Pssica, de Edyr Augusto: Quando Bye Bye Brasil encontra com Cidade de Deus

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Por Rogério Christofoletti – O vídeo se espalha na escola. A menina com a boca na botija. Risos. Reprovações. A ira dos pais. A expulsão de casa. Vai morar com a tia agora. Só tem catorze anos. Mas é bonita. E já parece mulher. Má companhia: ela se perde. Vem a van. E a leva. Cai em desgraça. Vira escrava. Do sexo. Como tantas outras. Meninas. Vendidas todas as noites, em leilões nos cabarés. Sua vida acabou. Parece praga.

Pssica. Não é a única desgraçada em 96 páginas. Tem o Portuga, que é angolano. E que perdeu a mulher. Esquartejada pelos ratos d’água. Violentos. Sem limites. Marginais. E que infestam os rios de Belém. Roubam carga e desgraçam a vida dos outros. Como o Portuga. Parece praga. Pssica. Os personagens de Edyr Augusto teimam em sobreviver. No romance policial telegráfico. Nas frases curtíssimas e cortantes. Na narrativa alucinada que provoca vertigem.

Tem tráfico de mulheres, tem violência gratuita. Tem tiro e estupro, crack e desmando. Humilhação e prostituição infantil. Tem uma penca de mortos. E gente que não vale nada. Pai que vende a filha. Sexo forçado e apressado. Tem capangas, balsas, rabetas e lanchas. Tem suor, xiri, cabaço. Tudo cheirando a leite. Peitinhos de pitomba. Meninas sem sonho. Meninas da noite. Como as de Gilberto Dimenstein. Não é Cuiu-Cuiú. É Belém, Marajó, Caiena na Guiana Francesa. Lá onde os rios são ruas. Onde não há Estado. O governo é o da ganância. A lei do cão. Um Brasil esquecido, aquele que escondemos. Longe da charmosa e climatizada Estação das Docas.

Perto das boates e dos garimpos. No meio do fim do mundo. Bodum, miséria e sujeira. As meninas movidas a cocaína. Lambuzadas pelos homens. Usadas e descartadas. Lavou, tá novo! Conseguem fingir. Não conseguem fugir. Morte matada, morte encomendada, gargantas cortadas. Como as frases do livro. Que é excitante, degradante e revoltante. As ações atropelam as palavras. Tudo rápido. Edyr Augusto é um escritor veloz. Ele sabe. Pisa fundo. Não gosta de looooooooongas descrições, contextualizando e psicologizando os personagens num emaranhado de trololós.

Prefere o ritmo dos popopós. Que cruzam os rios que são ruas. Não existe inocência. Lá se foi a decência. Égua! Preá, Pitico, Tabaco. Índio, Jane e Barrão. Zé do Boi, Amadeu e Podrêra. As vidas são vazias. Vazadas nas suas misérias. O policial aposentado fareja o paradeiro da menina. O angolano viúvo cavoca uma razão pra viver. Quer se vingar. A tensão é permanente. As frases vêm em rajadas. Com ritmo marcado, porque muitos estão marcados pra morrer. Prazer em matar, prazer em foder. O sexo é falado. O sexo é o sexo. O homem é o lobo do homem. Cada frase vale. Não pule nenhuma. Vá até o final. O estilo é o homem. Edyr Augusto dá chicotadas nas páginas. Espirra sangue nas paredes. Salpica palavras nos parágrafos. Pinceladas fortes. Diálogos sem travessão. Você vai ler numa sentada. Vou imitar o autor na resenha. A narrativa é veloz, e o movimento é sexy. Cada frase vale. Todas curtinhas. A vida é rápida. Passa diante dos olhos. Isso não vai terminar bem. Era pra ser um dia normal. A narrativa é veloz. Ela te captura. É que nem uma praga. Uma pssica. Gruda e não sai. Danou-se!

 

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Título: Pssica
Autor: Edyr Augusto
Editora: Boitempo Editorial
Páginas: 96
Ano: 2015
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SINOPSE – Uma adolescente é raptada no centro de Belém do Pará e vendida como escrava branca para casas de show e prostituição em Caiena. Um imigrante angolano vai parar em Curralinho, no Marajó, onde monta uma pequena mercearia, que é atacada por ratos d’água (ladrões que roubam mercadorias das embarcações, os piratas da Amazônia) e, em seguida, entra em uma busca frenética para vingar a esposa assassinada. Entre os assaltantes está um garoto que logo assumirá a chefia do grupo. Esses três personagens se encontram em Breves, outra cidade do Marajó, e depois voltam a estar próximos em Caiena, capital da Guiana Francesa, em uma vertiginosa jornada de sexo, roubo, garimpo, drogas e assassinatos.

 

 

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