Por Ana Paula Laux – Diálogos bem elaborados, trama requintada e um mistério nebuloso conectando duas famílias acadêmicas. Eu me refiro a “Que fim levou Juliana Klein?”, romance policial do paranaense Marcos Peres, lançado no final de julho pela Editora Record.
Com quase 350 páginas, a narrativa revela os segredos dos Klein e Koch, famílias de linhagem alemã que imigraram para o Brasil perpetuando um ódio de gerações. Os grupos fincaram suas bandeiras nas principais universidades do Paraná – os Klein na Universidade Federal e os Koch na PUC – e são conhecidos por defenderem ideias antagônicas em qualquer circunstância pessoal ou profissional. O livro é recheado de citações filosóficas, com textos de Platão, Nietzsche, Sartre e Santo Agostinho, e diálogos reverberados pelos protagonistas para legitimar ações e reações adversas.
O mistério fundamental é descobrir o que aconteceu com Juliana Klein, professora de filosofia da UFPR que desaparece deixando poucas pistas e uma filha adolescente e problemática para trás. Além do sumiço, há uma série de mortes violentas envolvendo as famílias, crimes investigados pelo delegado Irineu de Freitas. Policial pragmático, ele se esforça para interpretar as pistas do caso, em meio à briga de egos e academicismos dos professores filósofos.
Um dos suspeitos do desaparecimento de Juliana é Franz Koch, coordenador do curso de filosofia da PUC-PR e viúvo da também professora Tereza, assassinada pelo marido de Juliana. A primeira tentação é pensar que haja uma desforra, uma vingança em jogo… É nesse ritmo “ameno” que a rixa das famílias vai sendo esmiuçada, expondo rancores, arrependimentos e amarguras. O tema das famílias adversárias é atualizado pelo autor. Se já tínhamos visto dois clãs se digladiando em Romeu e Julieta (Shakespeare) e Abril Despedaçado (Ismail Kadaré), por exemplo, agora essa guerra entre parentes assume outras características. São acadêmicos, que poderiam parecer insuspeitos, e são filósofos, muito distantes de criminosos comuns.
“Só nos damos conta de que existe o paraíso
quando somos expulsos dele”
Marcos Peres usa o tempo como recurso narrativo, mesclando diálogos entre os anos de 2005, 2008 e 2011 (o que me lembrou “O Hipnotista”, de Lars Kepler). O livro também exalta algumas paisagens de Curitiba, como as próprias universidades, o Teatro Guaíra e o Barigui, o “rio dos mosquitos-pólvora” que corta a capital paranaense. Chama também a atenção a estrutura do desfecho da trama e o mergulho nas relações no interior das famílias.
Vencedor dos prêmios Sesc e São Paulo com o livro “O Evangelho Segundo Hitler”, Marcos Peres faz uma boa estreia no gênero policial. “Que fim levou Juliana Klein?” é para quem procura uma leitura desafiadora.
Título: Que fim levou Juliana Klein?
Autor: Marcos Peres
Editora: Record
Páginas: 352
Ano: 2015
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SINOPSE: A morte de uma professora de filosofia revela a rivalidade – a princípio, filosófica – entre duas famílias proeminentes nas duas principais universidades do Paraná. Seria possível que o assassinato tivesse como causa desavenças acadêmicas entre os Koch e os Klein, ambos clãs que migraram da Alemanha para o Sul do Brasil? Ou teria algo a ver com um segredo enterrado no passado?
Jornalista. Trabalha com curadoria de informação, gestão de mídias sociais e criação de conteúdo digital. Em 2014, lançou o e-book “Os Maiores Detetives do Mundo” (Chris Lauxx). Contato: [email protected]