Por Raquel de Mattos – Provavelmente eu tenha sido atraída pelo título, talvez tenha sido porque eu adoro o Georges Simenon, mas sei que a leitura é imperdível.
Se você está procurando ação, emoção, perseguição, suspense ou qualquer outra coisa assim, não recomendo nenhum livro do nosso querido Jules Maigret (pelo menos não dos que eu li), mas de uma coisa você pode ter certeza: eles não vão te deixar na mão, não vão fazer você se sentir decepcionado ou frustrado, nem nada do gênero. O autor tinha uma magia na escrita que te prendia do começo ao fim, mesmo quando eles começavam meio mornos. Simplesmente não dá para parar de ler.
Bom, mas vamos ao Finado Sr. Gallet e ao nosso mais que esperto, Maigret. Antes porém, uma consideração: caso o leitor nunca tenha se mergulhado em aventuras literárias de Simenon, deixe-me situá-lo biograficamente. Muito se fala a respeito da reputação “romântica” do autor, da sua proficuidade de relacionamentos amorosos, mas a única relação que podemos fazer com estes e sua carreira literária é que eles cresciam na mesma proporção. Simenon escreveu muitos romances, contos (com e sem Maigret), com seu nome e seus 27 pseudônimos. Escreveu muito. Amou muito. Tudo era intenso. Tudo era muito. E também muito bom. Georges Simenon nasceu na Bélgica, morreu na Suíça e viveu pelo mundo, principalmente na França e nos Estados Unidos. É o quarto autor de língua francesa mais traduzido no Mundo!
Quando Simenon começa a escrever sobre o Comissário Maigret, ele busca a transição dos livros clássicos de literatura policial, que tinham os clássicos detetives amadores (Sherlock, Poirot) para um personagem com características mais reais, que trabalha na polícia, é casado, gosta do seu cachimbo e de cerveja, ou seja, muito parecido com os detetives noir de Chandler e Hammett, mas sem a brutalidade destes. Jules Maigret é um encanto rechonchudo, sem ser aquele típico bonachão ou bobo! Ele é o chefe, manda e é obedecido.
Quanto ao Sr. Gallet (agora, de verdade), foi lançado em 1931 e é o terceiro livro do autor com o protagonista. O livro começa com um Maigret atabalhoado de serviço por diversas intercorrências externas, o que o deixa sem pessoal. Quando chega a mensagem da morte do Sr. Gallet, sobra para ele ir até uma localidade próxima, avisar à família e fazer todos os trâmites e então ir ver o corpo. O início do livro custa um pouco a engrenar, mas como eu disse antes, é uma leitura deliciosa que não te deixa perder a engrenagem.
Ao longo do livro, Maigret percebe o quão complicado está aquele emaranhado de informações que não se encaixam e parece que a verdade está no centro do novelo. Mas, como mágica, o Finado Sr. Gallet começa a se mostrar para Maigret e a solução daquele crime estranho, sem suspeitos, começa a parecer plausível aos olhos do Comissário. Aliás, a mentira é percebida por ele de uma forma quase sólida no ar, mas ele não consegue pegar logo de início. Simenon consegue fazer com que o calor que faz seja perceptível na mesma dimensão das histórias que não se encontram, dando a quem lê aquela sensação sufocante e ao mesmo tempo nebulosa, que faz com que queiramos também sair correndo daquele lugar (ainda bem que não é o nosso trabalho!).
Quero salientar aqui que a obra em si não é uma joia rara da literatura mundial, nem tampouco a melhor obra de Simenon, mas como um entretenimento de boa qualidade, nenhum leitor poderá reclamar comigo de que o livro é ruim, longe disto. Pode, como eu, guardar na lembrança um livro lido há muito tempo e que dá aquele prazer gostoso em reler, mesmo que o final ainda esteja presente na cabeça. Aos que se aventurarem com a dica, desejo boa leitura.
Abraços literários!
Autor: Georges Simenon
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 228
Ano: 2015
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SINOPSE – Todas as circunstâncias da morte do sr. Gallet parecem falsas: o nome que usava durante sua última viagem, sua presumida profissão, abandonada em segredo há dezoito anos e, sobretudo, a dor de sua família. O desdém dos familiares revela sentimentos ambíguos sobre o desafortunado. E a investigação transforma em principal suspeito ninguém menos que seu filho, Henry Gallet. Nessa história assombrosa, diversas vezes adaptada para o cinema e a televisão, Maigret descobre a verdade desconcertante e o crime oculto sob um manto de mentiras.
Psicólogo, mestre e doutorando em Psicologia. Atua no sistema prisional. É músico e leitor assíduo de romances policiais, com aquele lugar especial no coração para Georges Simenon e Raymond Chandler.
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Adorei a relação de crescimento proporcional entre os relacionamentos amorosos e os livros, rsrs. Raquel, a impressão que tenho dos primeiros livros com o Comissário Maigret é que Simenon foi pegando o jeito com o tempo, tornando os enredos mais dinâmicos e cativantes. Como você disse, não deixam de ser bons romances, mas não representam o melhor do autor. Parabéns.
Eu concordo! Embora eu curta bastante O Cão Amarelo, que é de 1931, acho que o próprio Simenon foi "conhecendo melhor" o seu personagem com o passar dos anos, se familiarizando mais com ele... e alguns traços ficaram bem marcados após um tempo, como o hábito de fumar e colecionar cachimbos, e ainda aquela coisa lacônica do Maigret de falar pouco e observar muito... a personalidade foi ficando mais definida e identificável.