Por Rogério Christofoletti – Quantos eventos dedicados à literatura de crime existem no país? Quais os mais importantes? Até a semana passada, não havia respostas para essas perguntas, mas uma modesta e bem organizada iniciativa no sul trouxe um sinal claro de que o Brasil pode oferecer um ponto de encontro para os amantes desse gênero tão popular. O Porto Alegre Noir, que aconteceu na capital gaúcha de 13 a 15 de abril, mostrou que o país pode entrar na rota de festivais do tipo, como os que acontecem em Barcelona, Nova York, na Escócia e na Islândia.
Reunindo um público aficcionado pelo tema, o PAN foi celebrado por muitos como o primeiro evento especializado em ficção noir do país.
E pelo que se sabe não existe nada parecido mesmo na terra de Cabral. “Estive há alguns anos na Buenos Aires Negra, e foi um festival muito bem organizado. Mas aqui em Porto Alegre, não tivemos apenas literatura, mas cinema noir também, o que tem tudo a ver”, comentou a escritora Vera Carvalho Assumpção.
O evento aconteceu num dos espaços culturais mais charmosos e bem equipados da cidade: a Cinemateca Capitólio, um antigo prédio reformado por mais de uma década e que oferece sala de exibição, hall de exposição, ambientes para cursos, biblioteca do gênero e muita comodidade. Os debates aconteceram no próprio cinema, com luz reduzida no melhor estilo noir, aumentando o aconchego e reafirmando a atmosfera de mistério. “Num tempo difícil para a cultura, o PAN é uma forma de resistência”, definiu um dos organizadores César Alcázar. “Em novembro, ele teve a ideia e passamos a planejar tudo na sequência”, conta a produtora cultural Cristiane Marçal. “Quando vimos que a Cinemateca tinha agenda para este final de semana, começando numa sexta-feira 13, não tivemos dúvida”, diverte-se Alcázar, conhecido por seu engajamento em projetos culturais.
Diversidade garantida
Um dos pontos altos do PAN foi a programação inteligente e variada. Além das mesas que debateram a presença feminina na literatura de crimes e o gênero em séries de TV e no cinema, o festival discutiu a produção literária na América Latina, nos espaços do interior do país e nas fronteiras.
Foi nítida também a preocupação em escalar escritoras brasileiras que vêm se destacando no cenário, como Paula Bajer Fernandes, Andrea Nunes, Carol Bensimon e Carina Luft, garantindo um diálogo arejado e diverso. E os convidados não ficaram restritos ao cardápio portoalegrense, já que escritores e especialistas de São Paulo, Santos, Recife, Bagé e outras cidades marcaram presença. Jovens escritores tiveram espaço, assim como veteranos, como Tabajara Ruas e Tailor Diniz.
Além das mesas, o PAN projetou filmes do gênero, ofereceu cursos, sediou uma exposição de fotos retratando uma misteriosa Porto Alegre e juntou a tribo. Falha notada por alguns foi a ausência de café por perto, item de sobrevivência número 1 de escritores, o que pode ser resolvido nas próximas edições do evento.
Claudia Lemes, presidente da Associação Brasileira de Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror (Aberst), apresentou a entidade, salientando a necessidade da profissionalização dos autores no Brasil. “Queremos fazer uma ponte entre as editoras e os pequenos escritores, aqueles que estão em busca de um bom contrato e que querem publicar seus livros”, disse.
Num clima amistoso de clube do livro, o PAN mostrou a grande capacidade de articulação de seus realizadores. Sem verbas públicas diretas, apenas com o patrocínio de uma editora com vasto catálogo no gênero (a L&PM) e muita costura de apoios, o Porto Alegre Noir aconteceu. O Brasil já tem seu festival noir e começamos muito bem. Tinha que ser no Rio Grande do Sul, um estado com um mercado editorial consolidado e quase auto-suficiente, grandes editoras e notórios escritores, e eventos tradicionais como a Feira do Livro e a Jornada de Passo Fundo.
Mas o melhor de tudo está no fato de que festivais desse tipo e nessa escala podem acontecer em outras cidades porque são viáveis, possíveis e necessários. Já pensou numa São Paulo Negra ou num Rio de Suspense? De forma criativa e definitiva, o Porto Alegre Noir aconteceu e deixou um rastro de pistas no seu encalço, a exemplo dos grandes crimes.
[O literaturapolicial.com foi um dos apoiadores do evento. O Porto Alegre Noir foi uma realização da Fio Produtora, Cine Um Produtora e Cesar Alcázar, e teve como patrocinadores a editora L&PM e a Versátil Home Video]
Jornalista, dramaturgo e professor universitário. Já publicou 12 livros na área acadêmica e escreveu oito peças de teatro. É um dos autores do e-book “Os Maiores Detetives do Mundo” (Chris Lauxx).
PAN foi um evento excepcional. Num espaço cheio de charme e clima propício ao Noir. Todas as apresentações foram de alta qualidade. E a cobertura aqui está bem abrangente. Dá uma ótima ideia do que foi a PAN. Parabéns ao site Literatura Policial, sempre incentivando este gênero tão querida da literatura.
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