Uma notícia que animou os fãs de Sherlock Holmes: o jornal inglês The Telegraph anunciou que foi descoberto um conto inédito do detetive.
O texto faria parte de uma coleção de contos organizada em 1904, uma iniciativa para angariar fundos para a reconstrução de uma ponte em Selkirk, na Escócia. Teria sido a colaboração de Arthur Conan Doyle para o bazar da pequena cidade no sudeste do país, que diziam que ele simpatizava.
A notícia, amplamente divulgada em canais de informação pelo mundo (BBC, Irish Independent, Edinburgh Evening News, O Globo, Folha de S. Paulo), nem bem repercutiu e já está causando polêmica.
Segundo o site I hear of Sherlock everywhere, especializado em notícias sobre o detetive da ficção, o conto de 1.300 palavras encontrado recentemente não foi escrito por Sir Doyle. O artigo, assinado pelo escritor sueco Mattias Boström, autor do livro “From Holmes to Sherlock” e co-editor de uma série de livros sobre o personagem, aponta algumas incongruências:
- não há nenhuma menção no encarte do livro sobre Sir Arthur Conan Doyle ter realmente escrito a história;
- ao usar aspas para se referir a Sherlock Holmes, o autor da história mostrou que esta pessoa era ficcional, já que o nome do detetive era geralmente citado dessa maneira nos jornais da época;
- o evento aconteceu de 10 a 13 de dezembro, e a cada dia uma pessoa proeminente abriu o bazar. Arthur Conan Doyle foi o anfitrião de um sábado, mas dias antes ele já tinha participado de um recital que angariou fundos para a reconstrução da tal ponte destruída. Segundo Boström, motivações políticas foram a verdadeira razão da presença de Arthur Conan Doyle na Escócia naquela época. O escritor perseguia uma candidatura na região pelo Partido Unionista, e naquele mês fazia discursos políticos em algumas cidades daquele distrito, como Hawick e Galashiels;
- o anfitrião de Conan Doyle, um historiador chamado Thomas Craig-Brown, falou à época sobre o recital para o jornal, mas não fez nenhuma menção sobre a nova história que seria publicada na coleção de contos;
- no dia 17 de dezembro, havia uma nota sobre o livro no jornal The Southern Reporter. De novo, nenhuma menção à contribuição do escritor, o que pode significar que o texto tenha sido escrito por outra pessoa;
- finalmente, o conto faz parte de uma coleção de três “Entrevistas notáveis”: I. Walter Scott, II. Mungo Park e III. Sherlock Holmes. Um dos argumentos que defende a não autoria de Doyle sugere que Sherlock Holmes foi escolhido para a terceira entrevista possivelmente porque o escritor confirmou presença no bazar, e que possivelmente a mesma pessoa escreveu um combinado de três “entrevistas”, agrupadas em uma lista de conteúdos para homenageá-lo. Os textos não estão assinados (nenhum dos três).
As informações são do site I hear of Sherlock everywhere, onde você pode ler o artigo completo de Mattias Boström. Leia também o suposto conto inédito publicado no Telegraph e tire suas conclusões (em inglês).
Jornalista. Trabalha com curadoria de informação, gestão de mídias sociais e criação de conteúdo digital. Em 2014, lançou o e-book “Os Maiores Detetives do Mundo” (Chris Lauxx). Contato: [email protected]