Por Ana Paula Laux – É incrível imaginar que, passados 130 anos dos assassinatos em Whitechapel, as pessoas ainda se interessam pelo caso de Jack, O Estripador. Donald Rumbelow, autor do livro “Jack, O Estripador: A Investigação Definitiva Sobre O Serial Killer Mais Famoso Da História” (Editora Record) define bem essa questão ao apontar que jamais se encontrou um culpado para os crimes que abalaram Londres no final do século 19, e isso permite que qualquer pessoa aponte seu próprio fim para a história.
Rumbelow, que dá aulas sobre crime e história de Londres, apresenta uma pesquisa detalhada sobre vários aspectos do caso, tal como a forma como as pessoas viviam nos cortiços ingleses em tempos vitorianos, as carências, preconceitos e costumes daquela sociedade. Esse discernimento ajuda a entender porque a polícia falhou em prender o culpado pelas mortes violentas de pelo menos cinco mulheres em Whitechapel naquele ano, visto que as regiões mais pobres de Londres ficavam delegadas, muitas vezes, à própria sorte e justiça.
Os assassinatos são reconstituídos passo a passo, expondo a escalada de terror que Jack promoveu pelos becos de Londres. Com detalhes sobre todas as possíveis vítimas (há teorias de que ele teria matado mais do que cinco mulheres, número oficial confirmado pela polícia), o autor especula sobre as possibilidades quanto à identidade, origem, aparência e motivos do criminoso. Fica evidente que a falta de sintonia entre as hierarquias da polícia foi um dos motivos do fracasso na conclusão desse caso que, curiosamente, carece hoje de evidências e material forense, tudo perdido no tempo, jogado fora ou incinerado.
O melhor do livro está na primeira metade, pois é onde Rumbelow se concentra no caso em si e nos suspeitos investigados pela polícia e imprensa, além de especular sobre a autenticidade das famosas cartas de Jack enviadas para a polícia. Nos últimos capítulos, ele faz um apanhado sobre a influência de Jack no cinema e TV, além de apontar outros criminosos que se “inspiraram” no caso, como o Estripador de Yorkshire e o Estripador de Dusseldorf.
“Do inferno
Sr Lusk
Senhor
Eu envio para você a metade do
rim que eu tirei de uma mulher e
que conservei para o senhor. O outro pedaço
eu fritei e comi e estava muito bom.
Talvez eu envie a faca ensanguentada que
o tirou se esperar um pouco
mais.
assinado
Pegue-me quando
puder. Senhor Lusk.”
Rumbelow não aponta ninguém como culpado definitivo. Segundo ele, o assassino pode estar entre os suspeitos mas, sem novas evidências, pode-se apenas conjecturar pois possivelmente jamais saberemos quem cortou as gargantas e removeu os órgãos internos das prostitutas violentamente assassinadas em Whitechapel entre agosto e dezembro de 1888.
Uma leitura bastante completa para quem se interessa pelo tema. Eu diria que obrigatória.
Título: Jack, o Estripador. A Investigação Definitiva Sobre o Serial Killer Mais Famoso da História
Autor: Donald Rumbelow
Páginas: 378
Editora: Record
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SINOPSE – Um exame dos fatos, teorias e fascinações que cercam o maior mistério policial da história. Em 1888, no distrito londrino de Whitechapel, prostitutas foram assassinadas em série, de forma cruel e sádica. Chamado para investigar o caso, o inspetor Fred Abberline foi incumbido de rastrear e capturar o até hoje misterioso assassino que ficaria conhecido como Jack, o Estripador. Apresentando todas as evidências conhecidas neste relato completo sobre o serial killer mais infame de todos os tempos, Donald Rumbelow submete as teorias sobre a identidade e a motivação do famoso assassino a intenso escrutínio, com uma lista de possíveis suspeitos que vai desde um ex-presidiário paupérrimo e um marinheiro mercante até Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas, e Randolph Churchill, pai do ex-primeiro-ministro inglês Winston Churchill. O autor examina a mitologia que envolve o caso e propõe uma análise sobre o perfil do Estripador, tanto nas reportagens à época dos crimes quanto na ficção inspirada nos assassinatos, além de traçar paralelos com outros terríveis casos famosos, como os do Estripador de Düsseldorf e do Estripador de Yorkshire, na tentativa de esclarecer as razões para as atrocidades cometidas na Londres vitoriana.
Jornalista. Trabalha com curadoria de informação, gestão de mídias sociais e criação de conteúdo digital. Em 2014, lançou o e-book “Os Maiores Detetives do Mundo” (Chris Lauxx). Contato: [email protected]