Mistérios da ficção sempre nos cativam. Mistérios da realidade, então, costumam ser ainda mais envolventes. Quando juntamos uma dose de religião, corrupção policial, histórias mal contadas e casos não resolvidos, pronto, eis a receita para um suspense que fará você ficar pregado no seu sofá durante algumas horas. Pelo menos, foi assim comigo. No último dia 19 de Maio, o famoso serviço de streaming Netflix disponibilizou mais uma série documental, esta com sete episódios com cerca de uma hora de duração.
No melhor estilo do sucesso Making a Murderer – outra série original do Netflix lançada em dezembro de 2015, sobre a qual já falamos por aqui -, a série documental The Keepers promete fazer sucesso, levantar a poeira e tirar alguns esqueletos católicos do armário.
Baseada principalmente no mistério envolvendo o assassinato da Irmã Cathy Cesnik em novembro de 1969, o documentário dividido em sete partes é muito mais. Estamos falando de diversos casos de abusos sexual cometidos em uma escola católica em Baltimore, no estado de Maryland, nos Estados Unidos, de denúncias envolvendo padres pedófilos e perguntas sem resposta. Impunidade, decepção, tristeza, raiva e desejo de justiça caminham lado a lado.
Cathy Cesnik tinha 26 anos quando foi assassinada e era professora na Archbishop Keough High School, em Baltimore. Na noite de 7 de novembro de 1969, Cathy desapareceu e o seu corpo foi encontrado apenas dois meses depois, no dia 3 de janeiro de 1970, abandonado em um terreno utilizado como depósito de lixo e entulho. Desde então, a sua morte nunca foi esclarecida e os culpados nunca foram identificados. A noite do seu desaparecimento e as circunstâncias de sua morte guardam muitos segredos.
No entanto, mais de quarenta e cinco anos após a sua morte, algumas pessoas ainda buscam respostas. É nesse contexto de investigações independentes e revelações que nos encontramos ao assistir The Keepers. Ao longo dos sete episódios, acompanhamos o trabalho de duas alunas aposentadas da Irmã Cathy, Gemma e Abbie que, há alguns anos, resolveram investigar a morte da professora que tanto admiravam por conta própria. Mas, logo percebemos que não se trata apenas de um assassinato não resolvido.
Ao entrarmos no universo de circunstâncias envolvendo a morte de Cathy, começamos também a elaborar nossas próprias teorias e, ao assistirmos aos relatos de vítimas de abuso sexual por um padre corrompido, nos vemos mergulhados, pouco a pouco, em um cenário de conspiração e queima de arquivo.
A ligação do assassinato de Cathy a uma série de abusos sexuais cometidos pelo Padre Joseph Maskell na década de 60 é o mote da série. Temos acesso a depoimentos, documentos, áudios, vídeos, notícias de jornais e relatos das vítimas. São belos cenários, uma boa produção e aquele “quê” constante de “o que vai acontecer meu deus do céu?”. The Keepers é mais uma bela série original do Netflix e, além de se tratar de um mistério cativante, pode contribuir para que um tema tão importante como o abuso sexual de menores não fique debaixo do tapete. Recomendo.
Psicólogo, mestre e doutorando em Psicologia. Atua no sistema prisional. É músico e leitor assíduo de romances policiais, com aquele lugar especial no coração para Georges Simenon e Raymond Chandler.
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