Por Rodrigo Padrini – Temos o costume de exaltar cidades como Paris, Londres, Nova Iorque, Roma, Amsterdam, Viena ou Praga, por exemplo, como ícones de uma beleza única e cenários peculiares, dignas de um bom romance. A cidade do Rio de Janeiro deveria sempre também figurar entre estes palcos, que aguardam apenas a entrada de protagonistas e coadjuvantes para atuar em seus contornos.
“Uma Janela em Copacabana” (Companhia das Letras, 2010) é o romance policial de Luiz Alfredo Garcia-Roza que inspira uma nova série brasileira de televisão do canal GNT, dirigida por José Henrique Fonseca e que irá ao ar a partir do próximo dia 15 de outubro. Com o título de Romance Policial – Espinosa, a atração promete mexer com os coraçõezinhos dos apaixonados pelo autor.
Garcia-Roza nasceu no Rio de Janeiro em 1936 e se formou em psicologia e filosofia, atuando como professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e escrevendo vários livros sobre filosofia e psicanálise. Ao deixar a vida acadêmica, se dedicou aos romances policiais, criando uma série de investigações com o Delegado Espinosa. Para os psicólogos de plantão, esse Garcia-Roza é o mesmo do famoso livro “Freud e o inconsciente” (Editora Zahar, 1996) e confesso que minha ficha só caiu no meio do livro. Sim, sou meio desligado.
Não conhecia os livros – policiais – do autor e tive o meu primeiro contato com o Delegado Espinosa neste romance sobre o qual escrevo. Adepto de refeições rápidas e morador do bairro do Peixoto, Espinosa nos passa a impressão de um homem calejado e objetivo, sozinho e de vida tranquila. Prefiro não me aprofundar nas características de um personagem que acabo de conhecer e guardar maiores considerações para resenhas mais gabaritadas, como essa do próprio site.
Quanto ao enredo, você encontrará uma trama agradável e cativante, tipicamente real e absurda no limite das loucuras normais do dia-a-dia. Após o “assassinato em série” de alguns policiais na zona sul do Rio de Janeiro, um clima de medo e desconfiança recai sobre as delegacias de polícia e cabe ao Delegado Espinosa recrutar companheiros fiéis para conduzir uma investigação sigilosa e cercada de perigos.
Durante pouco mais de duzentas páginas, não temos uma narrativa alucinante ou em clima de suspense constante. Pelo contrário, encontramos uma escrita elegante, com toques de ironia, humor e objetividade tipicamente atribuída ao masculino. Convivemos com Espinosa em sua rotina, nos trajetos a pé de seu apartamento até a delegacia, nos momentos de isolamento em seu reduto e na intimidade com suas mulheres.
Não me lembro de ter lido diálogos tão bem construídos como li neste romance, que ao mesmo tempo me envolviam por sua simplicidade e seriedade, e me faziam também rir sozinho. É possível captar a essência de cada personagem, por mais curtas que sejam suas aparições e imaginar todo o universo envolvido. Poderia ler mais quatrocentas páginas de conversas entre os detetives Ramiro, Welber, Artur e o Delegado Espinosa.
“- Quem são vocês? Não foram mandados pelo doutor?
– Fomos mandados pelo doutor sim, aqui estão nossas identificações, o que não sabemos é se o nosso doutor é o mesmo seu…”
Esse é um daqueles livros que ao chegarmos ao final, queremos voltar a diversos trechos e ler de uma forma diferente, agora que sabemos o que realmente se passou. Excelente leitura.
Para concluirmos, comecei a ler este romance com grandes expectativas, afinal, Luiz Alfredo Garcia-Roza é referência da literatura policial brasileira e não podemos esperar menos destes grandes ícones. O que vi superou minhas expectativas e me lembrou em muitos momentos a maestria de Georges Simenon ao nos trazer as aventuras do Comissário Maigret, e o humor sagaz de Raymond Chandler. A natureza humana está em evidência nessas linhas e toda a sua profundidade está acessível a todos.
* Livro enviado pela Companhia das Letras.
Autor: Luiz Alfredo Garcia-Roza
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 232
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SINOPSE – Copacabana, Rio de Janeiro. Dois policiais são executados em curto espaço de tempo. Suas mortes têm muito em comum. Ambas as vítimas eram tiras de segundo escalão, com carreiras medíocres. Foram eliminados pelo mesmo homem, um assassino que dispara à queima-roupa e não deixa rastro. O mundo policial entra imediatamente em rebuliço. Quem estaria disposto a correr o risco de sair matando tiras, ainda que inexpressivos? Percorrendo as ruas de sua geografia predileta, entre os bairros do Leme e de Copacabana, o delegado Espinosa terá de desvendar esse mistério.
Psicólogo, mestre e doutorando em Psicologia. Atua no sistema prisional. É músico e leitor assíduo de romances policiais, com aquele lugar especial no coração para Georges Simenon e Raymond Chandler.
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Republicou isso em Mais uma Opinião.
Esse livro não li, mas adorei o clima d'O Silencio da Chuva.
Honestamente ainda só li esse Leandro, mas O Silêncio da Chuva foi a primeira indicação que recebi. É o próximo na lista, com certeza.
O silêncio da chuva é de fato o melhor dele, ao lado deste Uma janela em Copacabana.
Ótima resenha, Rodrigo!
Valeu Josué! Tô cada vez mais curioso pelo Silêncio da Chuva! Tô pendente de ler sua resenha sobre Irene, do Lemaitre, o farei esse fim de semana!
Esse livro é ótimo ..
Também achei! =]