Por Luciana da Cunha – Quando chega a época do Halloween os canais de TV se enchem de programações especiais, repletas de filmes de terror com direito a monstros e assassinos que variam de Freddy Krueger a Jason. Com todo o meu respeito aos serial killers mais caricatos e com pinta de monstro mesmo, os que ainda me fascinam de verdade são aqueles psicopatas que parecem caras super legais, com quem você adoraria tomar um café e trocar uma ideia. Isso, é claro, até você descobrir que esse seu amigão, ao invés de ter um hobby de colecionar canecas ou marcadores de página, prefere colecionar cadáveres.
Nos últimos anos, os serial killers saíram daquele universo limitado dos filmes de adolescentes e ganharam séries que exploram de forma bem mais detalhada e pé no chão a psicopatia e sociopatia. Pra quem quiser encarar uma maratona sangrenta nesse Halloween – ou em qualquer época do ano – aqui estão os cinco caras em quem você realmente deveria ficar de olho.
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1. Arthur Mitchell – Trinity Killer (Dexter)
A vida de Arthur é digna de comercial de margarina: professor, pai de dois filhos e que viaja os Estados Unidos pra apoiar um projeto de caridade. Mas esse exemplo de cidadão norte americano tem muito mais a esconder do que uma filha fora do casamento. Nos últimos 30 anos, ele viajou o país não apenas construindo casas para os menos afortunados, mas estabelecendo um padrão bem específico de assassinatos: uma mulher é morta no banho com um corte na artéria femoral, outra mulher supostamente se joga do alto de um prédio e um pai de família é morto a golpes de martelo. A dicotomia do personagem é o que mais intriga não apenas o espectador, mas o protagonista Dexter que, ao invés de matá-lo assim que descobre sua identidade – como faz com todos os outros assassinos em série – decide se aproximar e aprender melhor como conciliar a vida pessoal com o seu passageiro negro. Mesmo figurando apenas na quarta temporada da série, Trinity conseguiu mudar o rumo da série e rendeu um Globo de Ouro e um Emmy para o ator John Lithgow.
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2. Joe Carroll (The Following)
Se teve um serial killer capaz de ocupar o vazio deixado pelo Dexter foi Joe Carroll (James Purefoy), antagonista master de The Following. Infelizmente a série não estava à altura de seu vilão e foi cancelada logo na terceira temporada. Carroll é um professor de literatura da Universidade de Winslow, mas já começa a série atrás das grades por ter cometido uma série de assassinatos no campus. Diferentemente da maioria dos assassinos deste tipo, ele não agia sozinho. Mesmo do corredor da morte, ele contava com um número considerável de “seguidores” que agiam em nome dele, mantendo o seu padrão fundamental: todas as mortes eram inspiradas na obra de Edgar Allan Poe. Aposto que se os roteiristas de The Following tivessem contado a história sob a perspectiva de Carroll, a série estaria rendendo até agora. Adoro o Kevin Bacon, mas o policial interpretado por ele (Ryan Hardy) era muito caricato e monótono. Prova disso é a queda de qualidade da história na terceira temporada, quando Carroll é deixado meio de lado. O negócio só voltou a ficar bom quando ele retornou à cena.
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Outro assassino fascinante que também conhecemos atrás das grades – pelo menos nas telonas – é Hannibal Lecter. Criado em 1981 por Thomas Harris, Dr. Lecter já ganhou quatro filmes e, recentemente, uma série de TV (que também morreu na terceira temporada). Culto, sofisticado e canibal, nenhum dos filmes, livros ou a própria série conseguem definir direito a patologia do médico psiquiatra (ah, a ironia!). Talvez seja por isso que o perfil dele é explorado há mais de trinta anos de diversas formas. Tanta densidade de personagem rendeu a Anthony Hopkins o Oscar de Melhor Ator em 1991 e, em 2003, o personagem (de Hopkins também) foi considerado o maior vilão de todos os tempos pelo American Film Institute. A série de TV (2013 – 2015) retrata um Hannibal mais jovem, que tem como paciente um agente do FBI com certa empatia por assassinos em série (ah, a ironia ataca de novo!).
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Mais um caso de assassino em série que fascina o público há décadas. Desde 1960, o assassinato no chuveiro se mantém como uma das cenas mais assustadoras e icônicas do cinema, assim como o desfecho de Psicose. Desde 2013, Bates Motel faz uma releitura interessante de como seria a adolescência de Norman Bates caso ele vivesse nos dias atuais. O mais legal é que a série explora justamente o que mais nos intriga no personagem: como teria sido a relação com a sua mãe, Norma. Desde a primeira temporada, a mãe deixa evidente a sua influência sobre Norman que, aos poucos, passa a absorver a personalidade dela durante os seus “apagões”. Com atuações espetaculares de Freddie Highmore e Vera Farmiga, certamente vale a espiada, tanto pelos tradicionais fãs de Hitchcock como pela nova geração de cinéfilos e maratonistas de séries.
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Claro que numa lista dessas não poderia faltar o pai das atuais séries de psicopatas assassinos em série: Dexter! Sim, é verdade que Norman Bates e Hannibal Lecter já existiam há tempo em outras formas de entretenimento, mas acredito que o sucesso de uma série sobre um serial killer cujo padrão é justamente matar outros assassinos como ele (serialkillerception?) tenha sido um bom incentivo para as demais. Assim como Bates e Lecter, Dexter Morgan também saiu das páginas dos livros para a TV. Mesmo com a aclamação de Michael C. Hall na primeira metade da série, que lhe rendeu um Globo de Ouro de Melhor Ator, a saga do assassino que trabalhava no departamento de polícia de Miami se tornou errática e conta com um dos finais mais decepcionantes da TV. Ainda assim, o argumento é interessante e um prato cheio pra quem se interessa pelo universo dos serial killers, afinal, Dexter se depara com vários deles ao longo de oito temporadas.
(Imagens: Showtime 2009, FOX 2012, NBC/Brooke Palmer/NBC, Photo by James Dittiger, Showtime 2013)
Jornalista em Blumenau, desde os 15 anos se aventura pela blogosfera. Cinéfila desde a sua primeira VHS da Disney, escreve sobre o tema há nove anos. Descobriu a paixão pela literatura com romances policiais, mas hoje lê um pouco de tudo – principalmente tudo aquilo que vai parar nas telonas.
Ótima seleção Luciana. Gosto bastante do Arthur Mitchell. Acho que foi uma das melhores temporadas de Dexter. Ele então, nem se fala.