Por Raul Sousa – Ellery Queen foi um dos grandes nomes da literatura policial clássica, mas é pouco lembrado nos dias de hoje no ocidente. Não o culpo, caro leitor. Agatha Christie foi uma autora sensacional, o cânone holmesiano chama a atenção até hoje e a crueza de Raymond Chandler marca facilmente vários leitores, interessados no gênero policial ou não. Talvez as pessoas com mais idade acabem lembrando desse nome, pois havia uma revista que apresentava diversos contos policiais. Ellery Queen foi um autor americano que escreveu entre o final dos anos 20 até meados dos anos 70. Foram cerca de 30 livros levando seu nome como autor e também como o detetive das histórias. Parece confuso? Foi exatamente assim que eu me senti ao ter o primeiro contato com ele.
Isso aconteceu quando assistia um anime chamado Detective Conan, no episódio 57, quando um dos personagens afirma que prefere Ellery Queen a Conan Doyle. Aquilo fez com que eu procurasse rapidamente sobre o autor na internet. Informações em português eram tão escassas que a Wikipédia foi realmente uma das únicas fontes que encontrei sobre o autor. Após um bom tempo, consegui comprar alguns livros e passei a entender melhor como um autor poderia ser um detetive.
No começo do livro Um Morto na Plateia (ou O Mistério do Chapéu Romano, como prefiro chamar), é explicado que Ellery vivia com seu pai, sua esposa e um filho num lugarejo da Itália. Ele mantinha um registro de seus casos embora nunca os tenha publicado. Ficamos sabendo também que Ellery era filho de um lendário inspetor de polícia da cidade de Nova York, Richard Queen. Talvez a sacada mais genial era que os nomes Ellery e Richard Queen eram pseudônimos. Quem era esse misterioso cavalheiro que elucidava crimes e que escrevia livros sobre crimes?
Essa tensão permaneceu por muitos anos até que o próprio Ellery Queen aparece, mascarado, para dar uma palestra na Universidade de Columbia em 1932. O mistério acaba sendo revelado apenas anos depois: Ellery Queen não existia de fato, era criação de dois primos, Frederic Dannay e Manfred B. Lee. Quem fazia as aparições públicas usando máscara e posando como Ellery Queen era Lee.
A revista publicava contos de diversos autores, alguns conhecidos e outros nem tanto. Agatha Christie publicou alguns contos lá, Rex Stout também, Simenon, Margery Allingham, G. K. Chesterton, John Dickson Carr, além de contos do próprio Ellery Queen. No Brasil, começou a ser lançada em 1949 e foi até meados dos anos 70. Tivemos 14 contos publicados por autores brasileiros até hoje, de Rubem Fonseca a Carlos Orsi.
Os livros eram construídos procurando fornecer ao leitor todas as pistas do caso. O intuito era instigar o leitor a descobrir o truque usado. Isso fica mais evidente com o Desafio ao Leitor, onde o próprio Ellery desafiava o leitor a descobrir o assassino. Essa fórmula foi utilizada nos 10 primeiros livros e depois acabou sendo descontinuada. Ainda assim, o mistério era apresentado ao leitor de maneira justa. Os livros passam por uma mutação constante e o Ellery de O Signo dos Nove não é o mesmo de Um Morto na Plateia. Alguns estudiosos dividem o cânone elleryano em quatro fases distintas: a fase clássica, a fase de Hollywood, a fase de Wrightsville e a fase pós-Wrightsville. Concordo com a divisão e acredito que as melhores fases são a fase clássica por conta dos mistérios intrincados e a fase de Wrightsville, onde o personagem passa por certas mudanças mas sem tornar-se maçante.
Cinco livros que valem a pena ler de Ellery Queen: Um Morto na Plateia (The Roman Hat Mystery), O Mistério do Sapato Holandês (The Dutch Shoe Mystery), O Mistério da Cruz Egípcia (The Egyptian Cross Mystery), Um Crime de Encomenda (Calamity Town) e O Golpe de Misericórdia (The Finishing Stroke). Os livros são difíceis de serem encontrados aqui no Brasil mas há certo apreço pelo personagem fora do país, principalmente em terras orientais. Os japoneses e coreanos adoram Ellery Queen e até hoje ele é considerado importante naquelas regiões.
[Imagem: Getty Images]
Estudante de economia, pesquisador e colecionador de obras policiais. Nas horas vagas, joga jogos de detetive ou escreve.
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