor busca, em certos momentos, emular uma coloquialidade – na narração e nas falas – que não soa natural. Há momentos em que o palavreado utilizado pelos personagens os faz parecer mais jovens do que são, o que causa certa estranheza.

A linguagem utilizada em certas passagens mais reflexivas é muito carregada no drama, e o mesmo pode ser dito de alguns dos eventos no final do livro (como certo reencontro), que me fez lembrar de cenas de novelas, um efeito que não me parece combinar com a história contada. O autor também pesa a mão ao enfatizar a fibra moral de Clara, sempre encontrando maneiras de trazer isso à tona, mesmo quando o fato já está claro.

Apesar desses pequenos problemas – que, a bem da verdade, podem não incomodar a todos –, Primeira página tem fôlego e personalidade, se destacando na produção brasileira atual de romances policiais e mostrando que o gênero dialoga com os problemas sociais contemporâneos.

Título: Primeira página – Conflito na Baiana
Autor: JM Costa
Ano: 2017
Editora: (independente)
Páginas: 168
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SINOPSE – O telefone toca na mesa de uma repórter do Diário Carioca. Do outro lado, desespero. Uma garotinha de 9 anos narra, ao vivo, o crime brutal que vê pela janela de casa. A vítima é sua mãe. O diálogo tenso, a partir de então, dita o tom acelerado que acompanha o leitor do primeiro ao último capítulo de “PRIMEIRA PÁGINA – Conflito na Baiana”. Clara Gabo, repórter carioca em início de carreira, não mede esforços para atender ao pedido de ajuda da menina que lhe procurou por telefone. Mesmo que isso signifique contrariar orientações de sua chefia e colocar a própria vida em risco. À medida que avança na reportagem e publica seus desdobramentos na primeira página do jornal, Clara descortina uma série de fatos que podem comprometer a cúpula da segurança no Estado e até mesmo a sua carreira.

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