Por Éder Alex – O vício em literatura policial começa de forma inocente, com uma Agatha Christie aqui, um Arthur Conan Doyle acolá e quando o usuário menos percebe, já está lá numa prateleira suspeita em busca de algum autor norueguês de nome impronunciável.
Em estágio avançado, o dependente passa a ler qualquer coisa e, o que é mais grave, passa a sentir muito prazer com aquilo independentemente da qualidade do produto. Esse “Gritos no Silêncio”, por exemplo, nem é lá grandes coisa em termos literatura, mas li quase que numa sentada, simplesmente porque virei refém dos ganchos nos finais dos capítulos, mesmo quando eles eram bem mequetrefes e forçados. E eis que me diverti bastante lendo um troço que talvez nem seja tão divertido assim, por puro vício. Drogas, tô dentro.
A história escrita pela inglesa Angela Marson fala sobre cinco sujeitos que, numa noite, enterram um corpo numa cova perto de um orfanato e fazem um pacto de silêncio. Anos depois, uma dessas pessoas é assassinada numa banheira e outras quatro entram pra lista daquele que parece ser um serial killer ou talvez só alguém querendo resolver as tretas do passado.
E aí entra em cena Kim Stone uma detetive fodona, que tem um passado triste e anda de Kawasaki Ninja. Ela e seus colegas passam a investigar o caso que cada vez mais parece ter raízes lá no passado.
Um mérito do livro é o de desenvolver uma trama com proporções razoavelmente grandes, com trocentos personagens, sem que isso fique confuso ou que os personagens surjam de forma gratuita só para que a gente fique desconfiando de todo mundo. De certa forma, todo mundo tem uma função plausível para o andamento da narrativa.
Angela Marsons não é exatamente uma escritora muito inventiva, mas segue bem a cartilha da literatura de entretenimento. Pelo menos funcionou bem comigo.
As limitações da autora estão principalmente na linguagem e, por conseguinte, no desenvolvimento dos personagens. Um dos pontos mais fracos é que a Marsons tenta inserir comentários bem-humorados o tempo todo na boca dos personagens, mas estes comentários engraçados sofrem de um problema terrível: eles não têm graça. Chega até a ser meio desconcertante perceber a autora tentando ser engraçada ou espertinha e falhando miseravelmente.
Outro elemento um tanto desastroso são os capítulos em itálico narrados pelo próprio criminoso (ou criminosa). Tudo aquilo que você já havia entendido, passa a ser repetido pela própria pessoa que cometeu o crime, em detalhes, com justificativas e autoanálises psicológicas. É um desastre, é quase como chamar o leitor de débil mental.
Há apenas um momento em que o recurso funciona, quando cria um efeito meio cinematográfico de mostrar a mesma cena por dois ângulos diferentes, gerando um suspense lazarento. Mas tirando isso, não serve para muita coisa além de explicar demais e de forma nada convincente, já que a linguagem utilizada na primeira pessoa é a mesma da narração em terceira, o que me parece um erro besta de escritora iniciante.
No mais, como já disse, o livro é divertido, pois a despeito das falhas significativas, o leitor quer saber como diabos aquilo vai terminar, pois o mistério é realmente interessante e cheio de reviravoltas. Creio que esse livro daria uma boa série criminal dessas genéricas que a Netflix anda lançando toda semana. E não digo isso de forma negativa, afinal, Oi, meu é Eder, e eu estou há algumas horas sem consumir algo do gênero.
* Eder Alex é formado em Letras. Professor de comunicação e literatura.
Autora: Angela Marsons
Tradução: Marcelo Hauck
Páginas: 320
Editora: Gutenberg
Este livro no Skoob
SINOPSE – Os segredos mais obscuros não podem ficar enterrados para sempre. Na escuridão da noite, cinco figuras se revezam para cavar uma sepultura, um pequeno buraco em que enterram os restos de uma vida inocente. Ninguém diz nada, um pacto de sangue os une e seus segredos ficariam ali, para sempre. Anos mais tarde, Teresa Wyatt é brutalmente assassinada na banheira de sua casa, e, depois disso, mais mortes violentas começam a acontecer. Todas as vítimas têm algo em comum, e a detetive que encabeça o caso, Kim Stone, logo percebe que a chave para deter o assassino que está semeando o pânico na cidade é resolver um crime do passado.
Ana Paula Laux é jornalista e trabalha com curadoria de informação, gestão de mídias sociais e criação de conteúdo digital. Em 2014, lançou o e-book “Os Maiores Detetives do Mundo” (Chris Lauxx). Contato: analaux@gmail.com
Confira as dicas de lançamentos de suspense, mistério e terror para o mês de…
Livro de Rodrigo Marcon, O Antiquário, mistura suspense, mistério e questões históricas com o resgate…
Participe do sorteio de 1 exemplar no Instagram (até 31/10/2024) Millie é, sem dúvida,…
Confira as dicas de lançamentos de suspense, mistério e terror para o mês de…
Confira as dicas de lançamentos de suspense, mistério e terror para o mês de…
Ana Paula Laux - Se você está à procura de um livro que vai…