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Voo Fantasma, de Bear Grylls

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Por Rogério Christofoletti – A receita é manjada, mas ainda funciona. Junte conspirações mundiais, segredos da Segunda Guerra Mundial e cenários exóticos. Despeje generosas doses de ação e espalhe corpos de coadjuvantes pelas páginas. Adicione um protagonista determinado e corajoso, mas com uma tragédia familiar recente. Não se esqueça de salpicar com algum suspense, e, por fim, cubra um terço da capa do livro com o nome do autor, que convenientemente é uma celebridade midiática. Pronto! Sirva ainda quente.

“Voo Fantasma” (Ed. Record), a estreia do apresentador de TV e aventureiro Bear Grylls na ficção, funciona com esse modo de preparo. O thriller conta a saga de Will Jaeger numa missão mercenária para encontrar um misterioso avião nazista em plena floresta amazônica. Trata-se de uma rara aeronave, uma lenda militar, “o avião que nunca existiu” que só poderia mesmo realizar um voo fantasma. Saltos de para-quedas, lutas corporais, aranhas, piranhas, jacarés, índios isolados, sanguessugas e traições corporativas recheiam as 460 páginas do volume, que periga causar indigestão. Nada disso. É só mais um livro de entretenimento assinado por alguém que é do ramo da aventura e não da literatura.

 

Se na tevê Bear Grylls enfrenta desfiladeiros, feras e condições extremas; no mundo dos livros, ele não se arrisca tanto. Em “Voo Fantasma”, seu heroi é um aventureiro com treinamento militar (como ele!), viaja pelo mundo em busca de encrencas (como ele!), e sobrevive a quase tudo (como ele!). Will Jaeger tem a mesma idade que o apresentador de “À prova de tudo”, um biotipo semelhante e até um avô com passado misterioso e nome parecidos. Seus olhos têm a mesma cor, e os nomes de criador e criatura têm exatamente a mesma quantidade de letras. Se para alguns escritores, a literatura é uma forma de descentramento, de fuga de si, para Grylls, nenhum lugar é mais confortável e seguro para reforçar o self. As escolhas são todas deliberadas e ninguém há de cobrar isso do autor: ele é bem grandinho e assume suas broncas com as mãos praticamente limpas, basta ver seus programas na tevê.

“Voo Fantasma” oferece uma narrativa absolutamente linear. Não existe alternância de focos narrativos nos 94 capítulos, e o leitor se acostuma a não desgrudar de Will Jaegger. Estamos com ele numa masmorra perdida da África, em queda livre e em apuros, na garupa de sua moto envenenada. A adrenalina move não apenas os músculos dessa mistura de Rambo e Jason Bourne, mas também as engrenagens da história. Frias estratégias militares, ofensivas espiãs e planos mirabolantes de conquista global contrastam com o dramático desaparecimento da esposa e do filho do herói em circunstâncias misteriosas. Em termos psicológicos, os personagens recebem esquemáticas pinceladas, o suficiente para que confiemos (ou não) neles. O leitor está por sua conta e risco, como bem gosta Bear Grylls.

Acostumado ao sucesso mundial na televisão, o autor oferece ação e diversão em doses crescentes. A leitura é fácil e agradável, apenas sendo necessário desviar dos lugares-comuns e contornar as soluções redacionais mais convenientes. Não espere além disso, pois o repertório literário dele é bastante limitado. Se isso garantisse munição, Grylls não sobreviveria muito tempo na selva editorial. Mas o homem é um forte, sabemos nós. E como a adrenalina vicia, ele não para no ponto final. A continuação de “Voo Fantasma” – “Anjos em Chamas” – sai nos próximos meses, anuncia a editora. Melhor guardar fôlego.

Título: Voo fantasma
Autor: Bear Grylls
Páginas: 462
Editora: Record
Este livro no Skoob

SINOPSE: Mãe e filho são sequestrados de dentro de uma barraca numa montanha nevada. Um soldado leal é torturado e executado num pântano remoto. Um avião de guerra desaparecido, contendo um segredo de proporções catastróficas, é descoberto no coração da Floresta Amazônica. Uma única trama une esses três acontecimentos, e só um homem será capaz de desvendá-la: Will Jaeger, o caçador. Jaeger, ex-combatente do Serviço Aéreo Especial britânico, se vê envolvido numa conspiração que pretende fazer renascer das cinzas o Terceiro Reich de Hitler – e que vai levá-lo da África, via Reino Unido, para as profundezas da Amazônia, onde se escondem segredos macabros da Segunda Guerra Mundial.

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