Por Rodrigo Padrini – Imagine um cachorro. Um cachorro grande e peludo. Com noventa quilos. Esse cachorro está rosnando. É um rosnado grave, baixo e intenso. Seus olhos estão avermelhados e algo parece estar errado ali dentro. Esse cachorro não está só nervoso, nem raivoso. Esse cachorro está maluco e quer acabar com você. Você mesmo, ninguém mais. Não há como escapar, nem para onde correr.
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“Cujo” (Suma de Letras, 2016) é uma das histórias mais conhecidas de Stephen King. Sua primeira edição foi publicada em 1981 e o livro estava esgotado nas livrarias há mais de vinte anos. A nova edição da Suma de Letras traz uma excelente entrevista com o autor e um visual muito bem trabalhado, com capa dura e estrutura digna de um clássico.
O enredo pode parecer simples e é bem provável que você já tenha ouvido falar sobre um cachorro raivoso, meio demoníaco, com sede de sangue, andando por aí. “Cujo” é o nome do São Bernardo de noventa quilos da família Camber que, após ser mordido por um morcego, incorpora o coisa-ruim lamacento e é levado a atacar violentamente quem cruza o seu caminho na afastada casa em Town Road, na saída de Castle Rock.
“Era um som grave e forte, como de um motor de popa em marcha lenta. Ronnie sabia que só um cachorro enorme produziria um som daqueles”
Na entrevista que compõe a edição, King diz que Cujo era um livro usual quando foi concebido, dividido em capítulos. No entanto, o autor queria que o livro “atingisse o leitor como se fosse um tijolo jogado pela janela”, como se o livro fosse “uma espécie de agressão pessoal”. Por isso, Cujo é um livro inteiro em um único capítulo, um relato ininterrupto e chocante que nos incomoda profundamente, como um bom livro de terror.
De acordo com King, a história surgiu de um episódio real, quando o autor decidiu levar a sua moto para conserto a um mecânico que morava na zona rural de Brigdton, no Maine. Ao chegar à oficina, King se deparou com o maior cachorro que já havia visto na vida, rosnando para ele. O autor relembra o medo que sentiu naquele momento, já que sua moto havia acabado de estragar definitivamente e ele não tinha como, nem para onde correr. Apenas esse “pedaço de uma história” operou em sua imaginação para se tornar uma de suas tramas mais conhecidas.
“Cujo”, assim como outras histórias de Stephen King que já li, traz uma das maiores qualidades do autor, em minha opinião: a criatividade. O “mestre do terror” não se limita a juntar elementos assustadores ou apenas imaginar situações que mexam com os nossos medos mais profundos. King constrói os seus personagens com muito talento e conseguimos entrar no universo criado por ele, em cada livro, com grande facilidade. Sua escrita diverte, entretém, cativa e informa. Sua habilidade de construir histórias comuns e, ao mesmo tempo, extraordinárias, é admirável.
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Nos quatro romances que li de Stephen King até hoje – Joyland, Novembro de 63, Escuridão total sem estrelas e Cujo -, percebi sua desenvoltura em criar mundos, personagens e situações que orbitam a trama principal, sem que a prejudiquem ou desviem o nosso interesse. King abusa de sua capacidade narrativa e não vai direto ao ponto.
Para mim, o seu estilo de escrita e a sua forma de contar histórias são extremamente cativantes. No entanto, imagino que essa mesma qualidade que elogio, possa se tornar uma característica que afaste alguns leitores e crie algo do tipo “ame-o ou deixe-o”. Para quem se interessa por esse tipo de observação, o livro “Sobre a escrita” é uma obra indispensável, já que é um espaço criado por King para falar de sua história pessoal e profissional, e discutir o seu ofício.
Sobre “Cujo”, não pense em perder essa edição. Drama, suspense e terror se misturam perfeitamente nesse enredo tão inesperado, sobrenatural e também humano. O seu instinto de sobrevivência vai falar alto durante a leitura e não se assuste se, ao fim de trezentas e poucas páginas, você encontrar um fim trágico e cruelmente belo.
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* Livro enviado ao site pela Editora Suma
SOBRE O LIVRO
Título: Cujo
Autor: Stephen King
Tradução: Michel Teixeira
Editora: Suma de Letras
Páginas: 376
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SINOPSE – Nos arredores de uma pacífica cidade do Maine, um monstro está à espreita. Frank Dodd está morto e a cidade de Castle Rock pode ficar em paz novamente. O serial-killer que aterrorizou o local por anos agora é apenas uma lenda urbana, usada para assustar criancinhas. Exceto para Tad Trenton, para quem Dodd é tudo, menos uma lenda. O espírito do assassino o observa da porta entreaberta do closet, todas as noites. Você pode me sentir mais perto… cada vez mais perto. Nos limites da cidade, Cujo – um são-bernardo de noventa quilos, que pertence à família Camber – se distrai perseguindo um coelho para dentro de um buraco, onde é mordido por um morcego raivoso. A transformação de Cujo, como ele incorpora o pior pesado de Tad Trenton e de sua mãe e como destrói a vida de todos a sua volta é o que faz deste um dos livros mais assustadores e emocionantes de Stephen King.
Psicólogo, mestre e doutorando em Psicologia. Atua no sistema prisional. É músico e leitor assíduo de romances policiais, com aquele lugar especial no coração para Georges Simenon e Raymond Chandler.
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