Confira cinco dicas de romances policiais escritos por autores negros.
No que diz respeito à manutenção da lei, o Leste do Texas segue suas próprias regras – um fato que Darren Mathews, um agente negro da força especial Texas Rangers, conhece muito bem. Com sentimentos profundamente conflitantes sobre ter crescido no estado que é também o lar de uma das mais violentas irmandades arianas do país, ele foi o primeiro de sua família a se afastar o máximo que pôde do Texas. Até que o dever o chamou de volta. Quando a lealdade a suas raízes coloca seu distintivo em risco, ele viaja rumo ao norte pela Rodovia 59 até a pequena cidade de Lark, onde dois assassinatos – o de um advogado negro de Chicago e o de uma mulher branca local – trouxeram à tona antigos ressentimentos. Darren precisa solucionar os crimes e salvar a si mesmo, no processo, antes que a tensão racial de Lark entre em erupção. Envolto pela música, pelos sabores e pelas nuances únicas do Leste do Texas, Bluebird, Bluebird é um romance emocionante e oportuno sobre os embates entre raça e justiça nos Estados Unidos.
Chester Himes, em ‘O Harlem é escuro’ produziu um dos mais autênticos e brutais retratos desse bairro americano na metade do século passado. No livro, os policiais Coffin Ed e Grave Digger, respectivamente ‘Ed-Caixão’ e ‘Coveiro’, têm de lidar diariamente com o submundo do crime e resolver assassinatos e roubos banhados em muito sangue. À diferença de outros escritores do gênero, Himes imprimiu um tom de realidade à dupla de policiais, que rodava com sua viatura pelas ruas do Harlem – fielmente retratadas -, lado a lado com os criminosos. Himes (1909-1984) conhecia muito bem o bairro americano onde ambientou a maioria dos seus romances. Nascido no estado do Missouri, nos Estados Unidos, teve uma breve passagem pela Universidade de Cleveland, até ser preso por roubo à mão armada. Começou a escrever justamente no período em que permaneceu na cadeia, entre 1929 e 1936.
Neste romance policial,o escritor americano Walter Mosley nos apresenta um novo herói. Sócrates Fortlow, um personagem tão memóravel quanto o já conhecido detetive Easy Rawlins, protagonista de seus outros romances. Sempre em desvantagem foi vencedor do prêmio Anisfield Wolf, que desde 1934 premia títulos que discutem o racismo e a riqueza da diversidade humana. O livro faz parte da Coleção Negra, dedicada a mestres da literatura policial, que conta também com outro título de Mosley, Morte em Vermelho. Sócrates Fortlow é um filósofo das ruas. Mas não de qualquer ruela, e sim das perigosas ruas de Los Angeles. Apenas oito anos depois de deixar a prisão por um assassinato, Sócrates vive em barraco imundo, onde cozinha, bebe e luta com os demônios do passado. O tempo livre ele gasta catando latinhas para reforçar o magro orçamento e não hesita em usar suas próprias mãos para resolver problemas de sua vizinhança. Depois de passar 27 anos na prisão, lutando para controlar seu gênio forte – assim como suas fortes e assassinas mãos – Sócrates tenta viver uma vida honrada, como todo homem negro à margem de um mundo de brancos. Contudo, a miséria o cerca por todos os lados, as oportunidades de um emprego são inexistentes e todos à sua volta vivem uma vida para lá de ordinária. Forte, embrutecido e ao mesmo tempo sábio e cativante, Sócrates, agora livre e cada dia mais revoltado com a realidade de seus semelhantes, está determinado a usar sua força para o bem, ajudando os pobres e oprimidos do gueto negro de Los Angeles. Com isso, expulsa um assassino da cidade, afasta um garoto de um futuro de crimes e luta contra a tentação quando provocado pelo sexo oposto. Seus triunfos são pequenos se comparados aos grandes detetives da literatura noir, mas tudo que faz é puro, parte de sua bem delineada e desesperada essência de um negro que luta por seus direitos. Mosley cria um personagem psicologicamente muito rico para o que se costuma encontrar em romances policiais. Como seu homônimo grego, Sócrates vive se questionando em uma tentativa frustada de compreender seu próprio mundo. Em sua busca pela moral em meio à pobreza e à depravação, ele se consagra como um verdadeiro herói de nossos dias. Com Sempre em desvantagem Mosley contrói um romance de beleza sutil, estruturado em passagens curtas e independentes que vão se entrelaçando, exibindo todo o talento do autor na criação de personagens, tramas e diálogos – habilidades que o consagraram como o escritor americano que melhor capta as ambigüidades morais de nosso tempo. Um livro que já nasceu um clássico.
Um corpo amanhece em um beco, envolto em uma manta e com pequenas partes cortadas. O crime do cais do Valongo, de Eliana Alves Cruz, é um romance histórico-policial que começa em Moçambique e vem parar no Rio de Janeiro, mais exatamente no Cais do Valongo. O local foi porta de entrada de 500 mil a um milhão de escravizados de 1811 a 1831 e foi alçado a patrimônio da humanidade pela UNESCO em 2017. A história acontece no início do século 19 e é contada por dois narradores ― Muana e Nuno ― que conviveram com a vítima: o comerciante Bernardo Vianna.
Em Minha irmã, a serial killer (My sister, the serial killer), a nigeriana Oyinkan Braithwaite conta uma história ao mesmo tempo bem-humorada e assustadora sobre duas irmãs com temperamentos e atitudes bem diferentes uma da outra: Korede e Ayoola. Korede é amargurada, mas pragmática. Sua irmã mais nova, Ayoola, é a filha favorita, a mais bonita, e, possivelmente, com sérios distúrbios comportamentais. Seus três últimos namorados aparecem mortos. As duas irmãs desempenham papeis inusitados nessa trama de suspense e relações emocionais complexas. Oyn conduz a trama desse thriller psicológico com maestria que surpreende e encanta o leitor a cada página. Conta uma história cheia de suspense e mistério, com humor peculiar e ácido, sem deixar de lado a complexidade da mente de uma sociopata.
Jornalista. Trabalha com curadoria de informação, gestão de mídias sociais e criação de conteúdo digital. Em 2014, lançou o e-book “Os Maiores Detetives do Mundo” (Chris Lauxx). Contato: analaux@gmail.com
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