“Um dos que mais me influenciaram foi Conan Doyle. Eu li Sherlock Holmes quando tinha 9, 10 anos de idade… (Doyle) era um escritor completo, que contava histórias de uma maneira extremamente vívida, e isso para mim sempre passou como uma verdadeira arte.”
Na mesa literária “Literatura Fantástica do Brasil”, que aconteceu na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) de 2016, Braulio Tavares comentou sobre a arte da narrativa e sua paixão pela literatura policial, literatura fantástica e ficção científica.
O escritor paraibano está com dois clássicos da ficção científica nacional em financiamento coletivo no Catarse pela Editora Bandeirola, A Espinha Dorsal da Memória e Mundo Fantasmo. Junto aos exemplares, o apoiador da campanha poderá escolher diversas recompensas especiais associadas à marcante obra de Tavares, entre marcadores de página, quadrinhos, ecobag e postais autografados.
Confira trechos do encontro literário na Flip 2016, que contou também com a presença do escritor André Vianco e mediação do jornalista Rodrigo Casarin.
“Eu acho que, na verdade, nós todos que fazemos tanto literatura quanto cinema, televisão e outras coisas, a gente está trabalhando em uma coisa que vai mais além disso tudo, que é a arte da narrativa. A teoria que circula por aí é que a narrativa, a história, é uma arte transversal que passa por dentro do cinema, do teatro, da literatura, das histórias em quadrinho, da ópera, da ópera rock também… Tem gente que gosta de contar histórias, e tem gente que gosta de ler ou assistir histórias. Isso é muitas vezes mal compreendido porque, por exemplo, no caso da literatura, tem gente que conta umas histórias absolutamente banais mas de uma maneira encantadora, de uma maneira lindíssima. É o estilo, é tudo.”
“Você vai ver, por exemplo, Machado de Assis, a história de Machado de Assis é um cara que estava com ciúme da esposa, depois percebe que não era nada disso, ela saiu para visitar uma amiga. Mas o conto é maravilhoso… os comentários, a maneira de ver, a maneira de escrever pequenos gestos, atitudes e tal, finuras psicológicas. Mas a narrativa em si é banal. A grande arte desse escritor, desse tipo de escritor para mim, é pegar uma narrativa banal onde nada acontece e fazer com que isso se torne uma experiência transcendental para o leitor. E tem o escritor que é dotado da capacidade de bolar histórias sensacionais.”
“Um dos que mais me influenciaram… Conan Doyle. Eu li Sherlock Holmes quando eu tinha 9, 10 anos de idade, e do Sherlock Holmes passei para os livros de ficção científica de Doyle, que são as histórias do Professor Challenger, que era O Mundo Perdido e vários outros, e os romances históricos de Conan Doyle que são os que ele preferia e que são sensacionais também, são obras maravilhosas. Então era um escritor completo, que contava histórias de uma maneira extremamente vívida, e isso para mim sempre passou como uma verdadeira arte.”
“Eu tive uma certa resistência depois com Machado de Assis, com Henry James que é muito parecido com o Machado, eu acho que o Henry James é o Machado de Assis americano ou britânico, são sempre aqueles salões com aqueles senhores e aquelas senhoras, cheio de subentendidos, de finuras, detalhes, nuances psicológicas entre eles e tudo mais. E eu fui galgando esse tipo de literatura e percebendo depois o quanto o estilo era tão importante quanto a história. É a mesma coisa no cinema, você tem um filme que conta uma história interessante e tem filmes que são totalmente banais mas a fotografia é lindíssima, a edição é lindíssima, os atores são maravilhosos, a trilha sonora e tudo mais, mas a história é desse tamaninho, é uma história que pode ser resumida em duas frases ou em três frases.”
“Então existe essa dupla vertente agora, para falar do momento atual, eu acho que é um grande momento para quem gosta de contar histórias, e do ponto de vista do público para quem gosta de ler e de assistir histórias. Então eu tenho visto uma discussão muito grande no presente dizendo, por exemplo no caso do cinema americano, os grandes roteiristas do cinema americano estão indo para as séries de TV e saindo do cinema porque o cinema está ficando cada vez mais previsível, são filmes de super heróis onde tem que ter um impacto violentíssimo… Então os roteiristas mais elaboradores de enredo, de situações, estão indo para essas séries de televisão que são ótimas, eu tô agora pegado com a série do Sherlock, que tem o Benedict Cumberbatch fazendo um Sherlock moderno, e Downtown Abbey que, se você gosta de Henry James, é Henry James puro”.
“Os americanos têm uma expressão muito boa para isso, eles dizem assim, “você tem que escrever uma história e fazer o leitor to care about the character, se preocupar, se incomodar, se ligar no personagem. Isso é um mecanismo que eu acho muito misterioso e muito interessante, porque eu tenho isso também… quando eu estou lendo eu sou absolutamente leitor, eu não sou escritor, eu não sou crítico literário, não sou nada. Quando eu estou vendo um filme, eu gosto de ver de coração aberto.”
“Ele fez um poema sensacional que é O Corvo, fez o Annabel Lee, ele fez vários contos, várias outras coisas… cada um de nós, lançando mão do seu universo peculiar, pode criar não somente obras importantes mas pode inventar um gênero.
Poe inventou um gênero, inventou um gênero policial, ele escreveu Os Assassinatos da Rua Morgue com crime de quarto fechado, as pessoas foram achadas mortas e ninguém sabia por onde o assassino fugiu e todas essas coisas, 1841, a literatura policial moderna começa com ele.
Mary Shelley criou o Frankenstein, que é considerado por muitos o primeiro romance de ficção científica ou o primeiro romance de terror. Eram pessoas que tinham uma idiossincrasia qualquer, uma loucura, um cacoete mental na cabeça e escreveram bem sobre isso, e criaram gêneros literários que hoje têm milhões de obras, milhões de livros. Cada um de nós pode criar não só uma obra, um gênero literário se for com suficiente grandeza literária de escrita e de concepção dentro do universo peculiar que cada um tem, que é único, como o desses escritores era único”.
“Eu acho que a ficção científica envolve uma certa emoção que eles chamam de sense of wonder, que é o senso de “maravilhamento”, de deslumbramento diante de como o universo funciona. É você descobrir como o mundo funciona, quais são aquelas regras, na verdade são regras entre aspas, leis entre aspas, são continuidades, são constantes que existem em um universo, e a gente vai percebendo que isso acontece, começa a prever consequências disso, e agir em função disso.”.
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Jornalista. Trabalha com curadoria de informação, gestão de mídias sociais e criação de conteúdo digital. Em 2014, lançou o e-book “Os Maiores Detetives do Mundo” (Chris Lauxx). Contato: analaux@gmail.com
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