resenha

Os babuínos psicodélicos de Huxley em O Macaco e a Essência

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Por Ana Paula Laux – Meu primeiro contato com Aldous Huxley foi através do The Doors, grupo da era hippie da década de 1960. Amava as letras do Jim Morrison, que dizia ter se influenciado nos livros de Aldous Huxley para oferecer viagens psicodélicas pelas suas canções. O próprio nome da banda é uma alusão à “The Doors of Perceptions”, As Portas da Percepção, livro de 1954 escrito por Huxley.

Esse nariz de cera é para contextualizar meu interesse por esse autor desde sempre, embora eu pouco conheça sobre seus livros. Huxley morreu faz muito tempo, em 1963, e tanta água passou por debaixo da ponte desde então (o que não significa que muito tenha mudado). Sua obra continua sendo discutida com frequência porque sua crítica afiada é relevante, como em O Macaco e a Essência, ambientado num cenário distópico e extremo.

No livro, um roteirista de Hollywood se interessa por um roteiro descartado pela indústria cinematográfica e vai atrás do misterioso autor para descobrir mais sobre sua origem. Dele só sabe o nome, William Tallis, e o endereço, um rancho esquecido no meio do deserto. Impossibilitado de encontrar o tal Tallis, o que se segue é o roteiro na íntegra a partir do segundo capítulo adiante, como uma reprodução da história em si. E ela acontece num ambiente após a Terceira Guerra Mundial.

É claro que a Terra foi acometida pela radiação, um medo que persistiu por décadas no imaginário das pessoas na metade do século passado, restando apenas grupos de sobreviventes. O “macaco” do título é uma sátira que Huxley se apropria, numa batalha entre homens e babuínos que leva a uma guerra nuclear (sim, bizarro!). Neste cenário, o que restou do planeta é explorado por um grupo de cientistas que se deslocam para a Califórnia para estudar o que restou dos povos sobreviventes. Seguem-se críticas à própria indústria bélica, religião, às conjunturas cínicas do sistema.

 

“O medo é a própria base e o fundamento da vida moderna”

 

A arquitetura de O Macaco e a Essência talvez assuste quem prefere leituras com estruturas narrativas mais convencionais, mas vale a pena seguir adiante porque a crítica atemporal de Huxley é intrigante e contemporânea.

O autor, cuja obra mais famosa é Admirável Mundo Novo, escreveu vários roteiros para o cinema na década de 1940. Sempre achei que ele fosse americano mas era nascido na Inglaterra, vinha de uma família de intelectuais, então não podia acabar de outra forma. Foi um dos intelectuais mais respeitados de sua época e vive ainda hoje em seus livros.

A nova edição de O Macaco e a Essência saiu pela Biblioteca Azul, selo da Editora Globo, com um design impressionantemente lindo. Vale a pena se perder nessa leitura alucinógena.

 

SOBRE O LIVRO

Título: O macaco e a essência
Autor: Aldous Huxley
Tradução: Fábio Bonillo
Editora: Globo
Páginas: 160
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SINOPSE – Bob Briggs é um roteirista de Hollywood às voltas com problemas amorosos. Ao expor a vida conturbada ao amigo e confessor, em passeio pelos estúdios, ambos quase são atropelados por um caminhão que carrega roteiros recusados pela indústria cinematográfica, a caminho da incineração. Depois de uma curva brusca, meia dúzia de roteiros é atirada para fora do veículo, espalhando-se pela rua. Por curiosidade, a dupla começa a ler os textos. E um em particular desperta a atenção dos dois: chama-se “O macaco e a essência”, escrito por um certo William Tallis. Instigados pela temática, saem à procura do autor da obra. A busca é infrutífera e o que se segue é a apresentação do roteiro na íntegra: um filme que conta a história do mundo pós Terceira Guerra Mundial, destruído por bombas radioativas, e da expedição de redescobrimento dos Estados Unidos no século XXII, dominado por babuínos. Na obra―crítica mordaz aos rumos da ciência e da civilização do século XX―nada escapa à metralhadora giratória de Huxley. Para ele, não há ideologia que não rotule e aprisione o homem, enquanto a ganância parece se apropriar do avanço científico. Publicado originalmente dezesseis anos após “Admirável mundo novo”, “O macaco e a essência” reafirma a genialidade e o tom apocalíptico de Huxley, sempre implacável com a força destrutiva que o ser humano é capaz de liberar.

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