Por Rogério Christofoletti – Depois de cemitérios, apenas um lugar aparece com tanta frequência em histórias de terror: casas mal-assombradas. No imaginário popular, elas são construções velhas, descuidadas, escuras e quase sempre sujas. São cobertas por teias de aranha, são silenciosas, empoeiradas e inabitadas, ao menos por gente viva. Mas esse cenário é um lugar até confortável se comparado à morada da família Snedeker em Southington, Connecticut, Estados Unidos. Afinal, o lugar foi o lar do casal Carmen e Al, de seus filhos e sobrinhas em meados dos anos 1980 e ele não parecia nada suspeito. Era uma elegante casa em estilo colonial, com dois andares, porão, espaçosa e num bairro muito tranquilo. Melhor ainda: o aluguel cabia no bolso e não ficava longe do hospital onde o adolescente Stephen passava por um delicado tratamento oncológico.
Abalados com a doença repentina em alguém tão jovem, os Snedeker precisaram mudar de cidade para facilitar a batalha contra o câncer. Pensaram que a sorte estava ao seu lado quando se depararam com o sobrado em reforma. Tudo parecia perfeito até que Carmen descobriu a razão da oferta: na casa, por diversos anos, havia funcionado uma funerária. O leitor vai pensar: ninguém, no juízo perfeito, aceitaria ficar naquele lugar, certo? Mas e se a família estivesse realmente desesperada para mudar? E se não pudessem bancar outro imóvel? E se no local não houvesse morrido ninguém, só tivessem preparado os corpos para as despedidas finais?
Foi o que pensaram os Snedeker e não foi preciso muito tempo para que vivessem o inferno sob aquele teto. Primeiro vieram as vozes do porão, os inexplicáveis sopros gelados na nuca e os sonhos horríveis. Depois, pessoas pálidas e tenebrosas começaram a aparecer (e a desaparecer) nos cômodos. Aí, vieram os cutucões e beliscões de mãos invisíveis, outros fenômenos paranormais e ataques físicos e psíquicos cada vez mais graves. Stephen não melhorava, Carmen não acreditava nas queixas dos filhos e se sentia cada vez mais sozinha, já que Al ainda não tinha conseguido se transferir para cidade e viajava toda semana.
Lugar sombrio, de Ray Garton e do casal Ed e Lorraine Warren, é um livro que conta em detalhes o sofrimento dos Snedeker naquela maldita casa. Da série Arquivos Sobrenaturais, o volume vem na sequência de “Demonologistas”, estréia da dupla de caça-fantasmas no Brasil pela DarkSide Books em 2016.
Se você não liga os nomes às pessoas, lembre-se de Amityville (outra casa mal-assombrada) e da boneca Annabelle. Ed e Lorraine foram chamados nessas ocasiões para enfrentar possessões, espíritos malignos e demônios, e com isso construíram uma carreira de décadas fazendo conjurações e desafiando as trevas.
Se no livro anterior, diversos casos ficaram diluídos ao longo das 272 páginas, em Lugar sombrio, o leitor fica o tempo todo hospedado com a família atormentada. Os capítulos curtos dão ritmo para a leitura e é possível devorar outras 272 páginas em um ou dois dias, dependendo da coragem de quem lê. A prosa crua – quase jornalística – realça o realismo das situações descritas e o drama humano dos personagens apela para a nossa compaixão. Diferente de seu antecessor, em Lugar sombrio, o casal paranormal não é o centro das atenções, o foco das câmeras. As relações familiares, os sentimentos humanos, as fraquezas individuais e os destinos dilacerados de pessoas comuns sobem ao palco e o ocupam sem nenhuma cerimônia. Um segredo odioso e inaceitável escorre por aquelas paredes e se impregna nas vigas do edifício. E o que sustenta aquilo tudo é violência, dor, e terror, muito terror.
A história dos Snedeker foi adaptada para o cinema em 2009 e chegou às salas de exibição com o título “Evocando espíritos” (The Haunting in Connecticut), e reserva alguns sustos, mas se distancia em muitos momentos da história original e é bem mais leve que o livro. Na ânsia de comprimir os acontecimentos, várias passagens arrepiantes foram deixadas de fora pelos realizadores, o que faz da leitura uma experiência mais brutal e marcante.
Lugar sombrio vem elegantemente embalado numa capa que simula aquelas velhas edições de capa dura revestidas com tecido vermelho-arroxeado. Desgastada de propósito, suja, mas com letras em dourado e tortuosas cruzes riscadas. O que tira um pouco do brilho da edição são os deslizes na revisão de texto. Contei meia dúzia de escorregões na flexão verbal, ortografia e digitação (veja as páginas 23, 29, 77, 133, 175 e 244). Parece pouco, mas a DarkSide tem uma equipe de revisores que não costuma cochilar…
Apesar disso, Lugar sombrio é uma excelente diversão. Até mesmo para você que se considera cético e corajoso. Inclusive para essa pessoa pálida e sem vida atrás de você…
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Título: Ed & Lorraine Warren: Lugar sombrio
Autor: Ray Garton
Editora: Darkside Books
Páginas: 272
Este livro no Skoob
SINOPSE – O casal de investigadores paranormais favorito dos darksiders está de volta. Depois do grande sucesso de Ed & Lorraine Warren: Demonologistas, a DarkSide® Books reabre seus Arquivos Sobrenaturais para desenterrar um dos casos mais assustadores dos últimos 30 anos. Descubra a verdadeira história por trás do exorcismo de Connecticut em Ed & Lorraine Warren: Lugar Sombrio. Mesmo quem tem medo do assunto certamente já ouviu falar deles. Seus casos mais famosos, como os de Amityville, Rhode Island e de Enfield, por exemplo, foram adaptados para o cinema. Até mesmo a endiabrada Annabelle está no currículo de assombrações, poltergeists e espíritos obsessores enfrentados pelo casal Warren. Claro,a boneca legítima faz parte da coleção que Lorraine, hoje com 90 anos, mantém em casa. Ed & Lorraine Warren: Lugar Sombrio é o relato meticuloso dos fenômenos que infernizaram a vida de um casal norte-americano após sua mudança para uma antiga casa em que havia funcionado uma funerária anos antes.Um a um, os membros da família passam a ser atacados por uma presença sinistra, em acontecimentos cada vez mais extremos: de vozes na escuridão até violações fantasmas. É nesse ambiente de desespero que Ed & Lorraine Warren são recebidos, prontos para mais um combate direto com o mundo das sombras.
Jornalista, dramaturgo e professor universitário. Já publicou 12 livros na área acadêmica e escreveu oito peças de teatro. É um dos autores do e-book “Os Maiores Detetives do Mundo” (Chris Lauxx).