Lançamento da coleção Simenon em São Paulo

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John Simenon, Raphael Montes e Tony Bellotto participam de bate-papo em São Paulo

Aconteceu ontem, em São Paulo, mais um evento da Jornada Simenon no Brasil. Organizado pela Companhia das Letras, o debate trouxe John Simenon, filho do célebre escritor belga, Tony Bellotto, criador da série Bellini, e Raphael Montes, autor de Dias Perfeitos, para a Livraria Cultura Paulista.

O encontro foi realizado no Teatro Eva Herz, e reuniu fãs de diversos gêneros literários no auditório. Marcado para às 19h30, a fila começou a se formar a partir das 18h em uma da laterais do andar. Após o debate, houve um coquetel e uma sessão de autógrafos com os três convidados.

A Companhia das Letras está reeditando a obra completa de Georges Simenon no Brasil, iniciando com as três primeiras aventuras de Maigret: “Pietr, o Letão”, “O Cavalariço da Providence” e “O Enforcado de Saint-Pholien”.
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“Maigret é tudo que eu não sou!”

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Usando tradução simultânea, John – que tem similaridade física com o pai – falou sobre os hábitos de Georges Simenon, o estilo do personagem que pulou das páginas da ficção para o mundo real de milhões de leitores e como administra um legado tão particular e precioso.

Os detetives da Era de Ouro – “Não havia muitos detetives fictícios na época em que Maigret surgiu. Havia Sherlock Holmes e os personagens de Agatha Christie. Meu pai não queria fazer o que já tinha sido feito. Ele tentou vários personagens (antes de Maigret).”

A criação de Maigret – “Meu pai era magro, baixo, extremamente ansioso, o oposto de Maigret! Pode-se dizer, de certa forma, que Maigret era tudo que ele não era.”

A técnica do detetive – “Com Maigret, não é “o que” aconteceu, é “por que” aconteceu. Você entra na alma do personagem. Chamo Maigret de “whydunit” (em contrapartida aos tradicionais “whodunits”, recurso onde há um assassinato e a necessidade de encontrar o assassino, vertendo as atenções do livro para quem cometeu o crime).”

Madame Maigret – “Ela é uma espécie de esteio para Maigret. Ele tem a coragem de manter-se no que acredita por causa dela. Sem ela, ele não teria essa coragem. Quando eles estão juntos, compartilham muito. Eles se chamam apenas por Maigret e Madame Maigret.”

O processo criativo – “Era doloroso para meu pai escrever, era como parir. Havia livros cheios de ideias, ele fazia caminhadas, longas reflexões sobre os personagens. Quando ele já sabia o que queria e tinha isso em mente, fechava-se no escritório bem cedo e começava a datilografar. Ninguém o via escrever. Ele escrevia 1 capítulo inteiro muito rapidamente. Perdia 1 litro de suor em 1 sessão e meia de escrita, era como um atleta! Mas era um atleta que corria 800m, não uma maratona.”

O hábito de datilografar – “Não há volta na máquina de escrever. Isso, aliado ao som das teclas, era importante para manter um ritmo enquanto ele fazia os livros. Meu pai era desafinado, mas queria que os livros soassem como as músicas de Bach, livros com aquele ritmo.”

O processo de pesquisa – “Não havia muita pesquisa. Sua pesquisa era viver quantas vidas possíveis. Não era uma pesquisa consciente. Ele vivia.”

A polícia nos romances – “Procedimentos policiais não eram importantes nos livros de Maigret. Meu pai sabia tudo sobre os procedimentos. Ele leu tudo sobre eles, inclusive para não usá-los.”

Simenon empresário – “Ele não tinha agente, advogado. Ele escolhia tudo, da capa dos livros às editoras. Quando decidi cuidar do legado, tive que entender como tudo isso funcionava.”

Adaptações – “Todo mundo vê Maigret de um jeito. Ele adquiriu seu próprio DNA. Mas meu pai evitava assistir às adaptações. Um dos favoritos dele, entretanto, era Pierre Renoir (filho do pintor Renoir, fez Maigret no cinema).”

NOVA GERAÇÃO

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Raphael Montes é o autor de “Suicidas” e “Dias Perfeitos”

Raphael Montes tem 23 anos e dois livros lançados: Suicidas, finalista do prêmio Benvirá de Literatura de 2010, e o thriller de suspense “Dias Perfeitos”, que atualmente está entre os mais vendidos do país no gênero. Raphael tem atraído a atenção de fãs de todos os gêneros literários, conquistando cada vez mais um contingente de admiradores de suas tramas inesperadas e plenas de tensão e diálogos inteligentes. Neste debate, assim como no anterior no Rio de Janeiro, seu papel foi o de mediador. Ele deve lançar um terceiro livro em breve, com título provisório de “Jantar no Matadouro”.

“Acho esse preconceito cafona e anacrônico” – Tony Bellotto é mais reverenciado pelo status de estrela do rock que desfruta desde os anos 80. Guitarrista do Titãs, banda formada em 1982 pelas esquinas de São Paulo, coube a ele trilhar os degraus da fama como músico para depois encontrar o tempo – e a maturidade – para dedicar-se à arte de escrever. “Queria ser músico e escritor. Eu gostava de ler A Ilha do Tesouro, Moby Dick… Eu já escrevia desde pequeno”. É dele a série com Remo Bellini, um detetive brasileiro, comum, que vive aventuras cheias de sexo e prostituição, drogas e contravenções variadas, gente misteriosa e sempre suspeita, e claro… mortes violentas.

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Tony Bellotto falou sobre seu personagem, o detetive Remo Bellini

Para Tony, seu detetive é profundamente inspirado em Philip Marlowe, o detetive durão de Raymond Chandler que se envolve com os crimes da rua. “Ele tem o cinismo, a amargura, o humor, o olhar crítico e narra em primeira pessoa. Queria que o Bellini tivesse um pouquinho de cada coisa”, explica. “Mas mesmo que tente, ele não consegue ser Marlowe”. Bellotto acredita que seu personagem transfere uma doçura não imaginada no momento da concepção. “Fico irritado com a ternura de Bellini”, brinca o criador, resignado. Ás vezes eles tomam vida própria, e isso geralmente é um bom sinal…

Tony sustenta que um dos grandes prazeres é descobrir a história pelo caminho, sem necessariamente saber o final de antemão. “A história vai acontecendo na cabeça. Gosto dessa descoberta da escrita. Adoraria ter essa rapidez do Simenon, mas meu processo é mais lento. Eu vou com um rascunhão”.

Respondendo às perguntas finais, ele comentou sobre o preconceito que alguns filões críticos reservam ao gênero policial. “Acho cafona e anacrônico. Temos tantos exemplos de autores bons, Lehane, Padura, Patricia Highsmith… Existe um público para isso. A literatura policial brasileira é original e criativa. A Patricia Melo, Marçal Aquino e Rubem Fonseca fazem grandes livros”.

Tony revelou que deve lançar mais um romance policial ainda este ano.

Veja o álbum do evento no Facebook: http://on.fb.me/1wuSnEV

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