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POR RAUL SOUSA – Um dos grandes desafios enfrentados pelos jovens escritores japoneses que romperam com a tradição realista da literatura policial, guiados por Soji Shimada e Yukito Ayatsuji, foi resgatar a aproximação entre o gênero com o romantismo e o gótico. Um dos autores de mistério que conseguiu juntar elementos góticos em suas obras foi John Dickson Carr. Suas obras influenciaram muito os autores policiais que surgiram no Japão. Um desses autores era o jovem Masaya Yamaguchi. Ele publicou Death of the Living Dead (生ける屍の死) dois anos após o lançamento de The Decagon House Murders (殺人十角館).

Death of the Living Dead sempre foi bastante elogiado pelos escritores de literatura policial japonesa, atingindo o 15º lugar na lista de 2012 dos 100 melhores romances japoneses de mistério publicado na revista Shūkan Bunshun. Masaya Yamaguchi é respeitado pelos membros do Honkaku Mystery Writers e também do Mystery Writers of Japan, os dois maiores grupos de escritores de literatura policial japonesa. Eu já conversei com alguns ex-presidentes dos grupos e sempre ouvi informações muito boas a seu respeito. Conheço o Yamaguchi-sensei desde 2018 e posso descrevê-lo como um apaixonado pela literatura policial. Quem frequentou os grupos sobre a Era de Ouro e sobre John Dickson Carr via a intensa participação dele com comentários e posts.

O romance é ortodoxo e, ao mesmo tempo, heterodoxo. É ortodoxo porque segue a definição de Koga Saburo, focando em investigação e no puro raciocínio lógico. É heterodoxo porque o mundo da história é completamente diferente de tudo que estamos acostumados. Os mortos voltam a viver, embora ainda passem por um processo de decomposição mesmo mantendo as memórias. Isso muda completamente o que estamos habituados a encarar nos romances policiais, especialmente relacionado a motivações. A família Barleycorn, conhecida por ter um cemitério, reúne-se justamente nesse ambiente caótico pois Smiley, o patriarca da família, está muito debilitado. Grin Barleycorn e sua namorada Cheshire decidem visitar a família, mas são arrastados para a confusão envolvendo estranhos crimes.

O livro traz intensas discussões sobre vida e morte, além de mostrar como determinados povos encaravam essa questão. É importante destacar que esses assuntos são considerados naturalmente mórbidos de se discutir, mas aqui há uma presença de bom humor que alivia um pouco a carga das discussões. Aliás, bom humor é o que não
falta no romance. Há diversos momentos onde você ri com o absurdo das situações. Apesar disso é preciso lembrar que esse é um romance policial e também há muito mistério. O autor joga limpo com o leitor, apresentando todas as informações necessárias para solucionar o mistério. O autor consegue te enganar facilmente e não é por causa da sua estranheza com o universo, mas porque o mistério é bem construído mesmo.

Esse é um livro denso. O início da narrativa é bem lento, mas o ritmo torna-se frenético na segunda metade. Eu me apeguei aos personagens com certa facilidade e sinto falta deles. É triste perceber que os personagens deixam de existir quando terminamos de ler um livro. Masaya Yamaguchi possui outras séries de mistério, incluindo a série Kidd Pistols, o detetive punk de um mundo paralelo onde os grandes detetives existiram na vida real, os Beatles nunca existiram e a Segunda Guerra Mundial nunca aconteceu.

Alguns escritores japoneses começaram a introduzir elementos sobrenaturais em suas obras após Death of the Living Dead. Vampiros, lobisomens, zumbis e fantasmas são apenas alguns exemplos de seres do horror que foram introduzidos em diversos romances policiais japoneses. Isso mostra a força da literatura policial japonesa contemporânea: o gênero lá abarca tanto as histórias realistas, onde as regras do universo do livro são ditadas pela nossa própria realidade, quanto as histórias mais fantasiosas possíveis, onde os autores controlam e alteram essas regras. Eles conseguem fazer isso sem deixar de lado os exercícios de raciocínio lógico e de dedução.

Death of the Living Dead está disponível para Kindle(em inglês).

SOBRE O E-BOOK

Título: Death of the Living Dead
Autor: Masaya Yamaguchi
Páginas: 524
Compre o e-book (en inglês)

SINOPSE – Em meados da década de 1980, um fenômeno inexplicável surgiu para aterrorizar os Estados Unidos. Os mortos começaram a voltar à vida. Enquanto o mundo luta com um renascimento da ideologia da Idade Média de “Memento Mori” (“Lembre-se da Morte”), uma série de assassinatos bizarros ocorre em uma cidade rural na Nova Inglaterra. Nesta cidade estranha, uma família de agentes funerários domina tudo, e uma luta pela sucessão de quem controlará os negócios da família mergulha o elenco excêntrico de personagens em um mistério emocionante e sombriamente cômico, principalmente quando eles descobrem que a morte pode não ser o fim que eles pensavam que era. Como os próprios familiares são encarregados de resolver os crimes cometidos em seu meio, a investigação é lançada no caos quando as vítimas falecidas são ressuscitadas e escapam. Com a família virada de cabeça para baixo, seu membro mais novo, um adolescente punk-rock chamado Grin, deve assumir a liderança e resolver o caso. Dilemas clássicos de mistério, de motivos ocultos a quartos trancados, recebem uma reviravolta macabra quando os mortos se recusam a permanecer mortos por muito tempo. E com pistas escondidas por toda parte neste mundo imersivo e excêntrico, prenúncios inteligentes e dedução cuidadosa levam a recompensas surpreendentes e satisfatórias. O que começa como um mistério intrigante logo se transforma em muito mais, com ação, suspense e filosofando sobre questões de vida e morte. E, no entanto, esse mistério não convencional tem sua própria lógica única e, com a ajuda de seus companheiros, Grin é capaz de deduzir as respostas para sua situação mais incomum. Este aclamado tesouro da ficção policial japonesa, disponível em inglês pela primeira vez, oferece aos leitores de todos os gostos um mistério emocionante e cheio de suspense como nenhum outro.

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Raul Sousa

Estudante de economia, pesquisador e colecionador de obras policiais. Nas horas vagas, joga jogos de detetive ou escreve.