Por Ana Paula Laux – Jack, o Estripador está mais vivo do que nunca. Pelo menos na história de Kerri Maniscalco, autora de Rastro de Sangue (Darkside Books, 2018), onde uma detetive amadora investiga a identidade do serial killer mais famoso da história.
Audrey Rose é uma adolescente nada frágil do final do século 19 em Londres, quando a era vitoriana logo se despediria após a morte da Rainha Vitória, em 1901. Alheia às tradições conservadoras de sua época, ela sonha em ser protagonista da própria vida num mundo onde as mulheres nasciam com o destino selado. Audrey quer ser legista como o tio, o Doutor Jonathan Wadsworth, que estuda o corpo humano, realiza necrópsias e dá aula de anatomia para um grupo seleto de alunos em seu laboratório. Ela é, obviamente, a única mulher na Turma do Bolinha.
É lá que conhece Thomas Cresswell, aluno brilhante, observador e arrogante que será seu parceiro nas investigações (e que cairá de amores por Audrey, é claro). Thomas estuda medicina forense e é um adepto do raciocínio lógico e analítico. A parceria entre os dois bebe na fonte de Sherlock e Watson, como a própria autora confirmou em entrevista:
“Meus personagens principais teriam um eco em Sherlock e Watson, mas meu Watson seria uma inteligente doutora em treinamento para um jovem Sherlock cheio de vida”.
A história é contada sob a perspectiva de Audrey e se desenrola pelas ruas de Londres, na mesa de autópsia do tio e nas cenas de crime onde prostitutas foram retalhadas pelo Avental-de-Couro, como também ficou conhecido o serial killer na imprensa. Apesar de a autora imprimir uma ambiguidade suspeita aos personagens, não é tão difícil descobrir quem é Jack no fim das contas (embora a certeza mesmo só venha no final). Maniscalco também encaixa algumas alternativas que convencem, como o motivo para Jack enviar as polêmicas cartas aos tablóides londrinos.
Os diálogos entre Audrey e Thomas são a parte espirituosa da história, porém dão uma extrapolada em alguns momentos. Ela poderia dedicar mais tempo à investigação e menos tempo preocupando-se em como se portar na frente de Thomas, por exemplo. Mas sua postura é compreensível já que Audrey é, de fato, uma adolescente vivendo uma existência limitada e sendo continuamente atraída para um mundo onde deve comportar-se apropriadamente, conversar sobre abobrinhas em encontros de chá e escolher o tecido para o próximo vestido. Como toda garota de sociedade que se preze.
Este é o considerado um dos casos mais embaraçosos para a polícia inglesa, que jamais descobriu a identidade de Jack, O Estripador. Ele matou entre cinco e onze mulheres na região de Whitechapel, em Londres, e já foi apontado como sendo desde o pintor Walter Sickert até o escritor Lewis Caroll (sim, o autor de Alice no País das Maravilhas!). Na pesquisa de Kerri Maniscalco, há dados interessantes sobre em que pé andava o campo da ciência forense no final do século 19. Por exemplo, foi naquela década que foi registrado o primeiro uso de impressões digitais para resolver um crime, além dos testes para detectar presença de sangue. Se muitas dessas técnicas tivessem sido aplicadas com mais seriedade na investigação de Jack, talvez ele não tivesse entrado para a história como o homem que conseguiu enganar a polícia e rir por último de seus crimes hediondos.
Quanto à nossa detetive, esse é o primeiro livro de uma série de Kerri Maniscalco com Audrey Rose. É uma personagem que tem tudo para crescer pois é corajosa, determinada, inteligente, impetuosa e sabe o que quer. Em suas mãos, Jack não deu nem pro cheiro.
Título: Rastro de Sangue. Jack, o Estripador
Autora: Kerri Maniscalco
Tradução: Ana Death Duarte
Páginas: 354
Editora: Darkside Books
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SINOPSE – Audrey Rose não é a típica donzela inglesa do século xix. Quando ninguém está vendo, a jovem realiza autópsias no laboratório de seu tio, contrariando a vontade de seu pai e todas as expectativas da sociedade. Ela pode não saber fazer um penteado elaborado, mas faz uma incisão em Y num cadáver como ninguém. Seus estudos em medicina forense a levam na trilha do misterioso Jack, cujos assassinatos brutais derivados de uma terrível sede de sangue amedrontam a cidade. E Audrey Rose, empoderada desde o berço, quer fazer justiça às vítimas – mulheres sem voz e marginalizadas por uma sociedade extremamente sexista. Na companhia de Thomas Cresswell, o aprendiz convencido e irritante de seu tio, ela decide seguir seus instintos e os rastros de sangue do notório assassino. Afinal, nenhum homem foi capaz de descobrir sua identidade. Esse é um trabalho para uma mulher.
Jornalista. Trabalha com curadoria de informação, gestão de mídias sociais e criação de conteúdo digital. Em 2014, lançou o e-book “Os Maiores Detetives do Mundo” (Chris Lauxx). Contato: [email protected]
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