Dez romances policiais de 2016
RETROSPECTIVA – 2016 foi mais um ano difícil para a cultura e a literatura. Como no ano anterior, a safra teve altos e baixos. Alguns mestres até deixaram suas marcas, houve revelações e boas surpresas, e o mercado editorial conseguiu manter uma rotina de lançamentos. Queremos acreditar que não tenha sido um refluxo. Tomara que 2016 seja lembrado como “o ano em que tomamos fôlego”.
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NACIONAIS
Cabo De Guerra, Ivone Benedetti
(Boitempo Editorial)
Descobrir jovens talentos literários é muito bom, mas ser conduzido pela história por mãos maduras e seguras provoca uma experiência de leitura única. Os personagens se mostram multidimensionais, os cenários têm mais profundidade de campo e as circunstâncias nunca são simples. “Cabo de Guerra”, de Ivone Benedetti é um exemplo vibrante disso. Muito por conta da trajetória da autora, experiente tradutora e escritora reconhecida. Em 2010, seu “Immaculada” foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, o que despertou interesse de parte da crítica. “Cabo de Guerra” não é só mais um atestado da qualidade literária de Ivone, mas um mergulho profundo na maior ferida política brasileira: a ditadura militar de 1964-1985. Somos apresentados a ela por um militante de esquerda que muda de lado.
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Investigação Olímpica, Fernando Perdigão
(Editora Oito e Meio)
Em “Investigação Olímpica”, o investigador mais bruto, preconceituoso e mal ajambrado das páginas brasileiras está com uma missão mais do que especial. Nomeado pelo secretário de segurança pública do Rio de Janeiro, Andrade agora é o Comissário Olímpico, encarregado de operações durante a maior competição esportiva do planeta! Ao lado da diminuta Lurdes – a policial que o segue como um cão e que o venera como um ídolo -, o detetive segue uma cruzada quixotesca para garantir a segurança dos jogos e a obediência à lei. Custe o que custar.
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Mistério no Centro Histórico, Tailor Diniz
(Editora Dublinense)
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“Mistério no Centro Histórico” é um romance policial deliciosamente regionalista. Narra a história de um atentado no centro da capital gaúcha, quando a explosão de uma bomba causa a queda de uma marquise e posteriormente sensação de pânico na população porto-alegrense. É nesse contexto que entra em cena o detetive Walter Jacquet, personagem de outro livro de Diniz (Crime na Feira do Livro), para se apossar do mistério que nada tem de misterioso num primeiro momento.
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Esta Terra Selvagem, Isabel Moustakas
(Companhia das Letras)
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A identidade de Isabel Moustakas continua sendo um mistério para os leitores, o que não impediu que seu livro fosse um dos melhores publicados em 2016. “Esta terra selvagem” é rápido de ler, o livro mantém a tensão de forma contínua, e tem um bom ritmo. E diverte, apesar do tema pesado. Falta humor, é verdade, mas a história fornece doses homeopáticas de ironia, o que não é a mesma coisa, mas sinaliza rotas de fuga para os que se impressionam demais com mutilações e espancamentos.
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São Paulo Noir, Tony Bellotto (org)
(Editora Leya)
Depois do Rio de Janeiro, chegou a vez de São Paulo. Tony Bellotto é o organizador desta seleção de contos policiais sobre a cidade mais cosmopolita do Brasil. A coletânea tem um elenco estelar, mesclando veteranos, promessas e algumas surpresas: Marcelo Rubens Paiva, Mario Prata, Jô Soares, Drauzio Varella, Ferréz, Vanessa Barbara. Vai interessar a qualquer leitor que curte histórias no melhor estilo noir.
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ESTRANGEIROS
Vocação Para o Mal, Robert Galbraith
(Editora Rocco)
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Terceiro livro da série policial de JK Rowling – que usa o pseudônimo de Robert Galbraith -, “Vocação para o Mal” é mais uma história com o detetive Cormoran Strike e sua assistente, Robin Ellacott. Foi publicada em abril, sempre com uma boa expectativa pela popularidade de Rowling. Este ano, a autora confirmou que as histórias de Cormoran irão para o cinema em 2017, com Tom Burke vivendo o protagonista. Neste livro, um misterioso pacote entregue a Robin Ellacott a deixa horrorizada. Ao abri-lo, ela descobre que contém a perna decepada de uma mulher. O detetive Strike aponta quatro pessoas de seu passado que acredita suspeitos por tal crime, e irá investigar o caso.
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Paisagem de Outono, Leonardo Padura
(Boitempo Editorial)
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Na iminência de um furacão que ameaça castigar Havana – e na ressaca de um outro furacão que acaba de virar de pernas para o ar a Central de Polícia em que trabalha –, o investigador Mario Conde está prestes a completar trinta e seis anos e se vê diante de uma oportunidade de reconstruir sua vida e seus sonhos. Porém, primeiro precisa realizar uma última e hercúlea tarefa: descobrir o assassino de Miguel Forcade, ex-funcionário do governo cubano que havia desertado para Miami nos anos setenta e subitamente reaparecera em Cuba, sem maiores explicações. Em seus tempos áureos, Forcade havia sido responsável por decidir o destino de inúmeras obras de arte confiscadas das famílias burguesas que deixaram a ilha após a Revolução. O que teria ele vindo buscar? E por que fora tão brutalmente morto, com toques sádicos de vingança? Como todas as obras de Padura, este quarto volume da série Estações Havana é uma ode de amor a Cuba e ao povo cubano, assim como à força da amizade. Traz também um texto inédito em que Padura conta os bastidores de criação de seu mais popular personagem.
Mr. Mercedes, Stephen King
(Editora Suma)
Mr. Mercedes é o primeiro romance policial de Stephen King. Faz parte da trilogia que o autor criou para estrelar o detetive Bill Hodges, abordando o medo sob outra perspectiva. Muita gente sentiu falta dos elementos clássicos de Stephen King na história, como o sobrenatural e o horror, mas quem deu uma chance à Mr. Mercedes não se arrependeu. A familiaridade de King com as palavras transpassa os gêneros e conquista a atenção de quem gosta de uma boa história. Neste livro, – que virou série de TV nos Estados Unidos, o detetive Hodges persegue aquele que ficou conhecido como “Assassino do Mercedes”, um criminoso doentio que atropelou um grupo de pessoas numa fila de emprego nos Estados Unidos e que tem uma obsessão pelo policial aposentado. Assista a resenha em vídeo no Youtube
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Quem Matou Roland Barthes?, Laurent Binet
(Companhia das Letras)
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Um livro que chamou inicialmente a atenção pela curiosa premissa: seria possível que Roland Barthes, o famoso escritor e sociólogo francês, tivesse sido assassinado? Lançado no final de 2016, “Quem matou Roland Barthes?” é uma obra de Laurent Binet, autor pouco conhecido no Brasil mas que já foi reconhecido com o prêmio Goncourt na França. Neste livro, ele resgata nomes como Foucault, Althusser, Deleuze, Todorov para inseri-los num suspense que transpassa o simples mistério. Quem matou Roland Barthes? é, em sua essência, um olhar irreverente lançado a uma geração de pensadores cuja sombra se estende até os dias de hoje, goste-se deles ou não, que utiliza os recursos da literatura policial sem se render a eles, produzindo um híbrido anárquico entre o pop e o erudito.
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Um passo atrás, Henning Mankell
(Companhia das Letras)
Henning Mankell é uma das maiores referências do que chamamos de nordic noir, estilo de romance policial originário da Escandinávia. Com tramas densas e assassinatos cruéis, é difícil acreditar que tenham saído da mente de autores daquela região do mundo, considerada pacífica por muitos. Mankell morreu em 2015, mas alguns de seus livros ainda não foram publicados no Brasil. Era o caso de “Um passo atrás”, mais uma história com o famoso detetive Wallander e que saiu em fevereiro de 2016. Nele, vamos encontrar uma crítica à sociedade sueca, tom presente em parte generosa de sua obra. Três amigos se encontram numa reserva natural fantasiados com trajes do século XVIII para celebrar a noite mais longa do ano, porém eles estão sendo observados. Cada um deles acaba assassinado com um único tiro, e Kurt Wallander terá que descobrir quem é o responsável por essa carnificina.
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Jornalista. Trabalha com curadoria de informação, gestão de mídias sociais e criação de conteúdo digital. Em 2014, lançou o e-book “Os Maiores Detetives do Mundo” (Chris Lauxx). Contato: [email protected]
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