Por Leila Gonçalves – No final de 1960, John Fowles começou a redigir seu primeiro livro e, em apenas um mês, o rascunho estava pronto. No entanto, ele levou cerca de um ano para revisar e mostrá-lo a um agente, que ficou entusiasmado com o resultado. “O Colecionador” só chegou às livrarias em 1963 e seu estrondoso sucesso trouxe a tão sonhada independência financeira para Fowles, que pode largar o magistério e dedicar-se exclusivamente à carreira de escritor.
Frederick Clegg é funcionário público que tem como passatempo colecionar borboletas e perseguir Miranda Grey, uma bonita estudante de artes plásticas. Ao receber um vultoso prêmio de loteria, ele decide capturá-la, como se a jovem fosse uma espécie rara que não pudesse faltar em sua coleção. Na realidade, ele acredita que, se Miranda tiver uma chance de conviver ao seu lado, acabará se apaixonando.
Dividido em quatro capítulos, os dois primeiros correspondem a 80% do livro e exceto pelo diário de Miranda no cativeiro, todos estão a cargo de Frederick. A vantagem de duas vozes em primeira pessoa está na abordagem de personalidades distintas, inclusive, na maneira de se expressar. Sem dúvida, uma estratégia que adiciona um adensamento psicológico ao enredo e traz à tona um interessante olhar para a classe média inglesa da época, com seus valores sociais e econômicos bastante distintos.
O enfoque narrativo fica por conta deste relacionamento. Revelando um amor platônico e sem conotação erótica por parte do sequestrador, Miranda consegue confundi-lo constantemente com sua superioridade, sensibilidade e cultura. Em alguns momentos, essa situação chega a atrair a compaixão da jovem e até do próprio leitor. Uma curiosidade é que este distúrbio psíquico foi denominado Síndrome de Estocolmo pelo criminólogo e psicólogo Nils Brejerot dez anos mais tarde e está relacionado ao famoso assalto de Norrmalmstorg do Kredibanken, na capital sueca.
Por sinal, é perturbadora a maneira como Frederick não vê nada de errado com suas atitudes, exibindo justificativas para todos seus atos, já Miranda descreve seu dilema emocional como prisioneira de um homem isento de qualquer empatia pelas pessoas. Enquanto ele é obtuso e medíocre, a estudante revela-se cheia de vida e de apurado senso estético. Por sinal, é perfeito o apelido que ela lhe dá, Caliban, uma criatura abjeta e disforme da peça “A Tempestade”, de Shakespeare.
“O Colecionador” estava restrito a sebos há décadas e é muito bem-vinda a reedição pela Darkside Books. Com nova tradução de Antônio Tibau e em capa dura, o livro exibe um belíssimo projeto gráfico e visual. Também está bem diagramado e foi impresso em papel off-white de boa gramatura e opacidade. Quanto aos extras, eles são indispensáveis e foram escolhidos a dedo:
a) Prefácio de Stephen King, escrito em 1989.
b) Posfácio que discorre sobre as referências artísticas (teatro, literatura, música e artes plásticas) que fazem parte da narrativa.
Como possuem spoilers, para quem não conhece a história, recomendo a leitura após a conclusão da narrativa.
Notas
a) A adaptação de “O Colecionador” mais conhecida é um filme homônimo, de 1965, com Terence Stamp e Samantha Eggar nos papéis principais. Trata-se de uma raridade e algumas cenas estão disponíveis no YouTube.
b) John Fowles é autor de outro best-seller que virou filme: “A Mulher do Tenente Francês”. Recomendo especialmente o livro, uma ousadia literária.
[Imagem: Divulgação Darkside Books]
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O Colecionador, de John Fowles
Autor: John Fowles
Tradução: Antonio Tibau
Páginas: 256
Editora: Darkside Books
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SINOPSE – O Colecionador é a história de Frederick Clegg, um homem solitário, de origem humilde, menosprezado por uma sociedade esnobe, que encontra o grande amor de sua vida. Tudo o que ele deseja é passar um tempo a sós com ela, demonstrar seus nobres sentimentos e deixar claro que eles nasceram um para o outro. O Colecionador também é a história de Miranda Gray, uma jovem estudante de artes sequestrada por um maníaco que acha que pode obrigá-la a se apaixonar por ele. Tudo o que ela deseja é escapar do cativeiro, e vai usar de toda sua inteligência para sobreviver ao inferno em que sua vida se transformou. O Colecionador é um livro narrado por dois personagens antagônicos: o sequestrador e sua vítima. Ferdinand e Miranda. Todos temos um pouco dos dois dentro de nós, concluímos ao final de suas páginas — quem consegue se desgrudar delas? Essa obra-prima lançada em 1963 continua perigosamente atual. Best-seller internacional, e ainda um sucesso de venda nos sebos após décadas fora de catálogo no Brasil, o grande romance de estreia de John Fowles está de volta com uma ediçãode colecionador pela DarkSide Books.
Doente por livros, vem sendo tratada sem resultado há mais de cinquenta anos pelo alienista Simão Bacamarte. Aposentada e com tempo de sobra, parece haver pouca esperança em sua recuperação. Sem formação acadêmica na área e nenhuma foto de identificação, pode ser facilmente encontrada entre os detetives e vilões da ficção policial, em geral, com um e-book na mão.
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