Coletânea “Grandes Crimes” decepciona leitor mais curioso

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Por Rogério Christofoletti – A ideia é muito boa: um livro reunindo crimes famosos, narrados por criminalistas de renome. Não é só uma grande sacada, mas quase leitura obrigatória para fãs de literatura policial, que podem encontrar ali as circunstâncias dos crimes, os bastidores da investigação, detalhes dos processos e os destinos dos personagens.

Mas a realidade é dura e ela mostra que nem todo bom projeto resulta numa construção invejável. Sinto informar, mas é decepcionante o que o leitor vai encontrar em “Grandes Crimes”, coletânea organizada por Pierre Moreau e lançada de forma discreta em 2017 pelo selo Três Estrelas, da PubliFolha.

O time dos autores impressiona pela notoriedade e conhecimento jurídico, e reúne grifes do direito criminal brasileiro como Antônio Cláudio Mariz de Oliveira – que recentemente defendeu Michel Temer no Supremo Tribunal Federal -, Celso Lafer, Eros Grau, Luiza Nagib Eluf, Eduardo Muylaert, Arnaldo Malheiros Filho, entre outros medalhões.

Uma rápida olhada no sumário também empolga, pois são revisitados episódios ilustres da cena brasileira: o caso Doca Street, o brutal assassinato da atriz Daniella Perez, o mistério em torno da morte de PC Farias e Suzana Marcolino, o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, a morte do escritor Euclides da Cunha e os atentados a bomba no Riocentro em 1981… Apesar desse investimento, o resultado decepciona o leitor mais curioso ou faminto por detalhes.

 

“Grandes Crimes” é uma compilação irregular, superficial, e muitas vezes mal escrita e sem novidades.

 

É bem verdade que toda coletânea é uma colcha de retalhos que pode reservar pontos altos e baixos, mas “Grandes Crimes” parece funcionar como um aglomerado de textos errantes e quase sempre apressados. Foge à regra a excelente e detalhada reconstituição de época feita por Eduardo Muylaert no caso do Riocentro, uma autêntica anatomia no cadáver infecto e espasmódico da ditadura militar brasileira.

É o maior capítulo do volume, com mais de cinquenta páginas, contrastando com textos sem entusiasmo, como o de Luiza Nagib Eluf sobre PC Farias e a namorada, ou o sobre o atentado contra Carlos Lacerda, que ganha míseras seis páginas escritas a partir da memória pessoal (e totalmente desimportante) do autor…

A irregularidade da duração dos capítulos não é um problema em si mesmo, mas ela aponta para o tratamento frequentemente superficial do caso. Lacunas importantes ficam evidentes, um crime para o leitor mais exigente.

 

Mas um fator pesa sobre os demais: algumas histórias são muito mal escritas, narradas de forma atropelada e numa linguagem típica do jargão advocatício. Clichês jurídicos inundam as páginas, mecanicamente embrulhados em terminologia hermética e num formalismo esnobe. A sintaxe sofre, o leitor também. A narrativa de alguns casos é deixada de lado para que o autor desfie argumentos, exibindo suas plumagens ególatras de exímio orador. Talvez até esse artifício retórico agrade leitores da área do Direito, mas pelo que se percebe, a obra não é dirigida a iniciados, o que revela o desperdício do projeto.

Ao fim e ao cabo, “Grandes Crimes” é uma oportunidade perdida. O leitor brasileiro poderia ter ganho um volume que ajudasse a entender melhor a personalidade do criminoso, as razões para suas ações e os contextos que emolduraram seus casos. Poderia ser um panorama da delinquência nacional, abordando aspectos sociais e jurídicos que serviriam de ferramenta para pensar o mal humano.

O livro poderia trazer também informações de bastidores dos tribunais, sagacidades dos advogados e artimanhas das investigações. Se assim fosse, poderia ensejar outros livros em sequência, irrigando as prateleiras dos curiosos do gênero, pois embora esses se abasteçam de ficções, conhecer a natureza e o funcionamento dos crimes é sempre instigante e apavorante. “Grandes Crimes” fica a quilômetros dessa conquista, o que é uma pena. Ele mais se assemelha a uma sessão de anedotas e “causos” contados em alta voz por pavoneados criminalistas no hall da OAB mais próxima…

 

SOBRE O LIVRO

Título: Grandes crimes
Autor: Vários autores & Org. Pierre Moreau
Editora: Três Estrelas
Páginas: 288
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SINOPSE – A história de um país é também feita dos crimes cometidos por seus cidadãos e que provocaram forte impacto na opinião pública, quando não nos próprios rumos da nação. Nesse livro, doze importantes advogados e juristas brasileiros recontam alguns dos principais crimes ocorridos no Brasil desde o início do século XX até os dias atuais. São atentados políticos, como o do Riocentro, ou homicídios de grande repercussão midiática, como o da atriz Daniella Perez. São crimes de racismo, de canibalismo ou de natureza passional, como o assassinato de Ângela Diniz por Doca Street, cujo julgamento mudou para sempre o modo como o direito brasileiro entende a liberdade da mulher. Os episódios de “Grandes crimes” são apresentados pelos advogados e juristas em emocionantes narrativas que, sem se desviarem dos fatos, lançam sobre eles um novo olhar, em que a dimensão trágica dos eventos é observada à luz conscienciosa do direito.

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