Por Rodrigo Padrini – Sabe aquela vez em que você ficou perdido no supermercado quando criança, sem saber onde estavam seus pais e achando que eles o tinham abandonado? Angústia, pânico, desespero e algumas lágrimas. Bom, essa é apenas uma ilustração para começar a imaginar o que se passou na cabeça de Billy Hayes, nosso protagonista, preso na Turquia em 1970 por contrabando de haxixe. A história é conhecida por muitos, com direito a filme ganhador do Oscar.
“Expresso da Meia-Noite” (Editora Vestígio, 2016) é o relato honesto e escancarado da passagem do jovem americano William ‘Billy’ Hayes, na época com seus vinte e poucos anos, por algumas prisões na Turquia, entre 1970 e 1975, ano de sua fuga. Preso no aeroporto de Istambul, Billy afirma que ter sido sentenciado à prisão perpétua foi a pior e a melhor coisa que aconteceu com ele.
Talvez você se pergunte antes ou durante a leitura: que diabos é esse Expresso da Meia-Noite? Bom, você terá que ler para descobrir. Mas, já digo que ele é menos importante do que parece. Durante suas duzentas e vinte e quatro páginas, o livro nos apresenta o relato das experiências de Billy em sua trajetória pelo sistema judicial e policial turco. Uma surra ali, uma droga acolá.
“Ser preso” deve estar fora da lista de “coisas para fazer antes dos 30” da maioria das pessoas. Ser levado para trás das grades em um país distante então, só para os “mais aventureiros”. Confesso que não teria metade da coragem e da resistência de Billy ao me deparar com uma situação semelhante. Em situações precárias ou quando nos sentimos vulneráveis e pressionados, algo parece impulsionar nossa criatividade e nossa determinação. “Resiliência” é o termo comumente utilizado para caracterizar a capacidade de superar obstáculos e adversidades em contextos de forte tensão e estresse.
A obstinação de Billy em escapar da prisão desde o início é notável. Desconfiado e decepcionado com a justiça turca, a fuga se torna a única opção viável para ele, única forma de se manter lúcido e esperançoso. O contexto político e as relações entre os Estados Unidos e a Turquia são elementos importantes no enredo e, de certa forma, influenciam as decisões que vão sendo tomadas por Billy, sua família e seus advogados.
Em alguns momentos você pode questionar “fugir pra quê, cara? Vai só complicar a sua vida ainda mais!” ou “pô, segura a onda aí, daqui a pouco c tá fora”. A narrativa de Billy nos ajuda a mergulhar em sua experiência, nos colocarmos em seu lugar, sofrer e resistir, no corpo e na mente, desejar sair logo dali a qualquer custo, abraçar nossos pais e amigos.
O livro foi lançado originalmente em 1977 e adaptado para o cinema em 1978. Billy foi interpretado pelo ator Brad Davis e o filme dirigido por Alan Parker. Algumas divergências entre o livro e o filme foram justificadas por exigências legais. O programa de televisão Banged Up Abroad (ou Locked Up Abroad) traz, desde 2006, uma série de documentários mostrando a história de diversas pessoas que foram presas em países estrangeiros. Em 2010, no episódio “The Real Midnight Express”, Billy contou a história completa de sua prisão na Turquia.
Na internet, é possível encontrar muitas críticas à forma como Billy usou sua história para ganhar dinheiro ao longo da vida. Alguns comentários também ressaltam as diferentes versões da fuga trazidas ao longo do tempo, cada vez que Billy conta a sua história. Controvérsias à parte, o relato trazido neste livro é muito interessante. Uma parte ou outra talvez pareça “sorte demais”, “caricato demais” ou “incrível demais”, mas nada que tire a emoção e a realidade de uma experiência quase impossível de imaginar.
Um ótimo livro para a sua coleção.
Autor: Billy Hayes, com William Hoffer
Tradutor: Érico Assis
Editora: Vestígio
Páginas: 224
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SINOPSE – Expresso da Meia-Noite conta a história visceral e real de um jovem e seu encarceramento em uma prisão turca. Um clássico relato de sobrevivência e de persistência humana, contado com humor, honestidade e coração, e que se tornou filme homônimo, sucesso de público e ganhador do Oscar. Esta é a espantosa jornada, contada com as palavras do próprio Billy Hayes, desses cinco anos de inferno na terra e da provação angustiante pela qual passou durante a fuga.
Psicólogo, mestre e doutorando em Psicologia. Atua no sistema prisional. É músico e leitor assíduo de romances policiais, com aquele lugar especial no coração para Georges Simenon e Raymond Chandler.
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