Por Alexandre Amaral – Em diversos momentos, a agitação nacional passa a ser objeto de observação. Momentos de euforia ou profunda incapacidade de um povo figuram na história e também na literatura. No Brasil não tem sido diferente. Em meio ao caos politico, social e econômico, muitos tentam nadar nesse mar e tirar proveito desses assuntos. Mas poucos conseguem atingir a crista da onda como 2.990 Graus de Adilson Xavier.
Com muita habilidade, e não há no momento palavra melhor para definir a forma como foi feito, diversos temas sensíveis à realidade brasileira são entrelaçados numa trama que parece construída com notícias de jornal. Corrupção em diversos níveis, jogos de poder político, influência econômica e interesses de igrejas, tudo isso dialogando com resquícios de uma história controversa que foi a ditadura militar.
Há no livro todo um percurso construtor e identificador dos personagens, o que nos leva a relacioná-los com elementos da realidade presente ou recente, tudo num clima de uma moral duvidosa e frouxa que atinge, em níveis diferentes, até alguns personagens que agem em nome da lei. Ao mesmo tempo que Adilson Xavier nos entrega uma crítica à situação nacional, ele também acaba por ressaltar o sentimento de prostração que pode atingir um povo.
Apesar de ficção, elementos da realidade cotidiana permeiam todo o livro e reativam, mesmo que momentaneamente, aquela indignação, quando não, abrem aquele sorrisinho de canto de boca ao “confirmar” suspeitas que sempre tivemos. O político que desvia verbas, o pastor com interesses políticos que o fazem capaz de manipular seus fiéis, o policial que zela pela moral, mas se submete a interesses escusos em nome de seus superiores.
Todo esse emaranhado de informações que parecem realidade são elementos da narrativa contada pelo Delegado Hermano, ou Maninho, para os mais chegados. Delegado no Rio de Janeiro, precisa desvendar o assassinato de políticos mortos com os órgãos internos queimados por um maçarico que atinge em média 2.990ºC. Com as investigações indo ao encontro de interesses dos mais variados, diversas dificuldades burocráticas, dentro e fora da lei, exigem do delegado jogo de cintura e até vista grossa em alguns momentos.
Com escrita fluída e ritmo frequente, 2.990 graus – A Arte de Queimar no Inferno pega o leitor pela mão e o leva até o fim do livro entregando um romance bem delineado, com personagens marcantes e pontos de clímax que prendem a atenção. Mais do que um romance policial, o romance pode ser percebido como uma crítica bem contextualizada à realidade brasileira, ficcionalizada de uma forma criativa e moderna.
* Exemplar enviado pela editora Panda Books
Autor: Adilson Xavier
Editora: Panda Books
Páginas: 320
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SINOPSE – O jovem delegado Hermano está longe de ser um policial típico. Filosofa sobre a verdade, gosta de poesia. Inexperiente e orgulhoso por jamais ter usado sua arma, ele recebe a missão de investigar o assassinato de um deputado federal acusado de desviar verbas destinadas às vítimas de uma grande inundação. A arma do crime foi um maçarico, usado com impressionantes requintes de crueldade. Outros políticos são mortos com o mesmo ritual torturante. Um pastor evangélico, ex-presidiário, surge como suspeito. A população batiza os assassinos como “Vingadores do Povo”. Pressão total. Ódio e desinformação esquentam os ânimos. A vida de Hermano se transforma num inferno.
Formado em Letras pela UERJ/FFP, é professor e pesquisador da literatura policial brasileira. Aprendeu a gostar de ler com Veríssimo, mas tem o hábito de dosar a leitura de Sherlock Holmes, com pena de que a obra acabe. Gosta de filosofia, história e futebol. De Niterói, RJ.
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