A casa da seda, de Anthony Horowitz

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Por Alexandre Amaral – Quem não gostaria de fazer parte de uma história em que Sherlock Holmes é o protagonista? Há mais de um século temos vivido as aventuras do detetive como meros espectadores, mas mesmo com essa distância, nos sentimos conhecedores de seus trejeitos, hábitos rotineiros e manias.

Em algumas ocasiões é até possível sentir que somos o ocupante de uma poltrona imaginária disposta na sala do 221b enquanto Watson e Holmes conversam sobre o caso mais recente.

Para ressuscitar Holmes nas páginas, antes de mais nada, seria necessário ter amplo conhecimento sobre quase toda as suas aparições e desdobramentos. Conhecer o detetive e todo seu ambiente é uma missão bem menos difícil do que a tentativa de reproduzi-lo. E é isso que Anthony Horowitz almeja em seu livro A Casa da Seda.

No que é considerado o novo romance de Sherlock Holmes, Anthony Horowitz, através de seu Watson, conta uma aventura inédita do famoso detetive. O enredo apresenta um Watson já idoso, narrando o que seria uma aventura que só deveria ser levada aos leitores após a sua morte, tamanha a asquerosidade do problema em que foram envolvidos.

 

Esforçando-se para replicar todo o carisma de Watson e genialidade de Holmes, o autor atinge certa credibilidade no decorrer da trama, apresentando personagens caricatos, e concluindo com uma dupla de protagonistas com até certa simpatia.

 

O ambiente do romance parece bem armado, montando uma Baker Street tão real quanto poderia ser. Mas, ainda assim, é possível perceber que o livro está bem distante de ser tão badalado quanto as críticas dizem que é. Apesar de a história se desenvolver bem e toda essa maquiagem melhorar com o progresso do enredo, fica sempre nítido que a aventura é uma reverência aos originais, e não chega a fazer frente em questão de qualidade. Alguns detalhes chamam a atenção e quebram algumas expectativas, positivas e negativas, que poderíamos esperar do material.

Percebe-se que Horowitz se esforça para aproximar seu pastiche do original, o que talvez tenha sido um erro por preciosismo. Por se concentrar tanto em seu Holmes, Horowitz racionaliza demais seu Watson, afastando-o do verdadeiro, dando a ele um tom exagerado, mas não inverossímil. Assim, ele cria um Watson que fornece deixas pontuais, e parece querer ditar o enredo a ser seguido pelo detetive, como se o Watson vivesse cada aventura como um diretor que programa cada cena que será registrada. Com esses deslizes, nos transparece que o Holmes de Horowitz é pálido, sem sua altivez e força naturais, claramente perceptível a quem leu meia dúzia de contos de Conan Doyle.

Para todo leitor de Holmes, homenagens são e serão sempre bem-vindas. O selo da Conan Doyle Estate chancela a obra e passa certa confiança ao leitor menos precavido e, de certa maneira, fisga o desconfiado leitor mais fiel, o que ajuda a impulsionar as vendas. Fica claro que a permissão para trazer Holmes de volta não é sinal de que algo bom virá com ele, mas aquece o coração de cada fã perceber que cenários ainda não explorados podem ser um possível palco para o detetive que nunca morrerá.

 

SOBRE O LIVRO

Título: A casa da seda
Autor: Anthony Horowitz
Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges
Páginas: 272
Editora: Zahar
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SINOPSE – O detetive Sherlock Holmes está de volta! Os mesmos métodos irresistíveis de dedução, a incrível velocidade de raciocínio, a parceria com Dr. Watson, os mesmos vícios e manias, o clima de suspense e mistério que prende o leitor até a última página. O que muda é o autor que assina este romance. O mais famoso detetive da história, criado por Arthur Conan Doyle no fim do século XIX, agora ganha vida pelas mãos de Anthony Horowitz. A Casa da Seda é o primeiro caso de Sherlock Holmes escrito por outro autor a obter reconhecimento e autorização oficiais da entidade que administra e protege a obra do escritor, o Arthur Conan Doyle Estate. Na trama, o leitor se depara com uma Londres gelada. É novembro de 1890 e Sherlock Holmes e Watson estão juntos à lareira saboreando um chá, quando um agitado cavalheiro bate à porta do número 221B de Baker Street pedindo ajuda. Agoniado, ele conta que está sendo seguido há semanas por um homem com o rosto marcado por uma cicatriz. Intrigados pelo relato, Holmes e Watson logo se veem às voltas com uma série de acontecimentos enigmáticos e sinistros que se espalham da penumbra das ruas de Londres ao fervilhante submundo do crime de Boston. Quanto mais mergulham no caso, mais se deparam com um nome, que é sempre sussurrado – ” A Casa da Seda”. Uma misteriosa entidade, um adversário mais mortal que qualquer outro já enfrentado por Holmes. Depois dessa leitura, ninguém terá mais dúvidas. Holmes está mesmo de volta.

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