Por Ana Paula Laux – Na cultura popular, não é raro que tragédias da vida real virem histórias com elementos sobrenaturais. Muitas são perpetuadas por livros e filmes, como no caso de Horror em Amityville, Psicose, O Exorcista, Invocação do Mal. O mesmo aconteceu com o incêndio no Edifício Joelma.
A tragédia do Joelma ocorreu em 1974 em São Paulo, mas é lembrada até hoje pelo impacto que causou na vida dos que acompanharam ou leram sobre os episódios daquele dia. Em 1º de fevereiro, o prédio de 25 andares onde funcionava o Banco Crefisul de Investimentos pegou fogo com uma velocidade aterrorizante, levando pessoas a se jogarem dos altos andares para a morte em desespero, na tentativa de fugir das labaredas e fumaça tóxica que invadia escritórios. Equipes de televisão registravam as quedas ao vivo, em cenas que permanecem até hoje chocantes. Foram quase 200 mortos e outros 300 feridos.
Vozes do Joelma resgata a história daquele drama, além de abordar o misticismo que foi criado sobre a região onde o prédio, hoje conhecido como Edifício Praça da Bandeira, foi erguido. O livro traz contos de quatro autores familiares à literatura de terror e policial – Marcos DeBrito, Marcus Barcelos, Rodrigo de Oliveira e Victor Bonini -, com apresentação de Tiago Toy.
Os Mortos Não Perdoam, de Marcos DeBrito, é uma volta ao tempo, em particular a um crime que realmente aconteceu em 1948, próximo de onde o Joelma seria construído 24 anos depois. O caso, que ficou conhecido como Crime do Poço, é recontado de forma tão perturbadora que parece transportar o leitor para a mente do assassino, um químico que mata a mãe e as irmãs e as enterra em um poço no quintal da própria casa.
Rodrigo de Oliveira revive o dia da tragédia em Nos Deixem Queimar, usando do sobrenatural para descrever a perseguição a uma mulher no fatídico dia. Em Os Treze, Marcus Barcelos toma como base o caso real de treze vítimas encontradas carbonizadas dentro do elevador do Joelma no dia do incêndio. Impossibilitadas de serem identificadas, elas foram enterradas lado a lado no cemitério. E no último conto, Homem na Escada, Victor Bonini imagina uma história de sobrevivência e morte no prédio então ocupado, anos depois do incêndio.
Por que desastres como esse acontecem? Livros como Vozes do Joelma incentivam a busca pela informação dos motivos, e levam a uma reflexão sobre como devem ser prevenidos. No caso do Joelma, o motivo foi um curto-circuito em um aparelho de ar-condicionado por causa da má condição do sistema elétrico do prédio (apesar de apenas dois anos da inauguração).
Na conclusão do processo, o gerente-administrativo da Crefisul, o proprietário e um eletricista da Termoclima, empresa responsável pelo sistema de eletricidade da construção na época, foram condenados. Para que negligências e omissões jamais provoquem tragédias como essa novamente.
SOBRE O LIVRO
Título: Vozes do Joelma
Autores: Marcos DeBrito, Rodrigo de Oliveira, Marcus Barcelos, Victor Bonini, Tiago Toy
Páginas: 288
Editora: Faro Editorial
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SINOPSE – O trágico incêndio do Edifício Joelma deixou quase 200 mortos e mais de 300 feridos, além de ganhar as manchetes da época. Esse fato até hoje ecoa em boatos fantasmagóricos que envolvem a presença de espíritos inquietos nos corredores do prédio e lendas sobre lamúrias vindas dos túmulos onde corpos carbonizados foram enterrados sem identificação. Algo que nem todos sabem é que, muito antes do Joelma arder em chamas no centro de São Paulo, o terreno já havia sido palco de um crime hediondo, no qual um homem matou a mãe e as irmãs e as enterrou no próprio jardim. Devido às recorrentes tragédias que marcaram o local, há quem diga que ele é assombrado por ter servido como pelourinho, onde escravos eram torturados e executados. E sua maldição já fora identificada pelos índios, que deram-lhe o nome de Anhangabaú: águas do mal. Se as histórias são verdadeiras não se sabe… A única certeza é que a região onde ocorreu o incêndio tornou-se uma mina inesgotável de mistérios. E, neste livro, alguns deles estão expostos à loucura de autores que buscaram uma explicação.
Jornalista. Trabalha com curadoria de informação, gestão de mídias sociais e criação de conteúdo digital. Em 2014, lançou o e-book “Os Maiores Detetives do Mundo” (Chris Lauxx). Contato: [email protected]