Por Rodrigo Padrini – Dez anos depois do sequestro de dois jovens garotos, apenas um retorna para casa. Onde esse garoto esteve durante uma década? O que ele pode dizer sobre o paradeiro da criança que foi levada junto com ele? Esse é o ponto de partida do romance “Home”, escrito pelo norte-americano Harlan Coben e publicado em setembro de 2016 nos Estados Unidos, e considerado, por muitos comentários que li por aí, um dos melhores do autor.
Para quem não conhece, Harlan Coben nasceu em 04 de janeiro de 1962 e vive em Nova Jersey. É autor de vários best-sellers e possui mais de vinte livros publicados no gênero ‘mistério’ ou ´romance policial’, e mais de 70 milhões livros impressos ao redor do mundo, traduzidos para mais de 40 línguas. O cara não é fraco.
Antes, um esclarecimento. Hoje vou falar sobre duas experiências: a minha “primeira vez” com o autor e o desafio – e o prazer – de ler uma obra em sua língua original, no caso, o inglês. Isso mesmo. Até onde consegui pesquisar, o romance ainda não foi traduzido por aqui e, no fim das contas, isso foi uma grande coincidência, porque eu não sabia nada sobre o livro quando o adquiri em uma viagem recente por alguns dólares.
“So how do we do it?” Myron asked. “When you love something that much. How do you live with the fear that they can be hurt or killed at any time?”
(Tradução livre: Então, como fazemos? Myron perguntou. Quando você ama alguma coisa esse tanto. Como você vive com o medo de que essa coisa possa ser machucada ou morta a qualquer momento?)
‘Home’ é o 11º livro da série com Myron Bolitar – e o mais recente – e a sequência de “Alta Tensão” (Live Wire), já publicado no Brasil pela Editora Arqueiro em 2011. Senão me engano, os dez livros anteriores já estão disponíveis em português. Como já disse, foi a minha primeira experiência com o autor, então não fazia ideia de ‘quem era quem’ no livro e peguei o bonde andando. No entanto, isso não foi um problema. Ao longo do livro, Coben faz pequenas apresentações dos personagens e, apesar de citar eventos do passado, o faz de forma suave, tornando a leitura bem agradável e sem exigir do leitor aquela fidelidade.
O personagem principal é Myron Bolitar um jogador de basquete razoavelmente conhecido por seus anos de atuação no time do colégio, mas que precisou interromper a carreira promissora por conta de uma lesão no joelho. Após estudar na Escola de Direito de Harvard, Myron – que é meio que um alter ego do autor – trabalha como agente de atletas e celebridades, e – ainda não descobri o motivo real – se envolve em alguns casos de forma ‘não oficial’, sendo considerado uma espécie de detetive acidental.
Como não conheço a trajetória dos personagens, nem os demais livros da série, é prematuro fazer qualquer análise maior deste romance nesse sentido ou do destino de Win, Esperanza, Big Cindy, Mickey e outros personagens que conheci somente agora, mas que já considero pacas. Dessa forma, falemos sobre a história. Uma bela história, por sinal, com um final surpreendente.
Patrick Moore, então com seis anos de idade, e Rhys Baldwin, seu colega de escola, são filhos de famílias ricas e o desaparecimento de ambos logo ganha atenção. No entanto, muitos anos se passam e nenhuma novidade surge sobre o paradeiro das crianças. Ao construir uma interessante dinâmica entre as duas famílias, o autor utiliza das nossas próprias emoções ao imaginar a angústia vivida por pais que não conseguem encontrar o filho. A trama elaborada por Coben dispensa conhecimento prévio da série e traz, com alguma dose de drama, um suspense bem-humorado e imprevisível. Nesta edição que comprei, meio de bolso e lançada em 2017, é difícil largar o livro e dá vontade de ler tudo de uma vez.
Myron had so often heard of people wrongly convicted (or wrongly exonerated) because jurors felt that they could “read” the perpetrators, that they didn’t show enough (or showed too much) remorse, that their reactions were not in what the jurors considered the range of normal. As though humans came in one size and shape. As though we all react the same way to a horrible or stressful situation.
(Tradução livre: Myron ouvira tanto sobre pessoas condenadas incorretamente – ou soltas por engano – porque os jurados sentiam que eles podiam ler os réus, e que eles não demonstravam remorso o suficiente – ou demonstravam demais – e que suas reações não estavam no que os jurados consideravam o normal. Como se os humanos viessem em um tamanho e formato apenas. Como se todos reagissem da mesma forma a situações horríveis ou estressantes).
Agora, quanto ao inglês, acho que isso tornou a experiência ainda melhor e, por isso mesmo, vou fazer algumas considerações. Afinal, a escrita de Coben é repleta de trocadilhos e piadas próprias do idioma, e como se trata de um inglês pouco rebuscado, você encontra poucas dificuldades com termos desconhecidos.
Em termos de literatura policial, sempre li traduções. Nunca li Chandler ou Simenon – os meus preferidos – no original, ou mesmo Stephen King, Tess Gerritsen, entre outros que já tive oportunidade de resenhar por aqui. Dessa forma, ainda que o trabalho dos tradutores seja, grande parte das vezes, impecável, algo da experiência original trazida pelo autor se perde. E, se queremos nos aproximar ainda mais de suas tramas, ler suas obras em sua língua nativa é uma boa dica.
Como a minha experiência lendo Harlan Coben no inglês foi muito boa, cito alguns fatores positivos para quem quiser se aventurar nos originais: ler em outra língua exercita a mente; possibilita aumentar o vocabulário na língua que você está estudando – e também para escrever futuramente; te deixa um pouquinho mais perto do que o autor pensou que seria a sua experiência ao ler aquela história; e, por fim, você consegue ler livros que ainda não foram lançados no Brasil, ou que as vezes, nem vão ser traduzidos tão cedo.
Se você ainda não topa essa empreitada, procure pelos livros do Coben traduzidos aqui no Brasil. São muitos. A série do Myron Bolitar é uma boa dica. Mas não deixe de lado a ideia de ler em outros idiomas, pois é algo que pode contribuir ainda mais com a sua paixão por romances policiais e também trazer um certo grau de novidade às suas trilhas literárias.
Título: Home
Autor: Harlan Coben
Editora: Dutton
Páginas: 480
Formato: 10,9 x 19,2 cm
SINOPSE – Há uma década, sequestradores levaram dois garotos de famílias ricas e pediram um resgate, mas depois ficaram em silêncio. Nenhum vestígio dos garotos surgiu. Por dez anos, suas famílias foram deixadas sem nada, exceto memórias dolorosas e um desespero silencioso pelo dia que finalmente e milagrosamente chegou: Myron Bolitar e seu amigo Win acreditam que localizaram um dos garotos, agora um adolescente. Onde ele esteve por dez anos, e o que ele sabe sobre o dia em que foi levado? E o mais crítico: o que ele pode dizer a Myron e Win sobre o destino do seu amigo ainda desaparecido? Com o seu talento único, Harlan Coben nos entrega um thriller sobre amizade, família e o significado de lar.
Psicólogo, mestre e doutorando em Psicologia. Atua no sistema prisional. É músico e leitor assíduo de romances policiais, com aquele lugar especial no coração para Georges Simenon e Raymond Chandler.
Muito bom,vou começar á ler desse autor,uma sugestão:uma lista dos melhores livros de literatura policial.
Aqui tem uma 🙂 https://literaturapolicial.com/2016/03/21/40-romances-policiais-essenciais/
Gosto muito do Harlan Coben, mas não gosto dos livros dessa série.
Eu gostei desse Alan, mas ainda não li outros do Harlan Coben para comparar. Quem sabe em breve.
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